O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPQD), de Campinas, no interior de São Paulo, anunciará nesta terça-feira o lançamento do primeiro laboratório credenciado para testes e integração de equipamentos e sistemas para redes de acesso por rádio abertas (Open RAN, na sigla em inglês) da América Latina. Essa tecnologia possibilita às operadoras de telecomunicações construírem redes 5G e 6G com partes de equipamentos e sistemas de múltiplos fornecedores, simultaneamente.
No Brasil, ainda não há rede Open RAN instalada. Se a tele contratou um fornecedor, todas as atualizações precisam ser da mesma empresa, pois os sistemas não são compatíveis entre fabricantes. Nas redes abertas, isso não ocorre.
Para a montagem do laboratório no Centro de Competência Embrapii em Open RAN - CPQD, a instituição de Campinas recebeu a doação dos equipamentos da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, em uma iniciativa conjunta com o Departamento de Estado - por meio do Bureau of Cyberspace and Digital Policy. Os equipamentos, avaliados em US$ 1,7 milhão, pouco mais de R$ 10 milhões pela cotação de ontem (2), já estão instalados no CPQD, uma instituição privada sem fins lucrativos. A tecnologia é voltada para as redes de telecomunicações das operadoras.
Só existem laboratórios desse tipo nos EUA, na Europa e Ásia”— Gustavo Correa Lima
O CPQD recebeu aportes de R$ 60 milhões para aplicação de projetos de Open RAN, ao longo de 42 meses, a partir de janeiro deste ano, da Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). É o e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“Hoje, só existem laboratórios desse tipo nos Estados Unidos e em países da Europa e Ásia”, diz Gustavo Correa Lima, gerente de soluções em conectividade do CPQD. Com essa doação, o objetivo do governo americano é apoiar a necessidade de desenvolvimento do ecossistema local de Open RAN, explica o executivo.
A previsão dos EUA é de investir US$ 1,2 bilhão para desenvolver essas redes. Para isso, já está fazendo sua segunda chamada no mercado para apresentação de projetos.
No Brasil, desenvolver a tecnologia Open RAN, que é disruptiva, tem sido um desafio. As operadoras encontram dificuldades para os testes e há incertezas sobre a interoperabilidade de equipamentos. Os custos para os testes são considerados elevados, praticamente empatando com os de uma rede tradicional. Mas o gerente do CPQD diz que os custos serão reduzidos no novo laboratório. Com isso, sua expectativa é de atrair o interesse das teles, que pagarão pelos testes.
A iniciativa Open RAN é liderada pela O-RAN Alliance, uma comunidade global composta por operadoras móveis, fornecedores, instituições de pesquisa e acadêmicas. O CPQD, que é membro da organização, está credenciado como um centro de teste e integração aberto (Otic, na sigla em inglês).
Com sua nova capacitação, o CPQD fez um acordo para a troca de informações sobre a tecnologia e projetos conjuntos com a University of Texas, em Dallas, Virginia Tech, Northeastern University, Iowa State University, Rutgers University e Idaho National Labs. Todas essas instituições integram o consórcio ACCorD (sigla em inglês para aceleração da compatibilidade e comercialização para implantações do consórcio Open RAN).
O CPQD desenvolve a tecnologia Open RAN com diversas universidades brasileiras, diz Lima, citando a Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Universidade de Brasília (UnB). Um dos projetos é para instalar cursos de pós-graduação em Open RAN, segurança cibernética e computação quântica em algumas instituições, mas os nomes não foram revelados. Está previsto para 2025 um sistema de teste ligado à inteligência artificial, para validar algoritmos de otimização de rede Open RAN.
O consórcio reúne também as operadoras AT&T e Verizon, dos EUA; DoCoMo, do Japão; e Jio, da Índia), além dos fabricantes Ericsson, Nokia e Samsung. Outros fornecedores alternativos dessa tecnologia ainda podem aderir, diz Lima. É o caso de Fujitsu, Mavenir, Dell Technologies, Intel, Radisys, Rakuten, Red Hat, VMWare by Broadcom e Wind River Systems.
Segundo o CPQD, Rakuten, no Japão; Dish Telecom, nos EUA; e Vodafone, no Reino Unido, já implantaram redes Open RAN. A Telecom Italia, dona da TIM Brasil, está instalando essa infraestrutura, assim como a O2, da Alemanha. Procurada, a TIM preferiu um posicionamento conjunto com a Conexis, que representa as grandes operadoras no Brasil. Ao Valor, a Conexis afirmou: “As empresas já realizaram testes de redes Open-Ran e seguem avaliando sua evolução e discutindo futuras oportunidades.”
A chinesa Huawei não integra o consórcio, o que motivaria o governo dos EUA, que tem uma disputa geopolítica com a China, a incentivar a Open RAN, para tirar clientes da companhia. Procurada pelo Valor, a Huawei preferiu não se pronunciar sobre o assunto.
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é responsável pelos testes e certificação dos equipamentos. Procurada, não comentou.
Fonte: Valor (03/12/2024)
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