segunda-feira, 5 de agosto de 2019

INSS: Reforma na aposentadoria vai exigir mais recurso de poupador em previdência privada



Com a provável aprovação das mudanças na Previdência Social, os investimentos em planos complementares dispararam, mas fundos terão desafio adicional de buscar rentabilidade em um cenário de juros baixos

Com a expectativa cada vez maior de que a reforma da Previdência seja aprovada, a procura por fundos de aposentadorias complementares vem crescendo significativamente. Pesquisa da Economática mostra que o patrimônio líquido de 33 gestoras que oferecem planos privados cresceu R$ 363 bilhões entre 2016 e junho de 2019. Nos últimos 12 anos, o valor investido nesses fundos passou de R$ 94 bilhões para R$ 852 bilhões, uma alta de mais de 800%. No entanto, a queda na taxa básica de juros (Selic), hoje em 6% ao ano, vai exigir uma gestão extremamente profissional para que os planos consigam atingir a meta atuarial, necessária para garantir um futuro melhor aos poupadores.

“As pessoas começaram a entender a grande pirâmide que é a Previdência e estão ficando preocupadas. Pensando na estabilidade, abriram os olhos para uma aposentadoria complementar que não dependa de qualquer tipo de mudança promovida pelo governo. Houve uma conscientização de que a Previdência Social é deficitária e precisa de vários outros impostos, não sendo composta só pelas contribuições, sem sustentabilidade dentro do próprio sistema”, diz o consultor da Rio Claro Investimentos, Victor Gonzales.

O sistema de aposentadoria privada funciona como previdência complementar. É um benefício opcional, que fornece uma renda extra para o segurado após a saída do mercado de trabalho, proporcional à sua contribuição. Nos fundos privados, é possível escolher o valor da contribuição, a periodicidade dos pagamentos e o valor investido pode ser resgatado a qualquer momento. Há dois tipos de fundos complementares: o Plano Gerador de Benefício Definido (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). O primeiro é recomendado para quem faz a declaração completa do Imposto de Renda (IR), pois permite abater as aplicações diretamente da declaração anual do IR no limite de 12% da renda bruta do trabalhador. Já o VGBL é indicado para quem prefere a versão simplificada na prestação de contas com o Leão. No PGBL, quando o dinheiro é sacado, o IR incide sobre o total. No VGBL, o imposto é cobrado sobre os ganhos acumulados no período da aplicação.

A servidora pública Julia Almeida, 29 anos, começou a investir em um fundo privado de previdência recentemente. “Com a reforma em pauta, comecei a pensar mais sobre meu futuro e minha aposentadoria, então, fui pesquisar sobre previdência privada e optei por contratar um plano mais simples, oferecido pelo meu banco”, conta. “Com as mudanças previstas, as aposentadorias vão ficar todas no mesmo valor, no teto do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). Como os servidores públicos costumam receber um valor maior, me preocupei em manter, durante a aposentadoria, a qualidade e o padrão de vida que já tenho”, justifica.

“Gosto desse tipo de investimento, principalmente porque a contribuição que eu faço é menor do que a da Previdência Social, fica em torno de R$ 250 por mês. Além disso, no sistema público, falta clareza para o servidor sobre as regras e como a sua contribuição vai retornar para você no futuro. Na privada, a gente tem mais facilidade de encontrar informações”, acrescenta Julia, que optou por um plano no modelo VGBL. Hoje, ela acredita que o Plano Gerador de Benefício Definido teria sido melhor para suas necessidades.

Para o economista Renato Follador, especialista em Previdência, todos que estarão recebendo acima de R$ 3 mil no fim da carreira devem procurar um fundo privado de aposentadoria. “A grande diferença da Previdência Social para a privada está nos juros. Se você fizer as contas, depois de 35 anos de investimentos em um fundo complementar, 5% da sua poupança previdenciária na hora da aposentadoria será incentivo tributário do governo, 26% será o dinheiro que saiu do seu bolso para contribuição e 69%, juros do mercado financeiro”, afirma o especialista. “Essa é a grande vantagem da previdência complementar.”

Porém, o economista explica que, ao contratar um plano de previdência privada, é importante se preocupar com a solidez da instituição que o oferece e com a taxa de administração. “Se você faz um plano para se aposentar em 35 anos, a instituição contratada tem que existir até lá. Além disso, quanto menor a taxa de administração, maior será a sua aposentadoria. Nessa taxa, você tem três perfis de investimento: agressivo, moderado e conservador. No primeiro, ter até 2,5% de taxa de administração é aceitável. Já no moderado e no conservador, 1,5% e 1% são taxas aceitáveis, respectivamente”, esclarece Follador.

Lyndon Johnson Vieira, 51, é funcionário da Caixa Econômica Federal e usa o plano complementar do próprio banco desde 1990. “É vantajoso para mim, porque não segue as mesmas regras da Previdência Social, e eu posso acabar me aposentando com uma renda superior à do meu cargo atual, desde que contribua para isso”, conta. “Para mim, é mais uma segurança para o futuro além da previdência que já tinha.”

Há quem não recomende a adesão à previdência privada. Para o educador e terapeuta financeiro Jônatas Bueno, o fundo pode não valer a pena. “Os fundos disponíveis são ultrapassados, só funcionam se houver o acúmulo de uma boa poupança no período, além de ter penalidades para quem retirar antes. Para o sistema financeiro, é interessante, porque é um dinheiro que vai ficar lá, enquanto, para o investidor, só serve mesmo para a aposentadoria. Em casos de doença grave ou situação familiar de emergência, o recurso não está disponível e, eventualmente, o investidor pode precisar fazer empréstimo”, diz.

Bueno acredita que uma carteira de investimentos diversificada é o melhor caminho para obter  maior rentabilidade, sobretudo para quem pensa a longo prazo. “A melhor forma de atingir uma velhice tranquila é acumulando patrimônio. Quando investe por conta própria de maneira diversificada em vários ativos, o poupador diminui o risco de perda. Com planejamento e seleção de investimentos feita com critério, de acordo com o perfil da pessoa, o retorno é bem melhor do que nos fundos da previdência privada”, avalia.

Meta distante 
Todo o cuidado será pouco, pois o Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros (Selic) para 6% ao ano, o menor patamar desde início do regime de metas de inflação. E ainda há espaço para mais cortes. A medida, no entanto, deve prejudicar os fundos de previdência de servidores públicos, além de colocar a gestão dos fundos privados em risco, segundo o economista Renato Follador. “Todos os fundos terão o desafio adicional de buscar rentabilidade maior em um cenário de juros muito baixos”, explica.

“Os fundos de pensão têm uma meta atuarial definida ao redor de 5%. Quanto menor as taxas de juros que conseguirem, menor será a poupança previdenciária e menor o complemento da aposentadoria”, esclarece o economista. Para ele, vai ser preciso uma gestão “extremamente profissional” sobre esse tipo de previdência, para que os fundos consigam atingir seus objetivos.

“A tendência é de que os juros caiam mais ainda, o que aumenta a responsabilidade dos gestores dos fundos. Todos terão que tomar mais riscos, e isso significa aplicar em ações, em fundos multimercado, em outros ativos”, sustenta. “O caminho é a previdência privada, mas a gestão vai ficar mais complexa, porque os fundos deixarão de aplicar em títulos públicos”, afirma Follador. Segundo o especialista, a Bolsa de Valores é um ótima opção em 2019. “O que deixar de ganhar tanto com títulos públicos, ganhará no mercado de ações”, aposta.

Selic
No mercado, a expectativa é de que, caso a inflação se mantenha comportada, abaixo do centro da meta, e a atividade econômica não reaja, mesmo com a queda de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros na última semana, a Selic termine 2019 em 5% ao ano. 

Demanda em alta 
A expectativa de mudanças nas aposentadorias e pensões aumentou a procura por planos de previdência privada

Patrimônio líquido
Confira a evolução dos fundos de Previdência (em R$ bilhões)
2007 - 94
2008 - 111
2009 - 149
2010 - 186
2011 - 229
2012 - 290
2013 - 329
2014 - 398
2015 - 489
2016 - 612
2017 - 720
2018 - 769
2019(até 30 de junho) - 852

Número de gestores interessados em gerir planos privados crescem nos últimos anos, segundo estudo da Economática:
2007 - 45
2008 - 49
2009 - 58
2010 - 67
2011 - 72
2012 - 74
2013 - 85
2014 - 86
2015 - 89
2016 - 91
2017 - 100
2018 - 116
2019 - 124

Tipos de Previdência Privada
Há dois tipos de fundos complementares abertos: o Plano Gerador de Benefício Definido (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). Conheça as principais diferenças entre os dois:

PGBL

. Permite abater as aplicações diretamente da declaração anual completa do Imposto de Renda (IR)
. Indicado para quem faz declaração completa do IR
. Não permite contribuições acima de 12% da renda bruta anual do investidor
. A incidência do Imposto de Renda é sobre todo o montante acumulado. Ou seja, haverá incidência do IR sobre o valor total de resgate ou sobre o valor da renda recebida na aposentadoria
. Não garante remuneração fixa, dependendo dos rendimentos do fundo

VGBL

. Não permite abater aplicações do plano no IR
. Indicado para quem faz a declaração simples do IR
. Permite contribuições em valores acima de 12% da renda bruta
. O IR incidirá apenas sobre os rendimentos do plano, e não sobre o total acumulado
. Não garante remuneração fixa, dependendo dos rendimentos do fundo

Há também os fundos complementares fechados, também chamados de fundos de pensão.

Fonte: Correio Braziliense (05/08/2019)

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