Sob ataques russos, ucranianos acima dos 60 anos correspondem a quase 18% dos 43 milhões de habitantes do país, o equivalente a cerca de 7,4 milhões de pessoas
Em meio à guerra na Ucrânia e à crise humanitária resultante do crescente número de refugiados — que chegou a 2,6 milhões neste sábado, ou 2% do total global —, há outro aspecto que preocupa nesse conflito armado: a situação daqueles que não conseguem escapar, sobretudo os mais velhos, que se tornam alvos fáceis de abusos, abandono e negligência governamental.
Segundo relatório da Human Rights Watch divulgado em fevereiro, idosos correm alto risco em zonas de guerra, incluindo execuções, estupros, tortura e sequestros. Além dos abusos documentados, o relatório também denuncia as barreiras para obtenção de ajuda humanitária durante conflitos, o que evidencia a falta de preparo de governos e de organizações para lidar com situações do tipo.
Em muitos casos, a vulnerabilidade dos mais velhos é resultado de doenças e da mobilidade limitada, uma vez que não podem se deslocar com facilidade para regiões mais seguras. Em outras situações, há aqueles que resistem à ideia de deixarem suas casas e decidem permanecer nas zonas de conflito. Outros são simplesmente abandonados pelas famílias, muitas vezes pelo fato de não conseguirem acompanhá-las.
— As agências da ONU, missões de paz e atores humanitários devem garantir que todas as atividades de proteção e assistência incluam os idosos e suas necessidades específicas — defende Bridget Sleap, autora do relatório e pesquisadora sênior sobre os direitos dos idosos da HRW. — As pessoas mais velhas, com suas necessidades únicas de proteção, não devem mais ser vítimas invisíveis de conflitos armados.
Na última quinta-feira, o Comitê de Emergência para Desastres (DEC, na sigla em inglês), formado por ONGs britânicas, alertou sobre o perigo que idosos correm atualmente na Ucrânia, país cuja população acima dos 60 anos corresponde a cerca de 7,4 milhões de pessoas — ou quase 18% dos 43 milhões de habitantes do país.
Segundo a Age International, uma das ONGs que fazem parte do DEC e que têm prestado assistência a pessoas mais velhas na região de Donbass, no Leste do país, nove em cada dez idosos relatam precisar de ajuda para obter comida e água devido aos bombardeios recentes. Mais de um terço deles necessita com urgência de medicamentos para doenças crônicas, como diabetes e problemas de pressão arterial.
As dificuldades, no entanto, podem ir além e se estenderem ao acesso a serviços públicos básicos.
Antes de começar a ofensiva do presidente russo, Vladimir Putin, em 24 de fevereiro, parte da população mais velha do país já enfrentava problemas nas áreas afetadas pelos conflitos iniciados em 2014, quando separatistas pró-Moscou passaram a entrar em choque com as forças de Kiev em áreas de Donbass.
De acordo com a HRW, o governo parou de financiar serviços nas autoproclamadas repúblicas populares de Luhansk e Donestk, tornando difícil o acesso de muitos idosos desses territórios separatistas à própria aposentadoria, forçando-os, por exemplo, a se deslocar entre áreas de risco para receber o dinheiro.
O documento aponta que, em 2019, mais de 450 mil dos 1,2 milhão de pensionistas que viviam nessas áreas não receberam a aposentadoria, tornando-se carentes de recursos para sustento próprio.
Além disso, as viagens entre as regiões de conflito também se mostram perigosas e fisicamente desgastantes para os mais velhos. Entre janeiro e abril de 2019, de acordo com a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), ao menos 19 pessoas morreram ao atravessar os postos de controle entre essas regiões, principalmente idosos com complicações relacionadas ao coração.
Fonte: O Globo (12/03/2022)
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