terça-feira, 17 de agosto de 2021

Planos de Saúde: Jogo vira e planos de saúde têm perdas, enquanto hospitais lucram. Deve vir aumento no próximo ano!



De acordo com a fase, pandemia provoca resultados extremos para atores do setor 

A pandemia provocou impactos distintos entre os grupos de saúde. No ano passado, as operadoras e seguradoras viram seus lucros saltarem a níveis recordes devido ao cancelamento de procedimentos eletivos - levando, inclusive, o setor a registrar pela primeira vez em sua história uma deflação médica. Já os hospitais, clínicas e laboratórios de medicina diagnóstica amargaram prejuízo ou tiveram lucro pífio, uma vez que a conta dos pacientes acometidos pela covid-19 é menor quando comparada aos custos de cirurgias e exames de alta complexidade. Em 2021, o jogo virou. Os pacientes, que estavam praticamente há um ano sem pisar num consultório, voltaram a realizar procedimentos médicos e, em março, veio a segunda onda da covid-19, numa intensidade muito maior do que a primeira.  


O resultado desse movimento fica claro nos balanços do segundo trimestre das companhias abertas que atuam no setor. Os hospitais e laboratórios reverteram os resultados negativos apurados no mesmo período do ano passado. Já as operadoras e seguradoras, que pagam essas contas médicas, tiveram prejuízo ou viram o lucro cair até 92%. 

“Tivemos o melhor trimestre no ano passado e agora tivemos o pior na história da companhia”, disse Irlau Machado, presidente da NotreDame Intermédica. A operadora apurou um prejuízo de R$ 48 milhões, no segundo trimestre, ante um lucro de R$ 223,4 milhões um ano antes. Os custos da covid-19 somaram, entre abril e junho, R$ 358 milhões, quase R$ 100 milhões a mais em relação ao primeiro trimestre.   

A Porto Seguro Saúde também saiu de um resultado positivo de R$ 50 milhões para um negativo de R$ 1,3 milhão. O lucro líquido da Hapvida caiu 62,5%, entre abril e junho. Na SulAmérica, a última linha do balanço apresentou queda de 92,6% e na Bradesco Saúde, a redução foi de 56,8%.  

Já entre os prestadores de serviço, praticamente todas as empresas listadas em bolsa saíram de prejuízo para lucro neste trimestre. A Rede D’Or, que tinha amargado um resultado negativo de quase R$ 300 milhões, viu a última linha do balanço subir para um lucro de R$ 445,5 milhões. O mesmo ocorreu com a Dasa que reverteu o prejuízo de R$ 343 milhões para um lucro líquido ajustado de R$ 451,5 milhões. O Fleury saiu de um indicador no vermelho de R$ 73,3 milhões para fechar o segundo trimestre no azul, com R$ 65,5 milhões, mesmo considerando o ciberataque sofrido no fim de junho. A Alliar deixou pra trás o prejuízo de R$ 84,6 milhões e lucrou R$ 10,4 milhões. A rede mineira de hospitais Mater Dei viu seu lucro saltar nove vezes para R$ 53 milhões.  

O grupo de medicina diagnóstica Hermes Pardini, cujos resultados serão divulgados hoje após o fechamento do mercado, também deve trazer resultados fortes. Segundo projeções da XP, o lucro líquido da rede deve ter um incremento de cerca de oito vezes.  

A expectativa é que esse cenário de retomada de procedimentos médicos se mantenha nos próximos meses. O volume de exames nos laboratórios vem crescendo, o que pode significar cirurgias futuras, e ainda há um chamado estoque de procedimentos não realizados no passado que podem vir acontecer. Além disso, há a possibilidade de surgimento de casos complexos de pacientes que não realizaram seus check-ups nos últimos meses. No entanto, vale ponderar que pode haver mudanças nesse cenário, caso a variante Delta se alastre de forma relevante.  

Por outro lado, com o arrefecimento da covid-19, o impacto da doença será menor nos próximos trimestres para as fontes pagadoras. “Os resultados refletem a segunda onda da covid-19, é um impacto transitório, mas ainda trará algum reflexo, pequeno, no terceiro trimestre”, informou relatório dos analistas do Credit Suise.  

As operadoras verticalizadas Hapvida e Intermédica tendem a ser mais beneficiadas com a redução de internações de pacientes acometidos pelo novo coronavírus. Isso porque elas estão reduzindo a infraestrutura para esses atendimentos. A Hapvida, por exemplo, tinha no auge da pandemia 1,6 mil leitos para covid e, atualmente, são cerca de 100 e houve uma redução de 80% no efetivo de pessoal que atendia os pacientes com a doença.  

Entre as fontes pagadoras, a Bradesco Saúde é a que teve o maior impacto dos custos da covid-19 no segundo trimestre. A conta bateu em R$ 1, 8 bilhão, o que refletiu na taxa de sinistralidade de 95,1%, o que representa uma alta de 25,1 pontos percentuais sobre igual período de 2020.  

“O desempenho do lucro líquido no trimestre foi impactado pela elevação do índice de sinistralidade, que foi afetado pela frequência dos eventos relacionados à covid-19, devido ao aumento da necessidade de assistência médico hospitalar, diagnósticos, consultas, internações, eventuais consequências pós-Covid-19, retomada dos procedimentos eletivos”, informa relatório de resultados do Bradesco.  

Na SulAmérica, esse custo foi de R$ 468 milhões, o que levou o sinistro a aumentar 16,2 pontos percentuais, para 85,7%. As seguradoras não possuem rede própria e por isso os gastos médicos são maiores. Na Hapvida, cujo atendimento é feito praticamente todo em unidades próprias, a conta da covid foi de R$ 153,5 milhões, mas ainda assim a taxa de sinistralidade subiu na mesma proporção da SulAmérica.  

Apesar dos números negativos na rentabilidade das operadoras, a receita de todas cresceram devido a aquisições e entrada de novos usuários. Mesmo num cenário de alto desemprego, a demanda por convênio médico vem crescendo uma vez que a população quer ter acesso à saúde privada em tempos de pandemia. Nos últimos 12 meses, considerando junho, o setor registrou 1,5 milhão novos usuários de planos de saúde, totalizando 48,2 milhões - o maior volume desde meados de 2016.

Fonte: Valor (16/08/2021)

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