Atualmente, 80% dos contratos são empresariais ou coletivos. Empresas do setor, como a gigante UnitedHealth, dona da Amil, preparam ofertas
Os planos de saúde individuais estão voltando às prateleiras das operadoras. Esse tipo de contrato, cuja oferta vinha minguando há mais de uma década, deixando consumidores sem opções sobretudo nos grandes centros, surge agora com nova roupagem, oferecido tanto por empresas recém-chegadas ao mercado que usam a tecnologia para baixar custos, como por operadoras tradicionais que oferecem sua rede regional para a assistência a planos individuais.
Em 2021, havia 3.988 planos individuais à venda, o maior número em cinco anos, 125 contratos a mais que no ano anterior, que tinha sido de tímida expansão. Hoje, mais de 80% dos planos de saúde são empresariais ou coletivos.
O UnitedHealth Group avalia retomar a venda de planos individuais por operadoras do grupo, como a Ana Costa, em Santos, e a Santa Helena, em São Paulo. Ambas têm operação baseada em hospitais próprios. É o mesmo modelo da Sobam, da UnitedHealth, sediada em Jundiaí, que oferece plano individual na região.
O UnitedHealth é dono da Amil e tentou vender a carteira de 340 mil planos individuais e familiares da operadora a um grupo de investidores, em operação vetada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A oferta de contratos individuais por operadoras regionais do grupo seria, segundo fontes, um ensaio para retomar a venda de planos pela Amil, que é sua marca líder.
Gestão da saúde
Outras grandes empresas, dizem fontes, estão estruturando a oferta de planos individuais. Entre elas, estaria a NotreDame Intermédica. Procurada, a empresa afirma que já vende planos individuais em alguns locais estratégicos, sem dizer quais são, mas admite que o estudo da venda desses produtos em outras cidades faz parte do plano constante de expansão, sem citar prazos nem regiões prioritárias.
Marcos Novais, superintendente da Abramge, associação que reúne operadoras de medicina de grupo, diz que o crescimento na oferta de planos individuais tem sido impulsionado por novas empresas, com uso intensivo de tecnologia. São operações que, segundo ele, têm como característica o “acompanhamento 360 graus” dos usuários:
— São empresas que trabalham de forma integrada com a rede, com dados e protocolos. Ou então têm um modelo verticalizado, de rede própria (quando a operadora do plano de saúde é também dona dos hospitais e clínicas). A principal característica é a gestão de saúde, que traz bons resultados para o consumidor e para as contas da empresa, reduzindo eventos graves, como internação, que são os mais caros.
A gestão de saúde envolve medicina preventiva, atendimento primário e acompanhamento mais próximo de pacientes crônicos, reduzindo custos de atendimentos de emergência ou ocorrência de casos mais graves. Novais vê essa mudança no setor refletida no número de operadoras associadas à entidade, com 40 novos participantes desde o início da pandemia.
Outra característica dos planos individuais nas prateleiras é a regionalização. Esse é o modelo adotado pela operadora Alice, que começou a funcionar há cerca de dois anos e tem dez mil beneficiários, todos paulistanos, dois centros de atendimento primário, com consultas e pequenos procedimentos, uma rede com 12 hospitais, 200 laboratórios, mais de 150 especialistas conveniados e 700 funcionários.
A perspectiva é de crescimento, com foco nos 12,3 milhões de moradores da cidade de São Paulo, onde ela identifica baixa oferta de planos individuais.
— Nossa meta é crescer na cidade, ampliar a oferta de tipos de produtos e a cobertura dentro de São Paulo, para atender a quem mora em diferentes regiões. Hoje, 84% dos eventos de saúde da Alice são atendidos na operação de rede própria, e a maior parte é feita virtualmente. A rede enxuta de parceiros permite integração profunda, com a possibilidade de desenvolver uma saúde baseada em valor e a integração de dados — diz Guilherme Azevedo, co-fundador e chief Health Officer da Alice.
Chat e monitoramento
Tecnologia de informação e teleatendimento estão entre os pilares da nova geração de planos individuais. A Alice, por exemplo, nasceu da parceria de Azevedo, que vinha de uma década no Dr. Consulta, com André Florance e Matheus Moraes, egressos da 99. A empresa que captou US$ 175 milhões em três rodadas de investimento, desenvolveu em casa chat, protocolos de atendimento e de gerenciamento das tarefas da equipe de monitoramento do usuário.
É uma empresa de “tecnologia raiz”, diz Azevedo. Segundo ele, isso permitiu que, em 20 meses, o preço de entrada dos planos ao público-alvo médio (profissionais liberais na faixa etária dos 30 anos) caísse de R$ 900 para R$ 580.
Preço de entrada é mais alto
O paulista Ricardo Queiroz, de 30 anos, diretor geral da Campus Party, já tinha tido plano de saúde individual e coletivo por adesão e estava sem cobertura em 2020, auge da pandemia, quando decidiu voltar à saúde suplementar.
— Tinha claro que queria um plano individual, quando achei um plano com o perfil digital fez sentido pra mim. O custo foi mais alto do que pagava no coletivo, mas ter um time de saúde que me acompanha fez muita diferença, principalmente quando tive Covid e fiquei internado em dezembro de 2020. A facilidade de falar com os profissionais, por um clique no celular, por exemplo, me levou a parar com automedicação e consultar para eventos que antes eu deixaria para lá. Além disso, ao contratar um plano individual, acabei com o risco de percentuais de reajustes abusivos — conta Queiroz, que é cliente da operadora Alice.
Tradicionalmente, os preços de entrada dos planos individuais são mais altos dos que os dos contratos de adesão e empresariais. No entanto, os reajustes anuais são limitados pela ANS, o que pode significar em alguns casos que, ao longo do tempo, os valores dos contratos coletivos possam até superar a mensalidade dos individuais.
Na média, uma pessoa com 59 anos ou mais, paga por um plano individual R$ 1.702. No plano por adesão, o valor médio é de R$ 1.473. Num contrato empresarial, de R$ 1.510.
Fonte: O Globo (06/05/2022)
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