Avaliamos os cenários em que a modalidade é recomendada e aqueles em que ela deve ser evitada
O saque-aniversário do FGTS, nova modalidade anunciada pelo governo, começa a valer a partir de 2020. Mas apesar de deixar o trabalhador tirar uma fatia do dinheiro do fundo a cada ano, ele elimina a possibilidade de saque do valor integral em caso de demissão sem justa causa.
A decisão de migrar ou não cabe somente ao trabalhador e deve ser informada à Caixa. Se a opção for pelo saque-aniversário, você poderá retirar o dinheiro a partir do mês de nascimento até os dois meses seguintes. São três meses por ano para fazer o saque. Do contrário, os recursos só poderão ser retirados em casos de demissão, doença grave ou em gastos com habitação. Entenda melhor as novas regras de saque aqui.
Vale lembrar que essa decisão não altera em nada a possibilidade de tirar os R$ 500 do saque imediato, que será liberado entre setembro de 2019 e março de 2020. Confira o calendário.
Mas, num cenário de desemprego ainda a 12% e incertezas na economia, o que o trabalhador deve fazer? A decisão deve ser avaliada caso a caso. Tanto o saque tradicional como o saque-aniversário têm suas vantagens e desvantagens. A planejadora financeira Luciana Ikedo e o consultor financeiro Valter Police avaliam em quais cenários o saque-aniversário é recomendado.
Quem é você na dança do FGTS?
Qual a sua situação? | Saque-aniversário | Saque-rescisão |
1. Tenho dinheiro de reserva de emergência, além de outros investimentos e não vou precisar do saldo total do FGTS para sobreviver em caso de demissão | Melhor opção | |
2. Tenho uma pequena reserva que, somado à multa de 40% do saldo do FGTS, consegue me sustentar por pelo menos seis meses até conseguir um empregos | Melhor opção | |
3. Tenho dívidas, estou pagando juros. Mas acho que o dinheiro do saque-aniversário me ajudaria a quitá-las e começar minha reserva de emergência para o caso de demissão | Melhor opção | |
4. Tenho pouco tempo de mercado formal, portanto um saldo baixo para saque | Melhor opção | |
5. Tenho um saldo razoável no FGTS. Não tenho dívidas e nem reserva de emergência. Penso em gastar essa graninha com um mimo todos os anos. Não quero investir esse dinheiro do saque aniversário | Melhor opção | |
6. Tenho uma reserva de emergência, mas é pequena e somada à multa de 40%, esse dinheiro não seria o suficiente para me sustentar por pelo menos 6 meses | Depende | Depende |
7. Tenho um saldo razoável nas contas do FGTS. Mas nunca consigo juntar dinheiro. Tenho dificuldade de sair com o saldo positivo todo mês. | Melhor opção | |
8. Tenho dívidas no cartão de crédito e cheque especial | Melhor opção | |
9. Tenho dívidas a juros mais baixos (consignado, financiamentos), mas tenho reserva de emergência | Melhor opção | |
10. Tenho dívidas a juros mais baixos (consignado, financiamentos) e não tenho reserva de emergência | Melhor opção |
"Sim" para o saque-aniversário
1. Tenho dinheiro de reserva de emergência, além de outros investimentos e não vou precisar do saldo total do FGTS para sobreviver em caso de demissão
"A pessoa já está preparada para os momentos difíceis, como uma demissão. Não precisa acessar a reserva do FGTS. Pessoas organizadas com reserva de emergência já estão habituadas a poupar e já investem bem os recursos. Elas terão possibilidade de rentabilidade melhor em outras aplicações do que no FGTS", diz Luciana.
2. Tenho uma pequena reserva que, somado à multa de 40% do saldo do FGTS, consegue me sustentar por pelo menos seis meses até conseguir um emprego
"Também é interessante optar pelo saque-aniversário porque o investidor vai conseguir se manter na adversidade, mas também conseguirá aumentar suas reservas com os recursos do saque-aniversário", avalia Luciana.
3. Tenho dívidas, estou pagando juros. Mas acho que o dinheiro do saque-aniversário me ajudaria a quitá-las e começar minha reserva de emergência para o caso de demissão
"Com saque-aniversário, a pessoa endividada consegue se organizar, reduzir dívidas caras e dar início para reserva de emergência para o caso de uma demissão. Lembrando que a reserva pode ser usada em outras situações, não só na demissão. Pode ser uma ajuda para as finanças pessoais para que a pessoa consiga seguir de forma mais estruturada a partir de então", diz.
O saque-aniversário também poderá ser usado como garantia de empréstimo e, portanto, ser uma arma na renegociação de dívidas, para tentar taxas mais amigáveis na hora de pagar o crédito.
4. Tenho pouco tempo de mercado formal, portanto um saldo baixo para saque
"O saque-aniversário pode trazer resultados melhores a longo prazo do que se deixar o dinheiro no FGTS", explica Luciana.
Além do mais, o saldo do FGTS muito baixo seria pequeno demais para realmente fazer diferença diante de uma demissão. O ideal é que o saque-aniversário seja dedicado a formar uma reserva de emergência.
Apesar das mudanças na rentabilidade do FGTS, o que tornaram um pouco mais interessante, ainda há aplicações mais vantajosas de renda fixa.
5. Tenho dívidas a juros mais baixos (consignado, financiamentos), mas tenho reserva de emergência
"Existem dívidas baratas, a longo prazo, bem estruturadas que podem agir até positivamente na estruturação do capital próprio. O que precisa ser avaliado é se essa pessoa tem ou não a reserva de emergência, que será o diferencial em momentos adversos", aponta.
Algumas dívidas são financiadas por serem de valor muito alto, como casa ou carro. Nesses casos, vale a pena ter o saque-aniversário para engordar a reserva de emergência e manter em dia parcelas que já cabem no orçamento.
6. Tenho dívidas no cartão de crédito e cheque especial.
"Quando a pessoa tem dívida de cartão de crédito e cheque especial, que são os rotativos, sem garantias, os mais caros que existem, ela precisa urgentemente equilibrar o orçamento para que o custo da dívida não a mate financeiramente. O saque-aniversário pode ser uma ótima opção para que ela equilibre isso. O ideal era que ela tivesse o comprometimento de equilibrar as contas. Depois de quitadas as dívidas, esse valor do saque-aniversário deve ser usado para constituir uma reserva de emergência", diz Luciana.
"Não" para o saque-aniversário
7. Tenho um saldo razoável no FGTS. Não tenho dívidas e nem reserva de emergência. Penso em gastar essa graninha com um mimo todos os anos. Não quero investir esse dinheiro do saque aniversário
"É a situação mais perigosa. É uma pessoa que não tem a disciplina do investidor. O grande risco é que ela não irá construir a reserva de emergência e poderá ter um grande problema em caso de demissão. Porque não terá o dinheiro do FGTS, nem a reserva de emergência. É o maior receio quando a gente fala de saque-aniversário", diz planejadora Luciana.
Neste caso, talvez o melhor seja deixar que o governo cuide do dinheiro por você até que se encontre num momento de necessidade. A rentabilidade deverá se assemelhar à da poupança e o dinheiro estará disponível em caso de demissão.
8. Tenho dívidas a juros mais baixos (consignado, financiamentos) e não tenho reserva de emergência
Se as parcelas já limitam o orçamento e tornam difícil construir uma reserva de emergência pode ser interessante manter o dinheiro no FGTS até que haja uma mudança de cenário ou melhora na renda familiar. O dinheiro do FGTS em caso de demissão pode ser usado para manter as parcelas em dia e evitar se enrolar enquanto busca recolocação no mercado.
9. Tenho um saldo razoável nas contas do FGTS. Mas nunca consigo juntar dinheiro. Tenho dificuldade de sair com o saldo positivo todo mês
"Se a pessoa tem dificuldade de sair com o saldo positivo todos os meses, realmente é um risco que o recurso do saque-aniversário se incorpore à renda. E o saldo que é até razoável vai sendo consumido no "saque-aniversário" e pode comprometer uma fase complicada da carreira", afirma Luciana.
Um caso especial
10. Tenho uma reserva de emergência, mas é pequena e somada à multa de 40%, esse dinheiro não seria o suficiente para me sustentar por pelo menos 6 meses
"Às vezes, quando a pessoa que tem uma reserva pequena também pode representar a falta de disciplina pra formar a própria reserva e enfrentar um momento de dificuldade. Se for esse o caso, não faz sentido o saque-aniversário, porque ela corre o risco de consumir integralmente o valor e não terá reserva de emergência para o período crítico. Se não for esse o caso e a pessoa tiver alguma disciplina, vale a pena avaliar com mais cuidado e até optar pelo saque-aniversário", afirma Luciana.
Há casos no entanto, em que o tempo no novo emprego poderá ser o suficiente para formar uma reserva boa, suficiente para sustentar o trabalhador por pelo menos seis meses em caso de demissão.
O consultor financeiro Valter Politice, da Fiduc, empresa de gestão de patrimônio e educação financeira, explica que se os 40% da multa do FGTS e a reserva forem suficientes para segurar as contas no tempo de recolocação no mercado, o saque-aniversário já vale a pena.
A multa de 40% do valor da conta mais recente vale para todos os trabalhadores, independentemente de terem optado pelo saque-aniversário ou terem ficado no saque-rescisão.
Fonte: Valor Investe (06/08/2019)
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