Há dúvidas sobre impacto no retorno dos portfólios com práticas Ambientais, Sociais e de Governança (ASG)
O engajamento de grandes investidores institucionais, como os fundos de pensão, é fundamental para a evolução das práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) em todo o mundo. Mas, no Brasil, as entidades de previdência fechada ainda não estão totalmente convencidas de que a aderência ao tema é relevante para o retorno dos portfólios, apontam especialistas que participaram do Congresso Brasileiro de Previdência Privada, promovido pela Abrapp, associação que representa o setor.
A adoção do ESG não significa que as opções de investimentos ficarão mais restritas, afirma o sócio e gestor de fundos de ações da JGP, Marcio Correa. As mudanças têm mais a ver com governança e visão de longo prazo, acrescentou.
Uma pesquisa da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), divulgada em 2021, mostrou que mais de 70% das fundações que participaram responderam que a adoção de critérios ESG reduz as opções de investimentos disponíveis. No setor, a maioria das fundações vê as práticas ESG somente como um auxiliar na gestão de riscos ou como requisitos da regulação, o que mostra a baixa demanda pelo tema.
Em alguns momentos é possível que ativos aderentes às práticas ambientais sociais e de governança tenham resultados inferiores do que aqueles que não o fazem, disse Correa. Em um exemplo hipotético, companhias ligadas a petróleo, podem ter, por algum período, um resultado melhor do que empresas de energia renovável. Na visão de Correa, isso é momentâneo. “No longo prazo não vejo isso acontecendo. Estudos mostram que processos e filosofias ESG geram alfa positivo de retorno.”
Segundo o diretor de investimentos da Previ, Denísio Liberato, a integração ESG é uma evolução no processo da filosofia e análise dos investimentos. “À medida que se integram os processos ESG, a visão sobre a companhia fica mais holística. [A análise] entra mais no modelo de negócios da companhia, vai além da gestão de risco. A integração às práticas ESG é positiva.”
Liberato é candidato da Previ ao conselho da iniciativa internacional Princípios para o Investimento Responsável (PRI, na sigla em inglês). O fundo de pensão foi o primeiro da América Latina a ser signatário da iniciativa, em 2005. Apesar de já ter participado do conselho, está há alguma tempo sem um assento. “Tentamos buscar um protagonismo para a América Latina”, afirmou.
O diretor da Previ acredita que há uma evolução das empresas com relação às práticas ESG, sobretudo as que possuem acionistas estrangeiros, mas ainda há espaço para avançar no Brasil. “Na Previ, temos nosso rating proprietário [ESG] há muito tempo. Listamos nossas investidas, identificamos lacunas e fazemos engajamento. Pedimos que as empresas divulguem dados faltantes, precisamos de séries históricas”, afirmou.
Desde que se voltou para o ESG, a JGP se propôs a ser uma acionista mais ativista, diz Correa. O engajamento se dá por meio de participação em assembleia e discussões com a direção das empresas. Foi o caso, por exemplo, da Alpargatas. A gestora pediu, por três anos, para que a empresa divulgasse um relatório de sustentabilidade, com objetivo de entender o impacto dos chinelos Havaianas, fabricados pela empresa. Outro exemplo se deu em abril deste ano, quando a JGP se mostrou contrária à política de remuneração de executivos do Assaí. Um dos focos atual é o desmatamento ambiental, tanto em relação a frigoríficos quanto a bancos.
Fonte: Valor (21/10/2022)
Nota da Redação: Como exemplo de ativos nacionais ligados ao ESG podemos observar os fundos multimercado ESG que renderam nos últimos 12 meses 7,38% e os fundos de ações ESG globais que tiveram uma perda de 21,19% no mesmo período, enquanto o CDI rendeu 10.90%.
Uma demonstração que fora do país o ESG anda bem menos acreditado que aqui.
Mas como dito anteriormente, os fundos de pensão devem pensar no longo prazo e nessa visão o ESG certamente ainda trará bons resultados.
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