quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Meu bolso: Juro no menor patamar da história: onde investir agora aquela sobra?



Bom para estimular a economia, Selic mais baixa é empurrão a mais para quem está parado em investimentos de renda fixa conservadores

A Selic, taxa básica de juros que é usada como referência para diversas aplicações em renda fixa, desceu mais um degrau e renovou sua mínima histórica.

Ontem (31), o Comitê de Política Monetária do Banco Central cortou a Selic de 6,5%, patamar em que estava desde março de 2018, para 6% ao ano.

Bom para estimular a economia, mas um "empurrão" a mais para quem está parado confortavelmente em investimentos de renda fixa como títulos do Tesouro Direto e CDBs.

Foi-se - e há muito tempo - a época em que era possível ter ganhos de 1% ao mês sem correr riscos. Lá em meados de 2015 e 2016, quando a Selic bateu em 14,25% ao ano, o Tesouro Selic e CDBs de 100% do CDI ofereciam esse retorno tranquilamente.

Com o cenário de juros cada vez mais baixos não só aqui, mas no mundo todo, o investidor precisa dedicar um pouco mais de tempo estudando as aplicações para escolher a mais adequada ao seu perfil - e molhar um pouquinho os pés no mar de volatilidade e risco.

Com o mercado financeiro extremamente sensível ao cenário político, é preciso ter estratégia, objetivos e prazos bem claros dos recursos aplicados para evitar cometer erros, conta Paula Sauer, economista e planejadora financeira.

A menor rentabilidade dos títulos de renda fixa não é motivo para se assustar e sair se desfazendo de todos os ativos que você tem. Mas vale a pena dar maior atenção para as próximas aplicações.

"A visão atual é de que o investidor precisa tomar risco, sem necessariamente trocar o tipo de investimento. Venho observando que os investidores estão pulverizando seus aportes na plataforma de investimentos há uns 4 ou 5 anos e isso deve se intensificar", diz Gabriel Sjlender, gerente de renda fixa na Guide Investimentos.
Sjlender conta que, antes, os investidores de renda fixa distribuíam suas aplicações entre 5 a 10 emissores bancários (CDBs, LCIs e LCAs) em "pacotes" máximos de até R$ 250 mil por corretora para se manterem sob a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), uma espécie de “seguro contra calotes” que alguns ativos de renda fixa possuem.
Sem sair dos títulos de renda fixa, o especialista diz que a saída é se arriscar um pouco mais em produtos que não são garantidos pelo FGC, mas proporcionam uma rentabilidade um pouco maior, como debêntures incentivadas, CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis Agrícolas).

"Uma parcela super relevante dos investidores já tem 40% das carteiras alocadas nesse tipo de investimento", diz Sjlender.

Livres de impostos
Diferentemente do que acontece nos títulos do Tesouro Direto e nos CDBs, os CRIs, os CRAs e as debêntures incentivadas não pagam qualquer tipo de imposto.

Nem imposto de renda e nem IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Quais os riscos envolvidos?
Por se tratar de crédito privado — ou seja, os devedores são empresas e não o governo —, o risco de investir em debêntures, CRIs e CRAs é maior do que no Tesouro Direto, por exemplo.

É por isso que esses títulos costumam pagar ao investidor juros superiores aos dos títulos públicos, que têm o risco do governo que, em tese, é menor do que qualquer tipo de risco privado.

"Se a taxa básica do mercado incomoda o investidor que espera mais desse investimento, não tem mágica: ou aumenta a posição em ativos que possuem maior risco de crédito, ou de liquidez. Não tem almoço grátis", afirma Paula Sauer.

Os riscos também são maiores do que nas aplicações em CDBs, LCIs e LCAs, que contam com a proteção do FGC.
Traduzindo: se a empresa tiver dificuldades financeiras, você corre o risco de perder uma parte ou até toda a sua aplicação.
Portanto, sempre analise detalhadamente a história e a situação financeira da empresa, antes de colocar um centavo sequer em seus papéis.

De olho nesse risco, é comum que agências de classificação de risco de relevância internacional, como Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s, atribuam uma nota para as debêntures e os títulos de CRIs e CRAs.

Essa nota busca apontar as chances de a empresa que emite o título dar ou não o calote no investidor.

"Tem empresas super sólidas no mercado. Temos visto captações milionárias de empresas com rating AAA [nota máxima]", destaca Sjlender.

É aconselhável que você observe qual é a nota de crédito do título do seu interesse e se vale a pena investir nele.

É importante lembrar que essa nota pode mudar ao longo do período de aplicação e que ela não representa uma verdade absoluta de que nunca ocorrerá com aquela empresa algo que não estava no script.

É aí que a situação pode começar a ficar um pouco mais complicada para o investidor com pouca experiência.

"Para o investidor pessoa física escolher sozinho é um pouco mais complicado", reconhece Sjlender.

Os fundos de debêntures incentivadas podem suprir essa lacuna de conhecimento e experiência do investidor, que terceiriza a escolha dos ativos e também não paga imposto de renda.
"O investidor que não tem nenhuma bagagem de análise de crédito, nenhum assessor de investimentos com 'expertise' que ele se sinta mais confortável para ajudar, os fundos de debêntures incentivadas é a forma de buscar rentabilidade com isenção de imposto", diz Sjlender.
Aqui cabem dois alertas: cuidado com a taxa de administração, que pode corroer sua rentabilidade, e dê preferência para fundos que usem o IMA-B como índice de referência se quiser maximizar o potencial de rendimento - mas eles são mais voláteis.

Alguns desses fundos de debêntures incentivadas usam mecanismos de proteção que permitem usar o CDI como índice de referência. Ele vai chacoalhar menos, mas o rendimento também será menor.

"Uma carteira bem diversificada pode parecer clichê, mas ainda é a melhor maneira de se maximizar a rentabilidade e minimizar os riscos", afirma Sauer, que vê boas opções em fundos imobiliários e multimercados para quem quer mais do que colocar um pezinho nos riscos.

Fonte: Valor Investe (01/08/2019)

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