Voluntários que participaram da pesquisa foram imunizados com a CoronaVac, mas estudo considera “plausível” que o mesmo efeito seja observado com todos os imunizantes contra a Covid-19 e também contra outras doenças
Pessoas fisicamente ativas podem responder melhor a performance do sistema imune induzida por vacinas contra a Covid-19, independente de fatores como idade e sexo. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), divulgado nesta terça-feira, com cerca de 1.095 voluntários, todos imunizados com a CoronaVac, mostrou o benefício do “tempo ativo” seja ele dedicado aos exercícios ou a outras atividades.
Segundo a pesquisa, que considerou como “tempo ativo” não só a prática de exercícios, mas também outras atividades - como passear com o cachorro, limpar a casa, cuidar do jardim, lavar a roupa na mão, carregar pesos, realizar consertos, andar a pé ou de bicicleta até o trabalho, o supermercado ou a escola, por exemplo - os voluntários relataram ao menos 150 minutos de funções semanais, somando os vários domínios analisados, e não apresentavam comportamento sedentário, ou seja, não passavam mais de oito horas diárias sentados ou deitados.
Ativos e sedentários
O nível de atividade física foi mensurado por meio de entrevistas telefônicas.
— Uma pessoa que corre durante uma hora todos os dias e passa o resto do tempo sentada em frente a uma tela é considerada ativa e sedentária ao mesmo tempo. Nós combinamos esses dois conceitos diferentes em nossa análise —, explica Bruno Gualano, professor da Faculdade de Medicina (FM-USP) e primeiro autor do artigo.
— Quando olhamos para os dados, percebemos claramente que eles formam uma ‘escadinha’: no alto, com a melhor resposta vacinal, estão os ativos não sedentários. Na sequência, vêm os indivíduos ativos e sedentários. Por último, os inativos e também sedentários — conta.
Todos os participantes da pesquisa foram imunizados com a CoronaVac, entre fevereiro e março de 2021. A qualidade da resposta vacinal foi avaliada por meio de diversos testes laboratoriais, sendo os principais aqueles que mensuraram a produção total de anticorpos contra o SARS-CoV-2 (IgG total) e a quantidade específica de anticorpos neutralizantes (NAb) – aqueles capazes de impedir a entrada do vírus na célula humana.
De acordo com o critério adotado pelos pesquisadores, atingiram a chamada “soroconversão” os voluntários que no exame de IgG total apresentaram pelo menos 15 unidades arbitrárias (UA) de anticorpos por mililitro (mL) de sangue.
No caso dos anticorpos neutralizantes, considerou-se uma resposta positiva quando, no ensaio in vitro feito com o plasma sanguíneo, observou-se ao menos 30% de inibição da ligação entre o SARS-CoV-2 e o receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2, na sigla em inglês) – proteína existente na superfície de algumas células humanas à qual o vírus se conecta para viabilizar a infecção.
— Os resultados nos permitem concluir que a atividade física potencializa a resposta vacinal contra a Covid-19 independentemente de fatores como idade, sexo e uso de imunossupressores. Realizar o mínimo de atividade física já produz uma resposta positiva, porém, observamos que quanto mais movimento, melhor. As respostas mais consistentes foram vistas entre os pacientes que realizavam 50 minutos ou mais de atividade física diariamente —, conta Gualano.
Embora só tenham sido avaliados indivíduos imunizados com a CoronaVac, o pesquisador considera “plausível” que o mesmo efeito seja observado com todas as vacinas contra a Covid-19 e também contra outras doenças.
Fonte: O Globo (11/08/2021)
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