segunda-feira, 9 de agosto de 2021

TIC: Receita das teles encolhe em cinco anos, mas elas buscam novos negócios fora de telecom



As grandes operadoras investem em finanças, educação, saúde, entretenimento, logística e publicidade, entre outros setores 

Com receita em queda e pressionadas a manter níveis altos de investimento, as operadoras de telecomunicações estão abrindo, ou planejando abrir, negócios nas áreas financeira, de educação, saúde, entretenimento e logística.  

A receita bruta anual das teles recuou de R$ 276 bilhões em 2016 para R$ 249 bilhões no ano passado, considerando valores corrigidos pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), segundo dados compilados pela Conexis Brasil Digital, sindicato do qual fazem parte as principais operadoras do país. Os investimentos das teles, por sua vez, têm se mantido acima de R$ 30 bilhões nos últimos cinco anos. 

Donas de uma base 323 milhões de acessos no país, considerando os segmentos de telefonia celular, fixa, banda larga e TV, as teles se posicionam como “fornecedoras de clientes” para parceiros capazes de ganhar escala rapidamente em novos mercados. Em troca, recebem participação no capital dos parceiros.  

“A busca por novos negócios é uma busca por crescimento”, resume Marcio Fabbris, vice-presidente de B2C (negócios voltados ao consumidor final) da Telefônica, dona da marca Vivo.  

Única das grandes operadoras a divulgar projeções para receitas não tradicionais, a Oi, que está em recuperação judicial, pretende alcançar um faturamento adicional de até R$ 1,5 bilhão em 2024. Se confirmada, a cifra corresponderia a cerca de 10% da receita líquida da companhia para o período.   

“A [nossa] expectativa é ir além disso”, ressalta o diretor-presidente da Oi, Rodrigo Abreu. “Existe, sim, um caminho muito amplo para basear nossas ofertas adicionais com o foco de tornar [a Oi] uma marca de consumo, uma marca que está presente para entregar muito mais do que só conectividade. [Uma marca que] entrega serviços locais, logística, serviços de conteúdo, entretenimento e educação, serviços de assistência técnica, de assistência ao cliente, financeiros”, diz Abreu.  

A Oi quer tirar proveito da abrangência geográfica de suas operações - está presente em cerca de 4.800 municípios - e do fato de contar com uma empresa própria de implantação e manutenção de redes, a Serede.  

A ideia básica, como em outras operadoras, é conectar parceiros e clientes. Só o tamanho dos mercados de conteúdo e telemedicina era em 2020 de R$ 7 bilhões e R$ 3 bilhões, respectivamente, de acordo com plano o estratégico da Oi para o triênio 2022-24.  

A diversificação das teles foi tentada há alguns anos. As quatro maiores operadoras móveis do país lançaram ao longo da década passada serviços financeiros que acabaram sendo descontinuados: Oi Paggo, TIM Multibank Caixa, Vivo Zuum e Meu Dinheiro Claro.  

O vice-presidente de Estratégia e Transformação da TIM Brasil, Renato Ciuchini, vê diferenças em relação às tentativas recentes de diversificação. “O nível de funding [financiamento] das startups é incomparável”, diz. “O mundo está, também, mais digitalizado.”  

Parte da estratégia das operadoras para se beneficiar da expansão dos novos negócios passa por acordos que atrelam desempenho (o volume de clientes convertidos, por exemplo) a participações acionárias. A TIM, por exemplo, detinha no fim de junho 2,9% de participação acionária no banco virtual C6, graças a um número recorde de contas abertas. As empresas firmaram a parceria em 2020. Ainda em junho deste ano, o JP Morgan adquiriu 40% do C6 por um valor não divulgado. Com base em cifras bilionárias ventiladas à época chegou-se a estimar que o banco digital poderia valer R$ 25 bilhões.   

A estratégia de entrar em um negócio novo também está sujeita a chuvas e trovoadas. A relação entre TIM e C6, por exemplo, já viu dias melhores. A operadora abriu processo de arbitragem contra o C6 no Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá para discutir cláusulas contratuais. “Não queremos ser um banco e nem uma empresa de educação ou saúde”, frisa Cichini, sem querer comentar a disputa arbitral entre as duas partes.  

Numa linha similar à do acordo firmado com o C6, a TIM anunciou no mês passado parceria no segmento de educação a distância. O contrato foi fechado com a Kroton, braço de ensino superior da companhia Cogna. A depender das metas atingidas, a TIM poderá deter até 30% de participação na Ampli, plataforma digital criada pela Kroton em 2020, a partir de um investimento de R$ 240 milhões.  

A Telefônica também busca ser um “sócio relevante” nas plataformas digitais que está lançando, informa Fabbris. Como exemplo, o executivo cita a possibilidade de a operadora ficar com uma fatia de até 5% do marketplace (shopping virtual) CDF, especializado em serviços de assistência residencial e tecnológica.  

A Claro, do grupo mexicano América Móvil, não descarta seguir esse mesmo caminho. “Pode ser. A gente ainda não conseguiu encontrar um nicho em que [isso] possa fazer sentido”, diz Fábio Maeda, diretor de Serviços Digitais e Inovação Móvel da Claro. “Porque pode ser bom você entrar com uma participação, só que isto gera quase que uma exclusividade”.  

Na área de serviços financeiros, a Claro tem como trunfo o fato de a América Móvil ter uma instituição financeira operando no país, o Banco Inbursa Brasil. A operadora está selecionando “vários parceiros” para adicionar à sua carteira digital. “A Claro Pay não vai ter produtos próprios [desenvolvidos internamente] porque não temos expertise”, diz Maurício Santos, diretor de Soluções e Serviços Financeiros da Claro. As iniciativas de diversificação incluem ainda telemedicina, educação e publicidade.

Fonte: Valor (09/08/2021)

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