O Tesouro Direto ainda é o ativo mais seguro e vale a pena para a porção conservadora da carteira de investimentos, explica o planejador financeiro Bruno Pereira
O sentimento de estar ganhando menos nos investimentos não é incomum, mas você pode se sentir privilegiado. Hoje, no mundo, são aproximadamente US$ 13 trilhões investidos em juros negativos. Países como a Suíça pagam juros negativos para prazo de 50 anos, portanto aqui no Brasil ainda temos um bom retorno real acima da inflação comparado ao restante do mundo.
O Tesouro Direto é um programa do governo concebido em 2002 para venda on-line de títulos, cujo emissor é o governo federal brasileiro. Sob a ótica de risco de crédito, isto é, da probabilidade de você receber seu dinheiro de volta, esse é o investimento mais seguro possível. São negociados títulos prefixados, indexados à inflação e pós-fixados atrelados à taxa Selic. Existem diferentes vencimentos e regras para pagamento de juros ao longo do período do investimento.
Ao se investir no Tesouro é cobrada uma taxa de custódia de 0,25% ao ano. Como você disse, a queda da taxa de juros foi grande e o peso desse custo fixo ficou maior. Antes, com a Selic em 14,25%, o custo representava 1,75% do retorno; na taxa atual de 5,5%, o peso passou a 4,55% para o mesmo risco.
O Tesouro ainda é o ativo mais seguro da economia e vale a pena para aquela porção conservadora do portfólio.Para aqueles que desejarem obter um retorno maior, uma diversificação para ativos de renda fixa isentos de taxa de custódia ou para classes de investimento com maior objetivo de retorno no longo prazo pode fazer sentido neste momento.
Mas essa análise tem que ser feita com muito cuidado e com a ajuda de um profissional pois, mesmo para alguns títulos do Tesouro, os indexados ao IPCA ou prefixados podem ocorrer perdas de capital caso sejam resgatados antes do vencimento.
Hoje, o título Tesouro IPCA + com juros semestrais vencimento em 2035 paga por volta de IPCA mais 3,49% ao ano. Considerando uma inflação média de 3,80%, o custo de 0,25% de custódia e descontando o imposto você levaria para casa por volta de 6,05% ao ano.
Por outro lado, nas plataformas de negociação das corretoras podemos encontrar papel de uma estatal, destinado ao setor de infraestrutura — e por isso, isento de imposto —, cujo acionista majoritário e controlador é o governo federal, com risco de crédito muito próximo ao soberano e destinado a investidores em geral, vencendo em 2029 pagando IPCA mais 3,38% e sem taxa de custódia.
Esse título daria um retorno de 7,3% ao ano aproximadamente para um papel mais curto e risco muito parecido. Esse papel não substitui totalmente o Tesouro, mas pode ser uma alternativa para a parcela do portfólio que busca obter mais retorno.
Por outro lado, encontramos CDBs de bancos de primeira linha pagando 94% do CDI com liquidez diária, retorno líquido aproximado de 4,72%, ao passo que o Tesouro Selic, que também tem liquidez diária, mas tem risco menor, paga 4,88% já descontando a taxa de custódia. Nesse caso, não faz sentido sair do Tesouro Direto. Uma alternativa poderia ser fundos que aplicam exclusivamente no Tesouro Selic e não cobram taxa de administração.
Por fim, a dinâmica de juros baixos veio para ficar e a vida do investidor tende a se tornar mais difícil na escolha de inúmeros ativos.Neste contexto, a ajuda de um profissional CFP será cada vez mais necessária para analisar a relação entre risco e retorno das alternativas, ajustar o investimento ao seu perfil, necessidades de liquidez, objetivos de longo prazo, além de auxiliar nos ajustes da carteira ao longo do tempo.
Fonte: Valor Investe (07/10/2019)
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