Companhias de energia estão entre as principais interessadas; Vale vai testar aplicações em 5G
A digitalização da indústria e de concessionárias de serviços de utilidade pública essenciais impulsiona a montagem de redes privativas de telecomunicações no país. Desde o ano passado, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) concedeu 20 autorizações para empresas operarem redes próprias em quatro faixas de frequência distintas. Isso equivale a dois terços - 66% - do total de autorizações concedidas pelo regulador desde 2015.
Encerrada em dezembro do ano passado, a consulta pública da Anatel destinada a colher subsídios para uma atualização do regulamento de uso de frequências em redes privativas teve contribuições de 20 empresas ou organizações. A lista inclui Vale, Samarco e empresas do setor elétrico - Coelba e Cemig, entre outras - que demonstraram interesse no tema. Os administradores dos portos de Santos e Paranaguá também conversaram com a Anatel sobre a possibilidade de ativar redes 5G na faixa de 3,7 gigahertz (GHz) a 3,8 GHz, informou a agência.
Entre as empresas de serviços de utilidade pública há mais projetos de redes privativas represados aguardando decisão da Anatel sobre as frequências a serem usadas, diz Ronaldo Santarém, vice-presidente do braço latino-americano da UTC, associação voltada para especialistas em telecomunicações que trabalham em companhias de energia, gás e água. Santarém cita como exemplo a frequência de 410 megahertz (MHz).
A Anatel pretende publicar os requisitos técnicos para utilização da faixa de 410 MHz a 415 MHz ainda neste primeiro semestre, adianta Vinicius Caram, superintendente de outorga e recursos à prestação da agência reguladora. “Dar o espectro [eletromagnético] é só um primeiro passo”, diz o superintendente. Caram explica que, ao disponibilizar uma faixa compatível com o serviço, a Anatel leva em conta também o ecossistema estabelecido - fornecedores de produtos e serviços - em torno daquela frequência. “A maior parte das aplicações [em redes privativas] que vemos acaba caindo no 4G”, conta o superintendente.
Esse é o caso da holding Neonergia, que desde 2020 usa a tecnologia de comunicação de dados de quarta geração para conectar medidores de energia de clientes na cidade paulista de Atibaia. São 78 mil medidores cobertos por seis redes móveis na faixa de 700 MHz. Entre outras aplicações, a conexão sem fio permite a reconfiguração automática da rede elétrica em caso de falha e a calibração em tempo real da qualidade da energia na residência ou estabelecimento comercial do cliente.
A holding obteve ainda autorização da Anatel para usar experimentalmente as faixas de 410 MHz e 450 MHz. “É importante que a Anatel disponibilize um cardápio de frequências [para uso em redes privativas]”, frisa Ricardo Leite, superintendente de Redes Inteligentes da Neoenergia. O objetivo da empresa é montar redes que viabilizem múltiplos serviços que vão desde a comunicação por voz ou vídeo até a conexão com dispositivos IoT (Internet das Coisas).
Há, inclusive, a possibilidade de incorporação da tecnologia 5G à rede privativa da Neonergia. “Estamos discutindo [em conjunto com outras empresas] o uso das faixas de 410 MHz e 450 MHz para aplicações de 5G”, acrescenta Leite, frisando que a viabilidade de uso da tecnologia vai depender da formação de um ecossistema voltado para estas faixas de frequência.
A Vale pretende testar este ano aplicações em 5G nas áreas de robótica, retorno de barragens ao meio ambiente e manutenção preditiva. A empresa informou que desde novembro de 2019 mantém contrato com a Vivo para implementar uma rede privada 4G no Brasil. Os testes com a tecnologia de quarta geração na mina de Carajás, no Pará, começaram em 2021 e atualmente há 14 caminhões e duas perfuratrizes autônomas rodando no local que utilizam rede 4G. De acordo com a Vale, não houve acidentes causados pelos veículos autônomos em Carajás desde sua implantação. “O grande diferencial da rede 4G/LTE é que ela pode ser facilmente escalada para o 5G”, diz a companhia.
Fonte: Valor (12/04/2023)
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