terça-feira, 17 de agosto de 2021

TIC: Teles investem em cursos próprios para Educação a Distancia (EAD) de seus clientes



Provedoras de internet fixa e móvel estão formando parcerias com 'edtechs' e até comprando geradoras de conteúdo educacional

Aulas de reforço de matemática, curso de extensão de marketing, profissionalizante de manicure e até graduação em gestão de saúde pública ou engenharia de software. Um mundo de conhecimento na palma da mão, na tela do celular.

É assim que as principais operadoras de telecomunicações do país apresentam um novo nicho de negócios que pode ajudá-las a gerar novas receitas: a educação on-line. Provedoras de internet fixa e móvel estão formando parcerias e até comprando geradoras de conteúdo educacional.

Com o desafio de ampliar suas bases de clientes, as teles investem no desenvolvimento de novos formatos de aprendizagem on-line, que podem ser acessados em qualquer lugar via internet móvel ou por banda larga.

Entre os formatos estão aulas mais dinâmicas e apropriadas para pequenas telas, com vídeos e áudios em formato de podcasts.

A nova modalidade pode ajudar na democratização do conhecimento, já que vem acompanhada de acirrada competição, com cursos gratuitos e graduações com mensalidades a R$ 99.

As condições são atraentes porque, por trás dessa aposta, está a busca de fidelização. É mais difícil perder um cliente para a concorrência quando ele contrata serviços além do pacote de internet. E reter usuários é tudo o que as empresas precisam em meio à transformação do setor de telecomunicações.

Pandemia acelera o EAD

As teles miram o potencial de crescimento do ensino a distância (EAD), acelerado pela pandemia. Estudo do Credit Suisse aponta que o total de estudantes em cursos on-line de nível superior no país deve mais que dobrar até 2030, passando dos atuais 2,3 milhões para 5,5 milhões.

A pós-graduação já avança no modelo remoto, assim como pequenos cursos livres ou complementares, como os de idiomas.

Em julho, a TIM anunciou que vai se tornar acionista da Ampli, uma start-up do Cogna Educação, um dos maiores grupos do setor no país.

O objetivo é oferecer a seus mais de 50 milhões de usuários cursos livres, de graduação e pós-graduação. Renato Ciuchini, vice-presidente de Estratégia e Transformação da TIM, diz que a tele poderá ter até 30% da ações da start-up:

— Queremos agregar valor e nos diferenciar de um mercado “comoditizado”. O usuário com mais de um serviço é mais engajado e a taxa de cancelamento é menor. Assim, ganhamos uma receita adicional e criamos uma participação em uma empresa que vai crescer e se tornar um investimento.

Cliente da TIM, a analista de marketing Rhayssa Rodrigues ficou sabendo por uma amiga que havia cursos grátis no celular.

Ela mora em Campo Grande e trabalha em Sepetiba, ambos na Zona Oeste do Rio, e passou a ocupar o tempo no ônibus com um curso de marketing de 20 horas.

— Achei diferente e interessante porque fornece vários conteúdos, não só da minha área. O conteúdo é objetivo e bem explicado, então não dá para você cansar no meio do caminho. É prático, pois tem texto e vídeo. Pretendo fazer mais. Mesmo sendo cursos rápidos, ajudam a levantar o currículo — diz ela.

O plano da TIM é que a Ampli abra seu capital na Bolsa de Valores em cinco anos. Hoje, já são 400 cursos livres, disponíveis gratuitamente para os clientes da operadora, com temas variados e durações a partir de 20 horas.

Já os de graduação, com aval do MEC, para formações do tipo tecnólogo, licenciatura e bacharelado, saem a partir de R$ 99 por mês com duração de 3 a 4 anos. Há também o segmento de pós, com especialização e MBA com até nove meses de duração e a partir de R$ 210.

— O preço é menor porque o custo é mais baixo. Com a compra de parte da Oi, teremos 30% de participação do mercado de telefonia móvel. Vamos ter uma escala grande — diz Ciuchini, da TIM.

Na Vivo, com 81 milhões de linhas de celular, o primeiro passo começou com a Wayra, seu hub de inovação. Esse braço da Vivo se tornou acionista da Alicerce Educação, com cursos on-line de matemática e português para complementar a educação de jovens, por exemplo.

Agentes do setor apontam que a Vivo busca novas aquisições ou parcerias na área de ensino. Livia Brando, diretora da Wayra, não dá detalhes da estratégia, mas admite que educação é prioridade:

— A pandemia mudou o comportamento. E não se faz educação a distância sem conectividade. Queremos formar mais. A ideia é desenvolver ofertas de cursos para os clientes de forma a melhorar sua qualificação e qualidade de vida. A nova fase da educação será um modelo híbrido.

Formação profissional

A Claro começou pelo público que se prepara para o Enem e os vestibulares e também foca no segmento profissionalizante.

A empresa criou, em maio, o Claro Cursos, que tem mais de 100 cursos de capacitação para ajudar na geração de renda, com temas como gastronomia, paisagismo e beleza. Baseado em um aplicativo, o serviço pode ser acessado também por meio de um site.

— Educação tem um papel importante, pois cria valor. Agora, estamos desenvolvendo parceria com instituições de ensino para oferecer cursos variados no segundo semestre. Temos 60 milhões de clientes. Esse é um ativo importante também para as empresas de educação — diz Fabio Maeda, diretor de Inovação e Serviços Digitais da Claro.

Claudia Sant’Anna, que se dedica à especialização no mundo dos chás, decidiu aproveitar o período de confinamento na pandemia para reforçar seus estudos. Fez um de sommelier de chás e outro de marketing via internet, podendo acessar o conteúdo do celular, do tablet ou do laptop.

— Já notei que hoje há muitas opções de cursos pela internet, como no celular. Isso tudo ajuda a aprimorar e dar suporte ao meu negócio — disse Claudia, que comanda a fabricante Espírito de Chá.

A Oi, que vendeu sua operação de celular recentemente para Vivo, TIM e Claro, também estuda formas de entrar no setor de educação para criar novas experiências digitais, revela Rogerio Takayanagi, vice-presidente de Estratégia.

As apostas das teles

De cursos livres à pós-gradução

A TIM vai se tornar acionistas da Ampli, start-up do grupo Cogna Educação. A tele oferece a seus clientes cursos livres, de graduação e pós-graduação. Há opções gratuitas e de até R$ 99 por mês.

Aplicativo com opções variadas

A Claro tem cerca de 100 cursos livres de 35 horas para promover geração de renda extra, oportunos num momento de alto desemprego. Há aulas de administração, culinária, informática, finanças e maquiagem.

Aulas de reforço para jovens

Na Vivo, a Wayra, braço de inovação da tele, comprou a Alicerce Educação, voltada para reforço escolar. Agora, mira em parcerias e pode comprar outras empresas para expandir a atuação, dizem fontes.

Fonte: O Globo (16/08/2021)

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