quinta-feira, 16 de março de 2023

Meu Bolso: Com a pouca sobra da pensão, quem rende mais, Tesouro Selic, NuConta, PicPay, Mercado Pago ou fundos de renda fixa?



Levantamento feito pelo Valor Investe mostrou que, com Selic em 13,75% ao ano e turbulências no mercado de crédito, opções mais fáceis também são as mais rentáveis. 

Mas há gestoras que conseguiram se destacar.

A ideia de se aplicar dinheiro em um fundo de investimentos é tentar usar o conhecimento daquele gestor para conseguir ganhos maiores do que aqueles que o aplicador conseguiria sozinho, certo? E isso acontece inclusive na renda fixa. Ao invés de escolher um título sozinho, o investidor delega essa função para especialistas tentarem montar uma "cesta" com os melhores investimentos conservadores e que rendam mais do que outras aplicações igualmente seguras. Mas com a Selic a 13,75% ao ano essa estratégia não tem valido tanto a pena.

Um levantamento feito pelo Valor Investe comparou diferentes aplicações em investimentos de renda fixa com o desempenho médio de fundos dessa mesma classe de ativos. E o resultado mostrou que o mais simples vem dando mais resultado. Tanto o Tesouro Selic (título público cujo rendimento acompanha a taxa básica de juros) quanto contas de rendimento automático (como NuConta, PicPay e Mercado Pago) têm superado o desempenho médio de fundos DI e fundos de crédito privado.

O estudo mostrou que desde agosto do ano passado (quando a Selic chegou ao patamar de 13,75% ao ano) até fevereiro deste ano, o Tesouro Selic rendeu 7,85%. A NuConta e a conta do Mercado Pago (que entregam uma rentabilidade de 100% do CDI; no caso da NuConta após 30 dias do dinheiro depositado nela) renderam 7,69%. O PicPay, cujo rendimento é de 102% do CDI após 30 dias de depósito, entregou 7,84%. No mesmo período, os fundos DI tiveram um rendimento médio de 7,12%. Nos fundos de crédito privado, em que o gestor escolhe títulos como debêntures e CDBs para "incrementar" a cesta, o desempenho foi ainda pior: 5,79% de rendimento médio.

Os dados consideram o rendimento bruto. Ou seja, ainda há o desconto de imposto de renda e, no caso dos fundos, o desconto da taxa de administração paga pelo investidor, que varia de produto para produto.

Veja o rendimento de diferentes produtos de renda fixa

InvestimentoRendimento entre agosto de 2022 e fevereiro de 2023
Tesouro Selic7,85%
PicPay7,84%
NuConta7,69%
Mercado Pago7,69%
Média dos fundos DI7,12%
Média dos fundos de crédito privado5,79%

Parte desse movimento é explicado pelo "estresse" que o mercado de crédito passou recentemente, especialmente após o evento da Americanas.

Após a companhia divulgar inconsistências financeiras relevantes em seus números, as debêntures da empresa desabaram. Nesses títulos, o investidor que os compra está "emprestando dinheiro" para a Americanas em troca de a empresa devolver esse valor no futuro, acrescido de juros. Com as inconsistências financeiras, no entanto, a percepção do "risco de calote" aumentou. Assim, o preço desses papéis despencou e afetou inúmeros fundos que tinham eles na cesta. Muitos investidores, que viram seu dinheiro aplicado nesses fundos diminuir consistentemente, se assustaram e fizeram resgates.

E não foi só a Americanas. Algo parecido aconteceu com a Light e também afetou os fundos. De quebra, duas financeiras (BRK e Portocred) que emitiam papéis de crédito privado foram liquidadas e ajudaram a formar essa "tempestade perfeita".

A conclusão, portanto, foi que muitos fundos que tinham esses papéis em suas cestas sofreram com os episódios. Os eventos, no entanto, deixaram claro que, ao procurar ganhos maiores, mesmo na renda fixa, o investidor está sujeito a riscos maiores. Em tempos de calmaria, esses produtos podem oferecer ganhos mais elevados, já que há um prêmio maior por investimentos mais sujeitos a esse tipo de problema. Por outro lado, quando há uma turbulência, a "conta vem".

Há fundos que conseguem se destacar

O sucesso de tomar decisões mais conservadoras neste momento ficou claro na estratégia da gestora da Warren. A casa é uma das poucas que tem um fundo de renda fixa superando o Tesouro Selic desde agosto. O Warren Cash Clash FI RF LP acumula um retorno de 8,24% no período. Segundo Igor Cavaca, principal executivo de gestão de investimentos da companhia, esse é um dos produtos mais conservadores da prateleira. Outros fundos de renda fixa que tomam mais risco tiveram resultados piores no período. Ele explica que a estratégia que garantiu o bom desempenho desse produto no cenário atual foi procurar ativos extremamente seguros.

"Operar de forma mais conservadora nesse ambiente paga bem. E ao longo do tempo o retorno é positivo, porque em algum momento pode ter um evento que abale o mercado e aí despontamos. Durante algum tempo, um produto como o Cash Clash não será um fundo agressivo, ele vai buscar estar na média, mas o foco é em não tomar muito risco", afirma.

Neste fundo, 80% da cesta é composta por títulos públicos indexados pela inflação e 20% é de títulos de dívida de grandes bancos.

Um dos fundos da Bradesco Asset também conseguiu entregar um rendimento de 7,87% desde agosto. Philipe Biolchini, principal executivo de investimentos da gestora, afirma que a estratégia que garantiu esse sucesso foi se antecipar ao cenário de turbulências. "Operamos de forma bem defensiva, buscando proteger o capital dos clientes porque vimos que o ambiente seria volátil. Assim, apostamos muito em papéis de inflação, que tendem a ganhar no meio de incertezas", afirma o executivo.

Agora, no entanto, o momento pode ser de uma virada de chave, segundo Biolchini. O executivo explica que os gestores precisam ficar atentos a eventuais pistas sobre redução da inflação e uma possível queda nos juros. Ele explica, ainda, que com as turbulências no mercado de crédito, muitos títulos de crédito privado passaram a pagar mais. Afinal, a percepção de risco ficou maior. Isso pode se mostrar como uma oportunidade, mas carregada de riscos.

No que é melhor investir?

Mesmo com desempenhos médios inferiores aos de outros ativos de renda fixa, o rendimento dos fundos conservadores não deixa a desejar e superam, de forma robusta, a inflação. Portanto, mesmo aplicando neles, os investidores continuam tendo ganhos reais (descontando a inflação) significativos.

É importante lembrar também que embora aplicações como as contas de rendimento sejam simples, elas também têm risco. Afinal, para entregar uma rentabilidade o dinheiro colocado pelos clientes nessas contas é investido em algum ativo. O rendimento da NuConta, por exemplo, vem a partir de RDBs (Recibos de Depósitos Bancários) do Nubank. O do Mercado Pago vem a partir de títulos públicos do Tesouro Direto. Já o dinheiro aplicado no PicPay fica investido em Certificados de Depósito Bancário (CDB).

Ricardo Aragon, sócio-fundador e diretor de produtos e estratégia da Matriz Capital, afirma que o ideal é diversificar sempre. Ainda que em diferentes ativos de renda fixa.

"As oportunidades de ganhos maiores em renda fixa geralmente são em títulos de dívida. E, quanto maior o risco, maior a rentabilidade. A gente pode diversificar em fundos que tentam alçar esses ganhos maiores. Mas para isso, precisamos fazer uma curadoria para entender o que o gestor está fazendo. O fundo tem que ter uma pulverização de ativos ali dentro. No mesmo fundo pode ter Tesouro, CDBs de bancos, mas é preciso entender qual é a qualidade do crédito que está ali", afirma o especialista.

Fonte: Valor Investe (13/03/2023)

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