terça-feira, 28 de março de 2023

Aposentadoria: Novo título do Tesouro Direto para aposentadoria é mais popular entre jovens adultos

 


Os dados mostram que a faixa etária predominante até aqui é entre 25 e 39 anos, que corresponde a 48% dos compradores do novo papel

A uma semana de completar dois meses em operação, o RendA+, título recém-criado pelo Tesouro Direto com o objetivo de complementar a aposentadoria do trabalhador, alcançou a marca de R$ 350 milhões em estoque e quase 30 mil CPFs posicionados no último dia 16. Se mantiver o ritmo, o RendA+ terá, até o final do ano, a aderência de pouco mais de 2 milhões de trabalhadores, valor abaixo dos 3 milhões esperados para 2023. Os números são da Secretaria do Tesouro Nacional e foram enviados em primeira mão para o Valor Investe.

“O volume de compras cruzado com o número de CPFs demonstram que tem muitas pessoas colocando valores baixos e poucas pessoas colocando valores altos no programa. Essa conclusão pode ser indicativo de que uma parcela grande de investidores tem salários baixos”, diz o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pierre Oberson.

Ainda que não seja possível garantir a hipótese levantada pelo especialista, a ideia está alinhada com o objetivo do papel, formatado principalmente para os trabalhadores autônomos com faixa de renda de até seis salários mínimos – apesar de poder ser adquirido por qualquer pessoa.

Os dados mostram, ainda, que a faixa etária predominante até aqui é entre 25 e 39 anos, que corresponde a 48% dos compradores do novo papel, seguido pela faixa etária entre 40 a 59 anos (42%). Na fatia do meio, os jovens entre 19 e 24 anos são 5% do total. Os investidores de até 18 anos correspondem a apenas 2% do estoque do RendA+ e os que tem mais de 60 anos representam 3% dos compradores dos títulos até então.

Nesse período de quase dois meses, o papel mais vendido pelo Tesouro foi o de curto prazo, ou seja, 2030 – volume de R$ 137,4 milhões em dois meses, ou 39% do total. Em seguida, o título com data de conversão em 2035 vendeu R$ 65,4 milhões, que corresponde a 19% do total. O papel com prazo de conversão em 2040 completa o ranking, sendo vendido R$ 42,6 milhões em volume, ou 12%. A última colocação ficou para o título com prazo de conversão em 2060, que é apenas 1% de vendas do total, com volume de R$ 4,7 milhões. Lembrando que a data não é o vencimento do título, mas sim o início do pagamento das rendas mensais.

Para o professor, os dados possuem uma correlação se vistos do ponto de vista que as idades com maior posição no programa correspondem a um grupo de investidores mais preocupado com a aposentadoria – e com certa pressa, priorizando o curto prazo. “Provavelmente essas pessoas colocam o dinheiro no estilo 'conta-gotas', ou seja, um pouco a cada mês, por exemplo, e não tudo de uma vez. Essa é uma forma legal de lidar com esse papel, porque o investidor vai montando um colchão para quando chegar a data de conversão, sem ficar apertado agora”.

O saldo médio de aporte por investidor em quase dois meses ficou em torno de R$ 12,1 mil. Com uma mediana de R$ 498 – metade das pessoas tem menos e a outra metade tem mais que esse valor investido.

Também chama a atenção o volume de vendas de títulos do RendA+ em relação ao total vendido pelo Tesouro Direto no período. Nos primeiros 15 dias de operação, o programa representou 12% das negociações totais do Tesouro. Esse número, no entanto, caiu pela metade exatamente um mês depois, chegando ao patamar dos 6% das operações do mercado de títulos públicos.

Para o professor da FGV, esses números significam que havia uma expectativa para o lançamento do programa, mas que a euforia pela novidade não durou muito. “Esse foi o momento perfeito para o Tesouro lançar esse tipo de título, porque é uma fase em que os juros reais estão muito altos, com papéis pagando acima da inflação para daqui a 10, 15, 20 anos. Mas é preciso massificar a divulgação para que esse número de adesão continue crescendo e não caindo”, pontua Oberson.

Como funciona

O Tesouro RendA+ é um título corrigido pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e com pagamento de amortizações em parcelas mensais iguais, também corrigidas pelo IPCA, durante 20 anos (ou 240 meses), a partir de uma determinada data.

O investidor poderá escolher entre oito datas para começar a receber a renda: 2030, 2035, 2040, 2045, 2050, 2055, 2060 e 2065. O Tesouro Direto chama esse momento de "data de conversão". Cada título será identificado pelo ano da data de conversão. Assim, por exemplo, o Tesouro RendA+ 2030 começará os pagamentos em 15 de janeiro de 2030. Como são 20 anos de renda mensal, o título vence em 15 de dezembro de 2049.

Para cada R$ 1 mil de renda mensal real que o trabalhador queira receber no futuro, terá que acumular 60 títulos daquele vencimento até a data de conversão. Por exemplo, se quiser renda de R$ 2 mil a partir de 2030, terá que juntar 120 títulos daquele vencimento. Se quiser R$ 5 mil mensais a partir de 2065, terá que adquirir 300 papéis até a data de conversão. Essas compras podem ser feitas aos poucos, ou até em formato de frações, a partir de R$ 30 cada.

A taxa de custódia é zerada para quem recebe o equivalente a até 6 salários mínimos no fluxo de pagamentos mensais futuros. Para quem passa desse valor, é cobrada uma taxa de 0,10% ao ano sobre o excedente. Em contrapartida o investidor paga taxa de custódia mais elevada se vender antecipadamente o título. Nesse caso, a taxa é decrescente de acordo com o tempo investido.

A cobrança de imposto de renda é decrescente, assim como nos demais títulos do Tesouro. É de 22,5% para resgate de até 180 dias; de 20% para prazos de 181 a 360 dias; de 17,5% para prazos de 361 a 720 dias; e após 720 dias é cobrada 15% de alíquota. Importante destacar que o investidor precisa esperar pelo menos 60 dias de carência para vendas antecipadas, diferentemente dos outros títulos do Tesouro.

A ideia é tornar mais fácil a tarefa do investidor de acumular um patrimônio para ser usado no futuro, para complementar os rendimentos na aposentadoria, e depois receber esse montante em parcelas mensais. O Tesouro Direto recomenda que o investimento no título seja complementar ao benefício previdenciário concedido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

RendA+ X  Previdência privada

O investidor não precisa, necessariamente, escolher entre o novo título do Tesouro Direto ou outras formas de previdência privada, como os fundos de previdência ou do tipo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre). A ideia é que o RendA+ complemente a aposentadoria do trabalhador.

“Como os planos de previdência privada têm incentivos fiscais durante a fase de acumulação, vale mais a pena para o investidor que faz a declaração completa investir em planos de previdência até o limite de 12% da renda bruta. O restante ele pode alocar nos títulos do Tesouro RendA+ e em outros investimentos, como uma carteira de renda variável”, diz Nélio Costa, chefe da área de planejamento financeiro da Nord Research.

No caso dos fundos de previdência, os retornos podem ser maiores na fase de acumulação, comparado com o RendA+, uma vez que o investidor consegue alocar os recursos em ativos de maior risco, se houver apetite. O planejador recomenda que o investidor comece investindo em um fundo de previdência de renda variável e depois migre para o de renda fixa, quando estiver próximo da aposentadoria.

Um ponto importante para o investidor se atentar é que no RendA+ a menor alíquota de IR sobre o rendimento do título público é de 15% para resgate após dois anos, enquanto, nos fundos de previdência, é de 10% após dez anos para quem opta pela tabela regressiva.

“O novo título é mais uma opção tanto durante as fases de acúmulo quanto de recebimento da renda, mas não deve ser a única estratégia. O investidor precisa sobretudo diversificar os investimentos para a aposentadoria”, diz Costa.

Fonte: Valor Investe (27/03/2023)

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