sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Inovação: As 10 tendências tecnológicas previstas para 2023 visando o futuro do planeta, segundo o Valor Econômico



Entre as prioridades estão a saúde pública e sustentabilidade

As 10 tendências tecnológicas do Valor para 2023 mostram a preocupação de pesquisadores, cientistas e programadores com grandes temas da humanidade, como sustentabilidade, saúde pública e privacidade. Em sua 14ª edição, a lista ressalta esforços como a nuvem sustentável, os computadores quânticos, a internet não hierárquica e as viagens espaciais - um aceno para a colonização de outros planetas. São alertas de um mundo em crise, mas que também indicam soluções. Completam a lista: novas vacinas, metaverso, redes sociais sob pressão, criatividade sintética, excesso de dados e ameaças virtuais.  

A Guerra da Ucrânia, que entra em seu 11º mês, chamou atenção para a crise energética e reforçou a necessidade de se buscar energia limpa para substituir fontes tradicionais como o gás. No campo da tecnologia, uma das preocupações é com os centros de dados. Esses celeiros de computadores sustentam a computação em nuvem e consomem muita energia, o que deve aumentar. Até 2030, 8% de toda a energia do mundo será consumida pelos “data centers”, estima o Boston Consulting Group (BCG).    

Como resposta, está sendo testado em vários lugares, inclusive no Brasil, o uso de energia solar e eólica para suprir essas instalações. A emissão de debêntures verdes atreladas a metas de sustentabilidade, é outra tendência.   

O conflito na Ucrânia também trouxe à tona novos tipos de ransonware. Esses softwares são usados por hackers para sequestrar e encriptar informações da vítima, cobrando resgate para devolvê-las. A escalada das tensões geopolíticas indica que versões ainda mais perigosas, que destroem totalmente os arquivos, estão em desenvolvimento, o que vai exigir mais ações de segurança digital.  

Nos laboratórios farmacêuticos, a busca é por vacinas mais eficazes no combate à covid-19 e outras doenças contagiosas. Diferentes níveis de imunização do indivíduo, a cepa do vírus eventualmente contraído e o número de doses recebidas da vacina, entre outras variáveis, tornam difícil prever novos surtos. Uma das respostas é a das vacinas em spray, que imunizam as mucosas do nariz e da boca, impedindo a entrada do vírus. China e Índia já aprovaram vacinas desse tipo, que também são alvos de pesquisas no Brasil.  

Muitas tendências provocam polêmica. A inteligência artificial generativa, que cria textos, áudios, vídeos e imagens é uma delas. Arte sempre foi um traço distintivo da espécie humana. Será que a máquina conseguirá “imitar” essa capacidade? E o que um computador produz sozinho pode ser considerado arte?  

Os limites da computação quântica são outra incógnita. Além de mais rápidos, esses computadores trabalham com algoritmos mais complexos, com aplicações que vão do tratamento de doenças ao combate a fraudes. A tecnologia ainda engatinha, mas “Big Techs” como Google, Microsoft e IBM estão construindo suas máquinas, o que alimenta a expectativa de que as primeiras inovações comecem a aparecer.  

O metaverso, que dominou as discussões tecnológicas nos últimos meses, precisará dar provas de sua viabilidade. O conceito, que propõe combinar o mundo real a ambientes virtuais, continua uma tendência forte. Mas as recentes dificuldades da Meta - uma das principais patrocinadoras da ideia - aumentaram o ceticismo sobre o real alcance do metaverso.   

Já a descentralização da web está literalmente entrando em campo. Nos Estados Unidos, a Krause House, uma Organização Autônoma Descentralizada ou DAO, comprou parte do time de basquete Ball Hogs. No Brasil, a corretora Mercado Bitcoin anunciou planos para criar um time de futebol em DAO, que opera em blockchain, com decisões coletivas.  

Se nada funcionar, pode ser que a resposta esteja fora da Terra. Uma série de viagens espaciais estão programadas para este ano. A Nasa vai explorar um asteroide rico em minerais, incluindo ferro e ouro, enquanto a ESA, a agência espacial europeia, enviará uma missão a três luas de Júpiter para avaliar as condições de sobrevivência no sistema. Talvez o espaço seja mesmo a fronteira final.  

1 - Nuvem renovável 

Com a adoção crescente da computação em nuvem, as boas práticas de governança ambiental - o “E” da sigla ESG - ganha relevância entre empresas de infraestrutura e serviços de tecnologia. A nuvem demanda alto consumo de energia, que só tende a aumentar. Até 2030, 8% da energia disponível no mundo será consumida por centros de dados, prevê o Boston Consulting Group (BCG). O desafio é atender ao aumento da demanda e, ao mesmo tempo, reduzir o consumo energético dos centros de dados. Um caminho é usar fontes renováveis para sustentá-los, como energia solar e eólica. Emissões de debêntures verdes vinculadas a metas de sustentabilidade e títulos atrelados a metas já alcançadas também serão cada vez mais frequentes. O "selo verde" deixa de ser preferencial para se tornar determinante na escolha dos fornecedores de tecnologia.  

2 - Vacinas 

A vacinação reduziu a letalidade da covid-19, mas as autoridades de saúde vão enfrentar, em 2023, um horizonte imprevisível. O grau de imunidade de um indivíduo depende de muitas variáveis, como quantas vezes ele foi infectado, por qual cepa do vírus e quantas doses da vacina recebeu. No Brasil, 172,3 milhões de pessoas, ou 80,2% da população total, haviam tomado duas doses da vacina (ou dose única) até meados de dezembro. Já a dose de reforço foi aplicada em muito menos gente - 106,9 milhões de habitantes ou 49,8% da população. A busca é por vacinas mais eficazes, que deem conta da diversidade de situações, como as nasais e orais, que estimulam a imunidade das mucosas, impedindo a entrada do vírus. Índia e China já aprovaram vacinas desse tipo, ministradas em spray. Outros países, inclusive o Brasil, têm pesquisas nessa linha.   

3 - Viagens especiais 

Antes restrita aos governos das superpotências, a corrida espacial ganhou um novo e recente capítulo pelas mãos de companhias privadas - como a SpaceX de Elon Musk, a Blue Origin de Jeff Bezos, e a Virgin Galactic de Richard Branson. As agências espaciais também intensificaram suas atividades, com muitas expedições planejadas para este ano. A Nasa planeja lançar em outubro a missão Psyche, que visa explorar um asteroide rico em ferro, níquel e ouro entre Marte e Júpiter. Em abril, a Agência Espacial Europeia, a ESA, iniciará a missão Juice para examinar três luas de Júpiter e avaliar as condições de habitar o sistema. Não faltará turismo espacial. O bilionário japonês Yasaku Maezawa comprou todos os oito assentos da viagem inaugural que a SpaceX fará ao redor da lua.  

4 - Computação quântica 

A computação quântica não chegará ao laptop ou smartphone tão cedo, mas vem deixando de ser teoria. Estão em desenvolvimento aplicações práticas como a busca de melhores baterias para carros elétricos pela Mercedes-Benz e a simulação de reações químicas para medicamentos pela Mitsubishi Chemical. Enquanto computadores tradicionais trabalham passo a passo, com bits de 1 e 0, os modelos quânticos são multitarefa e se baseiam em "qubits", que funcionam com 1, 0 ou uma combinação de ambos. Isso permite calcular uma infinidade de possibilidades ao mesmo tempo. Entre as aplicações mais promissoras está o combate a fraudes fiscais e ataques cibernéticos. Segundo a consultoria Gartner, 20% das empresas incluíram a computação quântica nos orçamentos deste ano. Em 2018, essa participação era de 1%.  

5 - Internet descentralizada 

Se a Web 1 marcou o início da internet, com sites e páginas estáticas, e a Web 2 foi caracterizada pelo acesso móvel e as redes sociais, a Web 3, considerada a próxima fase, terá a descentralização como característica. Um modelo que desperta atenção é o da Organização Autônoma Descentralizada (DAO, na sigla em inglês). Trata-se de um grupo de pessoas que se reúne com um determinado fim e cujas decisões são tomadas coletivamente, sem hierarquia, com base em uma rede blockchain. O esporte parece um campo propício para o formato. No Brasil, a corretora de criptomoedas Mercado Bitcoin anunciou, em junho, a decisão de criar um clube de futebol em DAO. Nos EUA, a Krause House DAO, uma comunidade de fãs de basquete, já comprou parte do time Ball Hogs, da liga independente B3.   

6 - Metaverso 

2023 será decisivo para o metaverso, que propõe criar mundos imersivos, com as pessoas vivendo na forma de representações gráficas ou avatares. O conceito dominou as discussões tecnológicas nos últimos meses e permanece relevante. Foi a segunda palavra mais importante de 2022, segundo o Dicionário Oxford. “Big Techs” como Meta, Microsoft e Nvidia estão investindo no metaverso e estabelecendo laços de cooperação para criar padrões comuns. Paralelamente, empresas de vários setores testam o potencial dos ambientes digitais para marketing e construção de marca. Parte dos especialistas, no entanto, se mostra cética. A Meta, uma das principais patrocinadoras do metaverso, demitiu 11 mil pessoas em novembro, ou 13% de sua força de trabalho global e perdeu 65,3% de seu valor em bolsa nos últimos 12 meses.  

7 - IA generativa 

A IA Generativa, uma vertente da inteligência artificial capaz de criar fotografias, vídeos, textos, áudios e obras de arte, começou a se popularizar em 2022. Aplicativos como o editor de imagens Lensa, que cria avatares com base em “selfies”, se tornaram um sucesso. A ideia de ensinar algoritmos a enxergarem o mundo de uma perspectiva mais próxima da humana tem como base programas como o Dall-E, da empresa Open-AI. Em setembro, mais de 1,5 milhão de pessoas já usavam a ferramenta, com a criação de 2 milhões de imagens por dia. O tema atraiu a atenção de investidores e promete desdobramentos polêmicos, como questões de direitos autorais. Pesquisa feita pela Tidio, empresa orientada à experiência de consumo, mostra que 80% dos pesquisados não souberam distinguir uma fotografia real de uma gerada por algoritmo.  

8 - Ransonware destruidor 

Os ciberataques que afetaram a Ucrânia em fevereiro, pouco antes da invasão das tropas russas, mostram que ameaças como ransomware estão ganhando versões ainda mais perigosas. Esses softwares viraram instrumento de extorsão, pelo qual hackers sequestram dados da vítima, exigindo resgate para devolvê-los. Em setembro, no entanto, as empresas de segurança Cyderes e Stairwell descobriram indícios de testes de ataques de 'destruição de dados’, que corrompem e destroem totalmente os arquivos. Com as tensões geopolíticas se agravando, essa ameaça tende a se disseminar. Também deve ganhar força o ransomware doutrinador. "Ele exibe mensagens políticas ou religiosas e pode ser usado como forma de propaganda", alerta Daniel Silva, da empresa Gateware.   

9 - Excesso de dados 

Com o “Big Data”, empresas e governos aprenderam a extrair valor da montanha de dados digitais que coletam de consumidores e cidadãos. Mas esse oceano de dados parece estar transbordando. Com informações vindas de tantas fontes diferentes ao mesmo tempo, especialistas dizem que será necessário adotar novas tecnologias para gerenciar dados, com uso intensivo da inteligência artificial. Só neste ano serão produzidos 97 zettabytes de informação no mundo. Em 2025, serão 181 zettabytes, segundo o site Statista. O que isso significa? Lembra do antigo DVD? Seriam necessários 250 bilhões deles para armazenar um único zettabyte. Com as dificuldades econômicas globais, as companhias terão de fazer um esforço para controlar as despesas com tecnologia, tornando mais eficiente o gerenciamento das informações.  

10 - Novas redes sociais 

Perfis falsos, discursos de ódio e “fake news” despertam a atenção de vários governos, com a aprovação de leis para coibir abusos. As plataformas digitais terão de ajustar-se a essas regras e disputar usuários ávidos por novidades. Novos aplicativos vêm crescendo como o francês BeReal, que propõe mostrar a vida real sem filtros, e o microblog indiano Koo, que atraiu milhares de brasileiros como opção ao Twitter. Elon Musk, que comprou o Twitter em outubro, demitiu metade da equipe, perdeu anunciantes, excluiu contas de jornalistas e colocou em votação sua permanência na gestão - a maioria votou por sua saída. O resultado, segundo a MIT Technology Review, é "a morte cerebral do Twitter". Neste ano, sua base mensal de usuários deve recuar 3,9%, para 353,9 milhões, e em 2024 para 335,7 milhões, prevê a Insider Intelligence.

Fonte: Valor (02/01/2023)

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