Envelhecimento populacional e incertezas econômicas põem em xeque a organização financeira para essa fase da vida
Um grupo expressivo dos brasileiros (49%) ativos no mercado de trabalho acredita que a poupança vai garantir sua aposentadoria. Outra parte menor, de 21%, aposta que será possível viver com o benefício pago pelo INSS, e os 30% restantes se dividem entre juntar parte dos lucros de negócios próprios, investir em planos de previdência privada e em viver da renda com a locação de imóveis próprios. As conclusões são do levantamento ‘Risco de Longevidade’ da plataforma de planejamento financeiro Super Rico.
Apesar de uma parte significativa dos brasileiros ter uma estratégia financeira baseada nas próprias economias, 79% têm de "nenhuma a razoável confiança" em usufruir de uma aposentadoria confortável em termos de grana.
A razão por trás dessa insegurança sobre o futuro financeiro é que apenas 12% disseram saber exatamente quanto precisariam poupar para assegurar uma boa vida futura, índice pelo menos 37 pontos percentuais abaixo do grupo que disse se garantir apenas na poupança.
A maioria dos entrevistados (63%) tem apenas uma ideia vaga do valor que precisa para a aposentadoria, e 25% não fazem ideia de quanto devem usar no período de afastamento definitivo do trabalho.
De acordo com estudo do Banco Mundial citado pela Super Rico, apenas 1% da população brasileira consegue acumular dinheiro suficiente para ter uma aposentadoria digna. Considerados, por outro lado, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o aumento da expectativa de vida no Brasil, de em média 77 anos, a sociedade vem passando por uma profunda transição.
Somam-se a esse cenário dois fatores relativamente novos do ponto de vista da população: as dúvidas sobre a sustentabilidade da Previdência e o encarecimento dos serviços destinados à população mais velha.
Sem clareza sobre as finanças e tendo a inflação como única certeza nesse futuro, para a maior parte dos brasileiros, existem dois destinos: a perda de renda; ou a aposentadoria parcial, quando o trabalhador do setor privado, mesmo em idade de aposentar, continua na ativa para complementar os ganhos.
Perda de renda
Carlos Castro, CEO (diretor-presidente) da Super Rico, chama a atenção para o fato que, de acordo com o levantamento, o receio de não ter dinheiro para a aposentadoria independe da renda do entrevistado. "Considerando aqueles que ganham mais de dez salários mínimos, a preocupação de não ter capital [para a aposentadoria] atinge a marca dos 62% e, no outro extremo, entre os que ganham até dois salários-mínimos, o receio atinge 68%”, diz.
A segunda constatação da Super Rico é que o número de brasileiros preocupados com o planejamento financeiro de longo prazo cresceu após a última reforma da Previdência Social em 2019, no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Uma das principais mudanças da reforma foi a base de cálculo da aposentadoria paga pelo governo, que afetou a renda de aposentados após a mudança na legislação. Em geral, o patamar de benefícios caiu com as mudanças na base de cálculo do INSS.
- Antes da reforma: média salarial considerando os 80% maiores salários de contribuição desde julho de 1994.
- Depois da reforma: média de todos os salários multiplicada por 0,6 (redutor de 60%) + 2% por ano de contribuição que exceder 20 anos, para os homens, ou que exceder 15 anos para as mulheres.
Um dos efeitos do envelhecimento populacional, acompanhado da deterioração da renda nessa fase da vida, é que, para a maior parte da população, a ideia de aposentadoria como a entendíamos - da pessoa afastada do mercado de trabalho - deixou de existir.
Um estudo de 2021 do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com dados do IBGE indicou que 23% da população com 60 anos ou mais continua trabalhando no Brasil.
Mudança de estratégia - ou não?
A organização financeira dá o tom das perspectivas para a aposentadoria. Entre os entrevistados pela Super Rico que já são investidores, 32% se preocupam com a sua situação econômica nessa fase da vida, enquanto entre os endividados, 82% estão receosos com a deterioração da renda.
Com os alertas e incertezas sobre esse futuro, uma parte de brasileiros ainda ativos no mercado de trabalho tem mudado o planejamento financeiro para a aposentadoria. Segundo a Super Rico, a procura por informações sobre planos de previdência privada aumentou junto com os investimentos de pessoas físicas nesse tipo de veículo, que subiram mais de 35% no ano na plataforma.
Como um todo, a captação no mercado de previdência privada no país avançou 14% até outubro do ano passado contra o mesmo período de 2021, para R$ 129,7 bilhões, segundo o último relatório da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida.
Ou talvez essa mudança seja mais lenta (e de menor impacto) que parece. De acordo com o último estudo "Raio-x do investidor" da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 33% dos brasileiros entre 26 e 60 anos investem em produtos financeiros, o maior percentual de todas as faixas etárias. Dentro deste grupo, 2% alocam em planos de previdência privada.
Chama a atenção ainda que 4% dos millennials (entre 26 e 40 anos) tenha aportado em fundos de investimentos e títulos privados, e 3% invistam em títulos públicos. Embora os números pareçam baixos, é o maior percentual entre os públicos.
Os mais jovens incluídos no levantamento da Anbima, entre 16 e 25 anos (geração Z), por sua vez, não indicaram ter nenhum investimento em planos de previdência privada, embora 2% aloquem em títulos públicos e privados e 4%, em fundos de investimentos.
Surpreende que essa geração é a que mais guarda dinheiro consigo, em casa e no colchão - um grupo de 5% na geração Z, o maior comparando com todas as faixas etárias. Entre pessoas de 61 a 75 anos, no entanto, ninguém adota essa prática, de acordo com a Anbima.
E aqueles que investem tendo como prioridade usar esse capital na velhice, como aposentadoria ou complemento de renda na aposentadoria se dividem da seguinte forma, por faixa etária:
- 5% dos investidores entre 16 e 25 anos;
- 7% daqueles entre 26 e 40 anos;
- 9% dos que têm entre 41 e 60 anos;
- 8% das pessoas entre 61 e 75 anos;
- 17% dos que têm 76 anos ou mais.
Quem sabe o envelhecimento só se torne um problema quando começamos a vislumbrá-lo.
Fonte: Valor Investe (13/01/2023)
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