quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Fundos de Pensão: Desafio para compensar o recuo das taxas de juros é elevar risco de aplicações em 2019


O ano de 2019 promete ser desafiador para os fundos de pensão, que precisam ampliar as alocações em investimentos de maior risco e rentabilidade para compensar o recuo das taxas de juros. A tarefa será especialmente difícil porque as taxas dos títulos públicos, mesmos dos mais longos, já não acompanham as metas atuariais, e o atual patamar de preços da bolsa de valores reduz a atratividade para realizar novos investimentos.

“Algumas fundações estão preocupadas. O mercado foi positivo em janeiro, mas o desempenho depende muito das reformas. Há receio porque o mercado é assimétrico: há pouco a ganhar e muito a perder”, diz o sócio da consultoria Aditus, Guilherme Benites.

Ainda é cedo para prever se o bom resultado vai permanecer ao longo de 2019, especialmente diante da ausência do investidor estrangeiro. “Qualquer dúvida sobre a capacidade do governo de articular as reformas corretas pode fazer com que o mercado recue”, pondera.

Em 2018, a mediana de rentabilidade das fundações foi 9,3% para os planos de benefício definido e de 8,02% para os de contribuição definida — ante meta de 8,77% (INPC mais 5,22%). Segundo o estudo da Aditus, apenas 39% dos planos superaram as metas atuariais, enquanto 61% ficaram abaixo.

A renda variável rendeu 15,6% e impulsionou o desempenho. Já a renda fixa, que responde por 90% da alocações dos planos da base da Aditus, subiu 8,44%. Os investimentos estruturados ganharam 5,44% e os no exterior, 2,64%. O levantamento é feito com os 113 clientes da consultoria, que totalizam cerca de R$ 195 bilhões.

Entidades como Fapes (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Funcesp (empresas elétricas de São Paulo) e Real Grandeza (Furnas) aumentaram suas aplicações em renda variável no final do ano passado, antecipando-se a este cenário.

A Real Grandeza viu os resultados positivos já em 2018. Depois de vender parte dos títulos de renda fixa, dobrou sua posição em renda variável, que passou a representar cerca de 12% das aplicações. O investimento foi feito no segundo semestre, a partir da definição do cenário eleitoral, segundo o presidente da fundação Sérgio Wilson Fontes. No total, a Real Grandeza alocou cerca de R$ 1 bilhão no setor. “A partir dali tivermos uma rentabilidade excepcional”, diz o executivo.

Com os resultados, o patrimônio do fundo de pensão dos funcionários de Furnas cresceu em R$ 1 bilhão e encerrou 2018 em R$ 16 bilhões. A valorização do plano de benefício definido foi de 12,5% ante meta atuarial da 9,3% (INPC mais 5,7%). Já o de contribuição definida teve ganhos de 11,3%, um pouco abaixo do objetivo de 11,7%. O resultado foi pressionado pela alta do IGP-DI, indexador de inflação fixado para definir a meta atuarial (IGP-DI mais 5%).

Na Funcesp, que também tem objetivo atrelado ao IGP-DI, o resultado consolidado dos planos foi de 13,96% ante meta atuarial de 15,03%, de acordo com o presidente do fundo de pensão, Walter Mendes. “O resultado absoluto foi muito bom. O problema de volatilidade do IGP-DI acabou pesando sobre a meta”, afirma. Considerando o resultado do biênio 2017 e 2018, o desempenho da fundação ficou 6 pontos percentuais acima do objetivo. A Funcesp administra atualmente 10 planos, de 15 diferentes patrocinadoras, e o patrimônio ao final do ano passado chegou a R$ 29,8 bilhões.

Entre julho e dezembro de 2018, o percentual de renda variável da fundação subiu de 8% para 17%, compreendendo R$ 2,6 bilhões entre compras e valorização. “O que podemos fazer de mais imediato é aumentar o peso em bolsa”, diz Mendes. Apesar da alta, para ele, a bolsa ainda não está cara, considerando o “valuation” das companhias em meio a um ambiente de baixa inflação e reduzido endividamento das empresas. Ele, no entanto, engrossa o coro de que tudo vai depender do andamento das reformas. Mas pelo menos por ora, novas alocações em bolsa ou fundos multimercado pela Funcesp serão pontuais.

Na Fapes, fundo de pensão dos funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a valorização do plano de benefício definido em 2018 foi de 12% ante meta de 10,5%. No ano passado, a fundação aumentou em R$ 600 milhões a alocação em fundos multimercados. Ao longo de 2019, a expectativa é sejam aplicados outros R$ 300 milhões, segundo o diretor de investimentos Victor Tito.

Na renda variável, que representa 20% da carteira, o plano é dobrar a participação de gestores externos, que devem ficar responsáveis por R$ 1 bilhão da Fapes. A entidade formou um comitê de investimentos ligado ao conselho deliberativo, com membros independentes. “Vai ajudar nossa governança ligada aos investimentos da fundação”, afirma o diretor.

No ano passado, a Fapes também iniciou a exposição em ativos no exterior, que também serve como proteção para seus investimentos. A alocação chegou a 3% da carteira — ante um objetivo de 10%, nível máximo permitido pela regulação.

“A posição que temos é em renda variável, vamos construir uma carteira bastante diversificada lá fora em outras classes de ativos. É uma diversificação muito interessante para nós. A Fapes tem alocação histórica mais alta em renda variável, e ao ficar exposta em câmbio faz sentido, deixa a carteira mais eficiente”, diz Tito.

Fonte: Valor (06/02/2019)

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