Por um lado, o alto custo dos automóveis assusta. Por outro, há a promessa de uma considerável economia com combustível
Os números da indústria automotiva mostram que os carros elétricos e híbridos têm ganhado cada vez mais popularidade no Brasil, tanto no mercado de novos como no de usados. Em fevereiro de 2025, foram emplacados 16,2 mil veículos do tipo, uma alta de 63,4% em relação a fevereiro de 2024, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Também em fevereiro, foram vendidos 6,6 mil automóveis eletrificados, uma alta de 73,5% em relação ao mesmo mês do ano passado, de acordo com a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).
Mesmo com essa popularidade crescente, muita gente se pergunta se vale a pena comprar um veículo elétrico. Por um lado, o alto custo dos automóveis assusta. Por outro, há a promessa de uma considerável economia com combustível.
Quais tipos de carros elétricos existem?
Segundo especialistas, existem alguns fatores que o consumidor precisa levar em consideração. A começar pelo tipo do veículo. Embora a alcunha de “veículo elétrico” seja mais popular, a grande maioria dos veículos eletrificados que existe no Brasil trata-se, na verdade, de automóveis híbridos. E na categoria dos híbridos há ainda os “híbridos plug-in". Mas afinal, qual é a diferença?
- Híbridos
Os carros híbridos são os que têm o motor à combustão (ou seja, o “tradicional”, movido a combustíveis como gasolina e álcool) e também uma bateria elétrica. Juntos, eles fazem o carro funcionar. Esse funcionamento, no entanto, depende do tipo de veículo. Existem alguns em que a bateria é acionada automaticamente em alguns momentos da direção, como na partida ou na hora do estacionamento. Em outros casos, o motor e a bateria dividem a tarefa de fazer aquele carro andar. O que é importante, nesse caso, é que essa bateria não é recarregável.
“Esse tipo de veículo não necessita de recarga externa. Ele gera sua própria energia através da frenagem, do próprio motor à combustão e etc.”, afirma Ricardo Bastos, diretor de assuntos institucionais da montadora chinesa GWM.
Os tipos de híbridos também variam. Há aqueles modelos “de entrada”, que geralmente contam com baterias pequenas e sem muita autonomia elétrica, até aqueles com baterias mais encorpadas e mais autonomia. "O propósito dessas baterias é ajudar o carro a ser mais eficiente e consumir menos combustível”, afirma Bastos. Segundo as estimativas do especialista, esses veículos fazem com que o motorista gaste de 5% a 30% menos combustível por conta dessa “ajudinha” da bateria.
- Híbridos plug-in
Os chamados híbridos plug-in funcionam de forma bem semelhante, com a combinação do motor à combustão mais a bateria. A diferença, nesse caso, é que as baterias são recarregáveis, o que proporciona uma autonomia muito maior.
Em alguns tipos de veículos híbridos plug-in, há a possibilidade, por exemplo, de o motorista fazer viagens longas apenas usando a bateria.
“Há baterias que duram 30 km e outras que duram 170 km. E todos eles têm a possibilidade de plugar na tomada e carregar o veículo. Esse modelo hoje é o que mais cresce em vendas no Brasil", afirma Bastos.
- Elétricos
Por fim, os modelos puramente elétricos são aqueles que não contam com o motor à combustão. Portanto, todo o funcionamento dele é proveniente daquela bateria (na qual também há a possibilidade de carregamento).
Um ponto que precisa ser considerado, nesse caso, é o fato de o Brasil ainda não ter um parque de carregamento tão robusto, apesar de estar em constante crescimento.
Uma outra questão que alguns especialistas destacam é a alta desvalorização no preço dos usados. Há quem diga que isso é justificado pelo alto preço das baterias. Afinal, trata-se de um item que ao longo do tempo vai se “desgastando” e perdendo um pouco sua capacidade. Mas existem alguns tópicos que precisam ser desmistificados.
A bateria é ou não um problema?
Há quem compare as baterias dos carros com as dos smartphones (e, diga-se de passagem, não é raro encontrar celulares que, depois de poucos anos de uso, precisam ser carregados duas, três ou até mais vezes por dia). Nos carros, porém, isso é um pouco diferente.
Atualmente, os veículos eletrificados comercializados no Brasil costumam ter garantias de oito anos para os seus sistemas elétricos, o que inclui, portanto, a bateria. Mas isso não significa que depois desse período ela ficará ruim, precisará ser trocada ou exigirá muitas “cargas” por dia. Isso até pode acontecer. Como pode também não acontecer.
"Falamos que a bateria dura a vida útil do carro. É 15 anos? Pode ser dez, 15, 20, a vida toda. Assim como no motor a combustão, se você roda todo dia, vai usar mais, vai gastar mais", afirma Bastos, da GWM.
O professor Antônio Jorge Martins, coordenador dos cursos automotivos da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que essas baterias estão em constante evolução. Isso significa, portanto, que os carros elétricos fabricados há alguns anos têm tecnologias diferentes (e, naturalmente, menos rebuscadas) do que os atuais. O que pode justificar parte da desvalorização do preço desses veículos usados.
As baterias usadas atualmente são de íons ou gel de lítio. Em estruturas líquidas ou em gel, a movimentação desses íons acontece de forma mais lenta, o que diminui a capacidade de armazenar e liberar energia rapidamente. Isso sem falar na segurança, uma vez que líquidos e géis são inflamáveis.
Por isso, a indústria está em busca de desenvolver baterias de estado sólido, que permitirá a movimentação mais rápida dessas partículas, que se traduzirá em recargas mais rápidas, mais autonomia e, de quebra, ainda trará mais segurança a esses veículos.
“O que se fala hoje é que a partir de 2028, de 2029, já teremos uma bateria de estado sólido. E elas tendem a ser definitivas nos veículos elétricos. Hoje, se você compra um carro puramente elétrico, é possível que daqui a seis, sete anos essa bateria tenha perdido eficiência e precise até mesmo ser trocada” afirma.
Ainda assim, estudos recentes mostram que as baterias têm durado mais do que o esperado. Um levantamento feito pela consultoria britânica Nimble Fins avaliou o desempenho de unidades do Model S, veículo da Tesla, lançados entre 2013 e 2019, e concluiu que a bateria se deteriora, sim, ao longo do tempo. Mas menos do que se imagina. O levantamento mostrou que, após sete anos, as baterias dos carros tinham, em média 93% de sua capacidade.
O estudo ainda mostrou que, assim como o esperado, quanto mais quilômetros rodados tem o veículo, mais sua bateria é “desgastada”. Portanto, é possível encontrar carros mais antigos, mas com menos quilometragem rodada, que estejam com baterias mais saudáveis do que carros mais novos que rodaram muito.
Um outro ponto defendido pelas montadoras de veículos elétricos é o fato de a ausência de um motor a combustão culminar no carro com menos peças e sistemas móveis. "Um carro elétrico tem uma manutenção mais simples e menos custosa, e as revisões e manutenções são muito mais acessíveis", afirma Alexandre Baldy, vice-presidente sênior e diretor de marketing da BYD Auto Brasil.
Eles são muito mais caros do que os veículos com motor a combustão?
Quando o consumidor começa a avaliar se vale a pena ou não comprar um veículo elétrico ou híbrido, o preço dos automóveis é uma das primeiras coisas a ser avaliada. E, de fato, esses veículos têm preços elevados.
- O BYD Dolphin Mini foi o veículo eletrificado mais vendido do Brasil em 2024, com 21,9 mil unidades, segundo a ABVE. Seu preço atual gira em torno de R$ 118,8 mil. Mas, segundo dados da Mobiauto, plataforma de compra e venda de veículos usados, é possível encontrar um seminovo do modelo por cerca de R$ 111,1 mil.
Por tratar-se de um modelo compacto, é possível concluir que, sim, o preço é salgado.
Segundo a ABVE, o BYD Dolphin foi o segundo eletrificado mais vendido de 2024. Seu preço começa em R$ 149,8 mil. Em terceiro lugar, aparece o GWM Ora 03, que é negociado a partir de R$ 149 mil.
O eletrizado mais barato do mercado, por sua vez, é o Renault Kwid E-Tech, que é vendido a partir de R$ 99.990. Segundo o levantamento da Mobiauto, é possível encontrá-lo a R$ 77,9 mil.
Mas, considerando que o carro mais barato 0km negociado no Brasil em janeiro deste ano era o Citroën C3, com valores a partir de R$ 70.590, a diferença para um Renault Kwid E-Tech usado não é tão grande assim.
Os 10 veículos eletrificados usados mais baratos
Modelo | Preço |
Renault Kwid E-Tech | R$ 77.956,21 |
BYD Dolphin Mini | R$ 111.141,09 |
JAC e-JS1 | R$ 166.678,00 |
BYD Yuan Pro | R$ 177.439,43 |
Chevrolet Bolt EV | R$ 190.967,03 |
Chevrolet Bolt EUV | R$ 195.615,14 |
JAC e-JS4 | R$ 203.272,27 |
Volvo EX30 | R$ 251.633,68 |
JAC iEV330P | R$ 271.339,17 |
JAC e-HV5.5 | R$ 299.900,00 |
Mas e a economia de combustível compensa? E a conta de luz?
Para avaliar se a compra de um eletrificado vale a pena ou não, é preciso considerar o quanto aquele motorista vai economizar em combustível. Segundo o professor Martins, da FGV, os veículos com motor a combustão têm um consumo médio de 12 km a 15 km por litro de gasolina. Nos híbridos, esse consumo pode saltar para 25 km até 30 km por litro.
“O consumidor deve fazer o cálculo de quanto ele gasta de gasolina ao longo de cinco anos, por exemplo. Aí ele avalia quanto ele vai gastar em um eletrificado para ver se vale a pena fazer a troca”, afirma.
No caso dos híbridos plug-in é importante considerar que, caso o carregamento seja feito em casa, haverá, claro, um aumento da conta de luz. No entanto, os especialistas afirmam que o ideal não é comparar o “antes e depois” da conta de energia, mas sim a queda do gasto com combustível.
"Logo de cara o dia a dia do usuário de carro elétrico é afetado positivamente por conta de o preço da energia ser muito abaixo do preço do combustível. Isso faz com que seja bem mais barato recarregar um carro elétrico do que abastecer um modelo com motor a combustão, mesmo fazendo o carregamento em pontos de recarga pagos. Temos conhecimento de casos de motoristas de aplicativo que usam carros elétricos da BYD e conseguem economizar cerca de 80% no abastecimento na comparação com um carro a combustão, considerando o atual custo de kWh", afirma Baldy, da BYD.
Segundo especialistas, os custos dos postos de abastecimento pagos costumam girar em torno de R$ 0,80 a R$ 1,20 por kilowatt-hora (kWh). Considerando que a capacidade das baterias pode variar de 24 a 100 kWh, dependendo do veículo, o custo do abastecimento seria de R$ 19,2 a R$ 120.
Segundo dados da ABVE, existem hoje 14,8 mil eletropostos espalhados em todo o Brasil. Em dezembro de 2023, eles eram apenas 4,3 mil. O sudeste reúne 49,58% do total atual, seguido pelas regiões Sul (com 22,24%) e pelo Nordeste (com 18,08%).
É válido destacar, ainda, que existem postos de abastecimento gratuitos em estabelecimentos como shoppings, supermercados e farmácias. Além disso, algumas montadoras disponibilizam o carregamento gratuito em suas concessionárias. É o caso da BYD, que oferece o serviço gratuito em suas 165 concessionárias da marca espalhadas por todas as regiões brasileiras.
Há algum incentivo?
Se a sua ideia é comprar um elétrico pensando em algum incentivo como a isenção do IPVA, a notícia não é muito animadora. Apenas o Distrito Federal dá a isenção tanto para os elétricos quanto para os híbridos.
- Além do DF, Amapá, Alagoas, Amazonas, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo têm algum tipo de benefício, que muda de estado para estado. Em alguns casos, o incentivo é de isenção no primeiro ano, em outros, há um desconto da alíquota cobrada.
É importante destacar ainda que em alguns desses estados, a iniciativa é somente para os veículos 100% elétricos, como no Rio Grande do Sul. No Paraná, há isenção para carros movidos 100% a hidrogênio. Nos demais, não há isenções nem descontos para esses veículos.
“A legislação de IPVA é diferente de estado a estado. Em São Paulo, por exemplo, os veículos de até R$ 250 mil ficam isentos, mas se passar desse valor, tem que pagar. A lógica é que quem tem poder aquisitivo para arcar com um veículo acima desse valor, não tem problemas em arcar com o IPVA. Mas tudo muda de estado para estado”, afirma o professor Antônio Jorge Martins, da FGV. Por outro lado, os veículos eletrificados não participam do rodízio de placas em São Paulo.
Fonte: Valor Investe (06/04/2025)
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