quinta-feira, 11 de abril de 2024

TIC: Projeto com tecnologia de Elon Musk conecta mais de 500 comunidades na Amazônia



O maior projeto de conectividade entre povos da floresta, ligando terras indígenas, territórios quilombolas e áreas extrativistas, está em curso na Amazônia brasileiraIniciado em 2022, pretende conectar em rede mais de cinco mil comunidades em áreas protegidas da Amazônia até 2025. O investimento total do projeto, que usa tecnologia de comunicação da Starlink, de Elon Musk, é estimado em US$ 80 milhões. Os recursos são de entidades filantrópicas. O grande investimento é fornecer energia renovável às comunidades.

A iniciativa Conexão Povos da Floresta nasceu na COP de Glasgow (Escócia), em novembro de 2021, antes mesmo da chegada da Starlink ao Brasil. Na ocasião, as principais demandas das populações tradicionais eram demarcação territorial e acesso à conectividade. “Isso nos surpreendeu. Imaginávamos que seria saúde. Mas o fato é que a conectividade permite todo o resto”, diz Tasso Azevedo, presidente do conselho deliberativo da Rede Conexão Povos da Floresta.

“As áreas mais protegidas da Amazônia hoje são aquelas onde estão os povos da floresta”, diz Tasso, fundador do Mapbiomas, rede colaborativa formada por ONGs, universidades e startups de tecnologia que monitora o território brasileiro com dados desde 1985. Nos últimos 40 anos, menos de 1% do desmatamento aconteceu em territórios protegidos. “E a maior parte do desmatamento dessas áreas ocorreu antes de os territórios serem reconhecidos ou acontece por invasões”, continua. Nos últimos anos, por exemplo, o garimpo ilegal em terras indígenas aumentou 10 vezes. “Estes povos estão realmente cuidando da floresta”.

No início do projeto, o acesso à internet foi mapeado em 4.583 comunidades - aldeias indígenas, reservas de seringueiros, comunidades quilombolas e de ribeirinhos. Somente entre 5% a 10% tinham algum tipo de conectividade e eram caras, intermitentes e de baixa velocidade. “Daquelas 4.583 comunidades, só encontramos uma com banda larga”, diz Tasso. O mapa, atualizado, indica hoje 5.700 comunidades.

“Fizemos um estudo para entender qual era a perspectiva de chegada da internet a estes lugares”, conta. “O leilão do 5G havia acabado de acontecer e cruzamos as obrigações do leilão com as comunidades. Só 50 das 4.583 comunidades receberiam internet 4G ou 5G até 2028”, diz ele. “Era uma questão urgente e sem solução no horizonte”.

A escolha pela Starlink levou em conta vários fatores - a opção é mais barata e pode ser implantada pelos próprios indígenas. A instalação, a manutenção e a gestão são feitas pela própria comunidade. O objetivo do projeto é conectar todas as cinco mil comunidades até 2025. Isso quer dizer um milhão de pessoas que protegem 120 milhões de hectares - o equivalente aos estados do Pará com dois estados de São Paulo somados. “Queríamos fazer isso até 2025, porque vai ter a COP 30, em Belém, e pensamos em criar uma força em torno a estas comunidades todas”.

O projeto é liderado por três organizações de base - Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), Confederação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) em parceria com mais de 30 organizações da sociedade civil. É financiado pela filantropia privada com nomes como Gordon and Betty More Foundation e Lemeson Foundation e grandes empresas brasileiras.

No fim de março havia 554 comunidades conectadas, 16 mil usuários cadastrados (pelas comunidades) e 46 mil beneficiários. O projeto tem três componentes - fornecer infraestrutura, controle comunitário e promover inclusão digital. A intenção é abrir frentes, através da conectividade, de telessaúde, educação à distância, economia e segurança do território. “Com as chuvas no Acre, comunidades alagadas pelos rios puderam avisar as outras para protegerem seus pertences”, diz Tasso. Na seca do Amazonas, quem estava conectado conseguiu pedir ajuda.

Fonte: Valor (10/04/2024)



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