quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Fundos de Pensão: A longevidade e o risco que provoca na previdência complementar fechada


O objetivo principal da previdência complementar é proporcionar uma renda de aposentadoria, de acordo com o contrato firmado entre o participante e a entidade aberta ou fechada, também conhecida como fundo de pensão.
A relação contratual deve ser orientada para o longo prazo, baseando-se no regime financeiro de capitalização, considerado o mais eficiente para o custeio previdenciário. Todo mês o plano recebe os aportes financeiros que são investidos e, assim, vão acumulando reservas para pagar a aposentadoria no futuro.  

Tudo funcionaria muito bem se a rentabilidade dos investimentos fosse superior aos compromissos atuariais, admitindo-se um ou outro insucesso devido a questões conjunturais. O fato preocupante é que a instabilidade conjuntural passou a ser uma ameaça permanente.

Esse cenário poderá frustrar as expectativas de milhões de participantes que pouparam por muito tempo da vida laborativa e que podem ficar desapontados ao perceber que a renda de aposentadoria está abaixo da esperada.  

As mudanças demográficas são os fatores que mais colaboram para o desequilíbrio dos planos de aposentadoria, e o mais incrível é que atuam no sentido oposto.  

Pelo lado das obrigações, o resultado é direto; a longevidade é o principal fator de risco financeiro do passivo e isso acontece porque a expectativa de vida durante a aposentadoria passou a superar a prevista. A sobrevida, como é tecnicamente conhecida, tem representado um custo financeiro crescente e a perspectiva de reversão é baixa.  Pelo lado dos investimentos, o impacto é indireto, mas não menos preocupante. Liderados pela longevidade, os fatores demográficos contribuem para o declínio da taxa de juro real da economia, que afeta os rendimentos da renda fixa, que diminui a rentabilidade do patrimônio dos planos.  

Como se observa, o ponto de partida na cadeia de eventos é a hipótese de queda secular das taxas de juro, um fenômeno macroeconômico da sociedade contemporânea.  Esse cenário tem sido nítido nos países desenvolvidos e, aos poucos, vai tomando corpo também nos emergentes. No Brasil, o efeito da demografia no declínio do juro real ainda requer análises mais aprofundadas, mas é bem plausível que a integração com o mercado financeiro internacional esteja atuando nesse sentido. A influência vinda de fora tem favorecido e deslocado a curva interna de juros para baixo.  

A previdência complementar é uma forma de planejamento de longo prazo voltado para uma aposentadoria com padrão de vida confortável. Contar somente com essa fonte de renda no futuro deve ser objeto de uma boa reflexão e, nesse sentido, os programas de educação financeira e previdenciária podem ser de grande utilidade, em especial nos fundos de pensão que, tradicionalmente, possuem estreita relação com a sua comunidade.  

Simulações indicam que o participante de um plano quase todo aplicado em renda fixa terá que elevar as contribuições nos próximos anos, caso queira receber a renda real de aposentadoria no valor planejado. Em alguns casos, o aumento poderá chegar a 20%, sem incluir as taxas de administração, que tendem a ser maiores nas entidades abertas porque têm fins lucrativos.  

Para escapar do aumento das contribuições, a rentabilidade terá que ser maior, pois é a alternativa para enfrentar o custo financeiro crescente da longevidade. A visão tradicional de concentrar em renda fixa dificilmente vai gerar o retorno necessário, ao passo que diversificar para opções mais arriscadas exige uma gestão preparada, especializada e comparativamente vantajosa para o participante.  

Esse cenário revela que a estratégia vencedora será, cada vez mais, de alta qualificação profissional, em que os fracos não têm vez. Pode parecer uma mensagem dura, mas talvez necessária diante do que está acontecendo na relação entre a demografia e a taxa de rentabilidade dos investimentos que impacta diretamente os planos de previdência complementar.

Fonte: Valor (28/02/2019)

Nota da Redação: Os participantes ativos da Sistel devem considerar a mensagem acima, pois a renda fixa é a quase totalidade dos investimentos efetuados em seus planos. 

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