Ou seja, apesar de um dos ministros ter pedido vista por 60 dias, prazo depois encolhido para 30 dias, forçou-se uma série de votações, primeiro para desqualificar o pedido, e finalmente impondo ao revisor um prazo inexequível diante da complexidade do tema. “Não posso deixar de registrar minha indignação”, pontuou Cedraz.
Embora exista previsão regimental de que o Plenário pode votar o prazo dos pedidos de vista, não há registro de precedente. Ao contrário, a cada manifestação apresentada, o TCU expôs publicamente, ainda que veladamente, a pressão para aprovação imediata do edital, como quer o Ministério das Comunicações.
Pouco depois da apresentação do voto do relator, Raimundo Carreiro, que por sinal é calcado na ideia de que ilegalidades apontadas pela área técnica sobre a proposta devem ser ignoradas diante do que chamou de “zona de incerteza” normativa e em “irregularidades sanáveis”, houve uma manifestação do ministro ds Comunicações, no twitter. É que mal começou a votação, ainda no terceiro ministro a se manifestar, Fabio Faria cantou o placar de sete votos favoráveis na rede social.
Em seu voto, Raimundo Carreiro entendeu que os argumentos da área técnica sobre ilegalidades, especialmente nas obrigações impostas pelo Minicom – rede privativa do governo e fibras na Amazônia – não constituem motivos para excluir tais compromissos do edital. Como disse, são “irregularidades sanáveis”.
Nessa linha estavam acompanhando o decano Walton Alencar e o ministro Augusto Nardes. Veio então o ministro Aroldo Cedraz, que pediu vista por 60 dias e justificou. Como apontou, pediu mais tempo para analisar diante das “falhas e ilegalidades apontadas no substancioso relatório da equipe [técnica], que representam os maiores riscos de que a licitação e a a consequente implantação do 5G no país, além de causarem prejuízos ao Erário e ao cidadão, perpetuem o atual cenário de serviços caros, de baixa qualidade e cobertura insuficiente, em que o maior prejudicado é quem paga”.
Em situação normal, a sessão terminaria ali mesmo. Mas em movimento sem precedentes, a presidente Ana Arraes não apenas manteve a votação, que, surpresa!, chegou ao placar de sete votos em apoio ao relator, como ainda tentou colocar em discussão parte do pedido de vista. E, enfim, por proposta de Jorge Oliveira, o mesmo placar de maioria aprovou a redução do prazo pedido para apenas sete dias.
Para completar o inusitado, o TCU sugeriu um papel de irrelevância para si próprio. É que o ministro Bruno Dantas chegou a defender que a Anatel nem precisaria esperar a aprovação do Tribunal para publicar o edital. “A lei não exige. Com ou sem deliberação da Corte, a Anatel e o Ministério estão aptos a já divulgarem o edital.”
Incrédulo, Cedraz evidenciou o movimento inédito. “Não conheço na historia da Corte alguma ocasião que o Plenário tenha imposto prazo para vistas de qualquer ministro da Casa. Salvo melhor juízo, a proposta está fragilizada por uma série de tropeços. Temos o dever de zelar por aqueles que pagam, pelo cidadão brasileiro. O TCU não pode, por brevidade ou interesse de qualquer parte, aceitar a ideia de rolo compressor.”
Fonte: Convergência Digital (18/08/2021)
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