sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Meu Bolso: Caso sobre algum, veja o que fazer com seu dinheiro após a Selic ficar em 13,75% pela segunda vez



Independentemente de quando o corte de juros comece, duas dicas são essenciais para os investidores pequenos:

- as aplicações financeiras de renda fixa continuarão chamando a atenção; 

- é bom ser mais conservador nas decisões de investimentos com o cenário incerto.

Nesta quarta-feira (26), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deixou a Selic onde estava, em 13,75% ao ano, pela segunda vez consecutiva, após a maior sequência de alta da taxa básica de juros da história do Brasil. Os aumentos aconteceram para combater a inflação, ao elevar o custo do crédito e, assim, diminuir o consumo.

Agora, o começo do ciclo de cortes divide os economistas. Alguns esperam que a Selic comece a ser diminuída já no 1º trimestre, menos cautelosos diante da deflação dos últimos meses e da chance de maior clareza sobre os gastos do governo após a eleição.

Contudo, outra ala prevê que os juros começarão a recuar em junho ou agosto, mais moderados diante de um ambiente econômico ainda incerto no Brasil e no mundo. As economias grandes estão atrasadas em comparação ao Brasil e ainda estão aumentando juros para combater a inflação.

Independentemente de quando as reduções comecem, duas dicas são essenciais para os investidores pequenos: as aplicações financeiras de renda fixa, especialmente as atreladas à Selic e ao CDI, continuarão chamando a atenção. E em um cenário assim, instável, é bom ser mais conservador nas decisões de investimentos e manter a carteira diversificada, com foco nos objetivos e perfil de cada um.

O comportamento da bolsa brasileira nesta semana é um exemplo da turbulência que ainda pode estar por vir. Os disparos de Roberto Jefferson despertaram medo no mercado de que, caso Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito, Jair Bolsonaro não aceite a derrota e que as ações das estatais sejam penalizadas. Os tiros levaram o Ibovespa a acumular queda de 4,27% em dois pregões, apesar de subir no mês e no ano.

“Os últimos dias deixaram bem claro que eventos inesperados ainda podem impactar a renda fixa e a renda variável e que é hora de os investidores serem bastante conservadores nas suas decisões”, afirma Rodrigo Azevedo, planejador financeiro certificado, economista e sócio-fundador da assessoria de investimentos GT Capital.

Ele aconselha que os conservadores apliquem 75% da carteira em títulos atrelados à Selic ou ao CDI (uma taxa parecida com a Selic), como Tesouro Selic, Certificado de Depósito Bancário (CDBs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).

“A busca deve ser por ativos com liquidez diária e rendimento interessante. Eles permitem aproveitar oportunidades na renda fixa e variável que ainda podem aparecer, porque possibilitam movimentar o dinheiro a qualquer hora”, diz.

Esses investimentos são indicados para formar a reserva de emergência ou para realizar objetivos de curto prazo. Alguns CDBs, LCIs e LCAs, emitidos por bancos, oferecem rentabilidade acima de 100% do CDI (na prática, acima da Selic).

O risco de calote dos títulos emitidos por bancos menores é maior, mas até o limite de R$ 250 mil por CPF por instituição financeira, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) devolve o dinheiro em caso de quebra do emissor.

As aplicações financeiras para realizar objetivos de médio e longo prazo podem ser títulos atrelados à inflação, títulos prefixados e renda variável, que podem render mais que os papéis atrelados à Selic ou CDI, mas dar rendimento negativo ao longo do caminho.

Os títulos atrelados à inflação seguem uma unanimidade entre assessores e consultores de investimentos, apesar da deflação dos últimos meses. “Ter títulos atrelados à inflação na carteira é importante sempre para proteger o investidor da alta dos preços”, recomenda Azevedo.

A remuneração desses papéis é o IPCA mais uma taxa prefixada, determinada na hora da aplicação. Dá para achá-los no Tesouro Direto oferecendo IPCA mais perto de 6% ao ano, com datas de vencimento entre 2026 e 2055. Antes da data de vencimento, eles oscilam bastante e podem dar rendimento negativo. Assim, é necessário estar disposto a sacar o dinheiro apenas no final do prazo para ganhar o combinado.

O planejador financeiro sugere escolher os títulos com prazo curto, porque avalia que os de prazo mais longo não estão oferecendo taxas tão altas que compensem o risco de ficar preso por mais tempo.

Beto Assad, analista de ações e consultor financeiro do consolidador de carteira Kinvo, também aconselha continuar com títulos atrelados à inflação na carteira para defendê-la no médio e longo prazo. “Há boa chance de a Selic cair no ano que vem, mas dependendo do que acontecer fora do Brasil, até existe chance de os juros subirem. O investidor conservador deve priorizar a defesa da carteira em investimentos atrelados à inflação no médio e longo prazo”, afirma.

Entretanto, ele diz que o comprador desses papéis precisa estar disposto a aguentar as oscilações antes da data de vencimento. “O investidor deve ter estômago para aguentar a volatilidade não apenas na renda variável, mas também na renda fixa”, diz.

Alguns assessores e consultores financeiros ainda aconselham comprar títulos prefixados para realizar objetivos de médio e longo prazo, mas essa indicação não é um consenso. Dá para achá-los no Tesouro Direto oferecendo ao redor de 12% ao ano, com datas de vencimento entre 2025 e 2033. Assim como nos papéis atrelados à inflação, é necessário aguardar a data de vencimento para resgatar o rendimento combinado.

Os especialistas que recomendam esses títulos afirmam que é bom comprá-los antes que as taxas deles caiam ainda mais do que já diminuíram com a expectativa de começo do ciclo de cortes da Selic.

“Gostamos muito de títulos prefixados emitidos não apenas pelo governo, mas também pelos bancos. Achamos que a inflação vai continuar arrefecendo, que os juros vão cair a partir de junho e que as taxas estão bem interessantes”, afirma Carol Taira, gestora de portfólios da BSide Investimentos.

Contudo, comprar esses papéis é mais arriscado porque os cortes da Selic podem demorar mais do que o esperado. Caso isso aconteça, o comprador pode ficar preso em títulos com rendimento abaixo da taxa básica de juros. “Apesar de gostarmos dos títulos prefixados, eles têm risco, dependendo da política econômica e fiscal do próximo governo”, diz Taira. Devido a esse risco, ela sugere comprar os papéis de prazo curto.

Younus Mohammad, assessor de investimentos do Santander AAA, programa de assessoria de investimentos do banco, também gosta dos títulos prefixados, mas prefere os de prazo médio. “Não vemos prêmio em atrelados à inflação ou prefixados para curto prazo. Mas para médio prazo, eles podem ser bem interessantes”, afirma.

“No pior cenário, o investidor carrega o título até o vencimento e não terá surpresa financeira. E se eventualmente o mercado colaborar e o juro cair forte, o investidor pode sair com ágio”, diz.

Ele destaca que a diversificação dos investimentos é especialmente importante neste ambiente de turbulência. “É muito difícil ser totalmente assertivo. Com esse cenário adverso, a diversificação é a forma de maximizar ganhos e proteger a carteira”, afirma.

Renda variável

O ambiente para as ações ainda está bastante incerto, diante da alta de juros nas economias grandes e da chance de recessão global, além da incerteza do que acontecerá com o Brasil após a eleição. Há papéis baratos na bolsa brasileira, mas é necessário escolhê-los a dedo, o que pode ser uma tarefa difícil para iniciantes, conforme os assessores e consultores financeiros.

Eles aconselham que aqueles que ainda não são compradores de ações aguardem para entrar na bolsa em um cenário mais claro. “Para quem está fora de ações, agora não é uma boa hora para começar a comprar, porque o investidor pode se machucar”, indica Assad, do Kinvo. “Comprar o mais barato possível nem sempre é o melhor. Às vezes é melhor comprar mais caro, mas com um cenário mais claro.”

Já aqueles que já compraram as ações pensando no longo prazo devem continuar com a sua estratégia definida antes. “Se você acredita nas companhias que comprou, em princípio, não faça nada. Eventualmente, aproveite as quedas para comprar mais”, recomenda o analista de ações.

Entre os papéis mais sugeridos agora, estão os das empresas de valor, aquelas consolidadas, mais protegidas contra crises, mas que estão sendo negociadas com desconto. Bancos e companhias de energia estão entre elas. Já a expectativa para as empresas de crescimento, aquelas que têm parte do seu valor na previsão de futuro, é que elas ainda demorem algum tempo para voltar a serem atrativas.

“Bancos, companhias de energia e de saneamento tendem a se comportar melhor enquanto o cenário estiver indefinido. Quando a queda de juros estiver mais clara, aí o cenário estará mais favorável para empresas que dependem de consumo”, recomenda Assad.

Ainda na renda variável, analistas e assessores afirmam que, em cenários conturbados como agora, é mais fácil ganhar dinheiro em fundos multimercados do que em ações ou fundos de ações. Esses produtos compram ações, commodities, juros e moedas, no Brasil e no exterior, e apostam em altas e baixas dos ativos por meio de operações arriscadas. Assim, independem da direção dos mercados para andar bem.

“Para aqueles investidores que aceitam risco, vemos bons fundos multimercados rendendo 130% ou 140% do CDI. Embora o mercado não esteja fácil, os gestores estão acertando”, aconselha Mohammad, do Santander. Ele prefere esses fundos aos fundos imobiliários, que estão com cotas baratas na bolsa, mas ainda podem demorar algum tempo para se valorizar.

Fonte: Valor Investe (26/10/2022)

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