quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Meu Bolso: Com queda da Selic, renda fixa atrelada à inflação e bolsa se destacam



Ações se recuperam e Ibovespa registra valorização de 3,57% no mês de setembro

Com queda da Selic, renda fixa atrelada à inflação e bolsa se destacaram em setembro

Setembro termina como a imagem oposta de agosto no terreno dos investimentos. O último mês do terceiro trimestre trouxe uma retomada da aposta no risco, com a bolsa no topo do ranking dos ganhos, mas seguida de perto pelos títulos prefixados e papéis atrelados à inflação.

Se em agosto a tônica foi a busca por proteção, o que levou ativos de proteção como o ouro a uma elevação de quase 18% e a moeda americana a ficar perto dos dois dígitos de valorização, em setembro o metal precioso recuou 3,86%, enquanto o dólar comercial registrou apenas 0,33% de alta. Os resultados da commodity e da moeda ficaram até mesmo abaixo da variação da taxa Selic, que marcou 0,46% no mês, e do referencial conservador pós-fixado de mercado, o CDI, com elevação igual.
“Em setembro houve uma recuperação quase que total da deterioração que aconteceu em agosto”, afirma Giovani Silva, executivo-chefe de investimentos da BlueLine Asset. O cenário consideravelmente mais positivo se consolidou porque grande parte dos temores de analistas e investidores arrefeceu, principalmente aquele ligado à guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Na semana passada, o presidente americano, Donald Trump, reforçou a sinalização para a possibilidade de retomada das negociações sobre o impasse, além de adiar por 15 dias a entrada em vigor de tarifas sobre importações do país asiático. “Tivemos um mês um pouco mais calmo nesse front, o que deu suporte às bolsas internacionais”, aponta Bernardo Zerbini, chefe de estratégia macro da AZ Quest.

O momento externo favorável também ganhou força com a ação dos bancos centrais globais. “Em setembro, o Federal Reserve [Fed, o banco central americano] fez o segundo corte em dez anos e o Banco Central Europeu cortou a taxa em 10 pontos-base, para 0,50% negativo”, resume Silva. “E o movimento do BCE veio com um ‘QE’ [programa de compras de ativos] sem tempo para acabar. Além disso, a autoridade europeia colocaram medidas de liquidez favorecendo os bancos.”


No Brasil, o Banco Central cortou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 5,50% ao ano, renovando a mínima histórica. Mas a autoridade monetária foi ainda mais longe e sinalizou estar inclinada a mais cortes. De acordo com Zerbini, “o BC se mostrou um pouco mais ‘dovish’ (menos preocupado com a inflação) do que o mercado imaginava, mais confortável com o cenário de inflação e juros”. Com isso, o mercado passou a refazer projeções para o patamar da Selic para este ano e o próximo, com muitas casas agora apostando em uma taxa abaixo de 5% já em 2019.

A própria AZ Quest estima que a Selic termine este ano em 4,75% e recue para 4,5% em fevereiro de 2020. “Mesmo com depreciação cambial, não teve nenhuma revisão de inflação para cima nem pelos economistas nem pelo mercado - pela inflação implícita nos títulos públicos”, diz Zerbini.

Renda fixa de longo prazo também ganha
Com a postura mais flexível do BC e a ajuda de um cenário externo mais favorável, os papéis de taxas prefixadas e de juro real tiveram fortes ganhos em setembro. Apesar de permanecer atrás dos 3,57% do Ibovespa em setembro, os índices de renda fixa IMA-B, que representa uma cesta de títulos públicos atrelados à inflação mais uma taxa de juro real, e o IRF-M, de papéis prefixados de várias maturidades, registraram o segundo e terceiro melhores resultados do mês passado.

Veja mais detalhes da rentabilidade nominal na tabela abaixo.

2019JanFevMarAbrMaiJunJulAgoSetAno
Renda Fixa
Selic (1)0,540,490,470,520,540,470,570,500,464,66
CDI (1)0,540,490,470,520,540,470,570,500,464,66
CDB (2)0,530,530,490,520,520,510,460,450,414,51
Poupança (3)0,500,500,500,500,500,500,500,500,504,59
Poupança (4)0,370,370,370,370,370,370,370,340,343,34
IRF-M1,390,290,590,611,772,161,090,261,449,99
IMA-B4,370,550,581,513,663,731,29-0,402,8619,55
Renda Variável
Ibovespa10,82-1,86-0,180,980,704,060,84-0,673,5719,18
Índice Small Cap9,41-1,820,101,661,976,996,750,482,0830,58
IBrX 5010,44-1,68-0,180,670,464,120,42-1,033,6917,61
ISE9,19-3,53-3,94-0,192,502,823,782,212,0415,20
IMOB10,43-5,70-3,531,675,9715,008,61-0,530,7635,47
IDIV12,48-2,03-1,793,093,143,112,762,231,8927,02
IFIX2,471,031,991,031,762,881,27-0,111,0414,15
Dólar Ptax - BC-5,752,374,231,25-0,12-2,75-1,769,920,637,47
Dólar Mercado-5,582,614,310,160,09-2,17-0,558,460,337,25
Euro - R$/Euro - BC-5,551,552,781,00-0,59-0,80-3,858,53-0,132,33
Euro Mercado-5,542,042,820,14-0,31-0,42-3,177,66-0,502,19
Ouro B3-2,031,941,580,931,366,792,5917,95-3,8628,95
Inflação
IGP-M0,010,881,260,920,450,800,40-0,67-0,014,09
IPCA (5)0,320,430,750,570,130,010,190,110,062,60

O IMA-B acumulou 2,86% de avanço, enquanto o IRF-M teve 1,44% de alta. No ano, o índice de papéis atrelados à inflação acumula valorização até maior do que a do próprio referencial da bolsa. O Ibovespa apresenta alta de 19,18% em nove meses, mas o IMA-B alcança 19,55%. O IRF-M, por sua vez, fechou o terceiro trimestre com 9,99%.

O fechamento da ponta longa da curva de juros adicionou o maior impulso aos resultados do mês. O IMA-B 5+, com título de vencimento igual ou acima de cinco anos, registrou uma subida de 3,73% no mês passado, enquanto a metade mais curta, o IMA-B 5, de papéis abaixo de cinco anos, ajudou o indicador geral com alta de 1,74%. No caso dos prefixados, o IRF-M 1, de títulos até um ano, acumulou em setembro ganho de 0,64%. Já o IRF-M 1+, de papéis acima de um ano, contribuiu com subida de 1,87% para o indicador geral.

A curva de juros longa respondeu aos dados positivos da economia brasileira como, por exemplo, um nível de abertura de vagas formais mais elevado que o esperado, de 121,4 mil postos em agosto, e pela postura mais inclinada ao afrouxamento monetário exibida pelo Comitê de Política Monetária do BC (Copom), resume o analista do BB Investimentos Renato Odo. “A renda fixa assimilou a recente redução da Selic e os sinais de afrouxamento monetário emitidos pelo comunicado e pela ata do Copom, com reflexos benignos nas curvas de juros.”

Conforme Zerbini, da AZ Quest, “as carteiras mais alongadas acabaram se beneficiando pela queda dos juros”. Mas, acrescenta, “quem tinha alocação de curto prazo em prefixado e em juro real também se beneficiou com o ciclo da política monetária e pelas previsões confortáveis do BC em relação à inflação, que mostram espaço para continuar o corte de taxas”.


Em relação ao câmbio, Silva, da BlueLine, explica que a estabilidade do dólar em setembro, mesmo após a forte alta de agosto, indica que o mercado ainda vê o risco de uma guerra comercial longe de acabar. “O câmbio não devolveu o avanço mesmo com a bolsa subindo e, com isso, o mercado está dizendo que a guerra comercial está longe de ser resolvida.” Além disso, “a queda do diferencial de juros em relação aos EUA e o fato de as empresas brasileiras estarem trocando dívida externa por local acabam gerando pressão na taxa de câmbio”.

Veja abaixo a rentabilidade real das aplicações em setembro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".