O bilionário Elon Musk veio ao Brasil nesta sexta 20/5, onde anunciou que vai conectar 19 mil escolas e monitorar o meio-ambiente na Amazônia. O evento, com ares de campanha eleitoral para o presidente Jair Bolsonaro, foi articulado pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, mas a pasta não respondeu aos questionamentos sobre como se dará a suposta parceria com o dono da Starlink, a empresa de banda larga via satélite de Musk. Ao contrário, uma vez que nota oficial do Ministério reconheceu que detalhes técnicos e investimentos ainda serão discutidos.
Divulgado basicamente pelo Twitter, pelo qual Elon Musk ofereceu US$ 44 bilhões, mas depois apontou dificuldades, o encontro entre Bolsonaro e o dono da Starlink foi acompanhado por políticos, integrantes do governo, empresários de telecomunicações e até pelo ministro do Supremo Tribunal Federal José Dias Toffolli. Via Twitter, Bolsonaro assim relatou:
“Conversei há pouco com Elon Musk, que visita o Brasil a convite do Ministro Fabio Faria. Entre outros assuntos, tratamos de conectividade, investimentos, inovação e o uso da tecnologia como reforço na proteção de nossa Amazônia e na realização do potencial econômico do Brasil.”
O ministro das Comunicações, por sua vez, relatou, também pelo Twitter, que “a convite do ministro das Comunicações, Fábio Faria, o empresário Elon Musk chega ao Brasil nessa sexta-feira para tratar com o governo brasileiro sobre Conectividade e Proteção da Amazônia”. Depois completou que “já que vamos conectar a Amazônia, trouxemos um dos maiores empresários do mundo para nos ajudar nessa missão. Aceitamos o desafio e vamos até o fim! Thank you, Elon Musk, for the visit. Let’s do this!!!”
O próprio Elon Musk, igualmente via microblog, postou antes do evento: “Super animado por estar no Brasil para o lançamento do Starlink para 19.000 escolas não conectadas em áreas rurais e monitoramento ambiental da Amazônia.” O evento aconteceu em um resort em Porto Feliz, próximo a Sorocaba-SP.
Além das ‘photo-ops’, no entanto, nada de concreto resultou do encontro, apesar da menção de Elon Musk sobre conectar 19 mil escolas. O Ministério das Comunicações não respondeu aos apelos por informações sobre a suposta parceria, mas soltou uma nota na qual admite que ainda não há detalhes a serem compartilhados.
“Para o ministro Fábio Faria, a aproximação entre o governo e a iniciativa privada soma esforços na empreitada de garantir o acesso à internet para toda a sociedade brasileira, em especial na região Norte. Faria destacou ainda que os detalhes técnicos e investimentos serão discutidos em um novo momento, entre os representantes públicos e privados envolvidos.”
Mesmo com o pouco divulgado, a Starlink, empresa que usa satélites de órbita baixa para oferecer conexões internet, sequer teria efetivas condições de cumprir tanto a cobertura de escolas como o monitoramento ambiental amazônico. Os satélites da Starlink são de comunicações, não de imagens – sem mencionar que o Brasil já conta com serviço de ponta no monitoramento da floresta, graças ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Além disso, embora a Anatel tenha autorizado a Starlink a operar 4.408 satélites no Brasil até 2027, por enquanto só existem dois, com cobertura restrita ao Sudeste. Mais complicado na promessa do empresário, porém, é que não existe licitação ou contratação da Starlink pelo governo federal.
Não por menos, as primeiras especulações foram de que haveria contratação direta via Gape, o Grupo de Acompanhamento do Custeio a Projetos de Conectividade de Escolas, a quem cabe a coordenação dos compromissos do leilão do 5G voltados à conectividade dos estabelecimentos de ensino. Mas essa possibilidade foi descartada por fontes da Anatel ouvidas por esta Convergência Digital.
Vale lembrar que já existe cobertura de banda larga via satélite na Amazônia, fornecida pela Telebras e pela parceira comercial da estatal, a também empresa norte americana do setor, ViaSat. É a conexão que atende, por exemplo, postos e quartéis do Ministério da Defesa na Região.
Além disso, a conectividade da Starlink tem preço muito alto para programas públicos de inclusão digital. Como apontado pela especialista em políticas e regulação da Alliance for Affordable Internet, Nathalia Foditsch, o custo da oferta da Starlink já existente no Brasil, para a área rural do estado de São Paulo, prevê "mensalidade R$ 750,00 (quase um salário mínimo) + equipamentos/instalação quase R$ 5.000,00. A conectividade significativa depende de valores acessíveis, especialmente em areas rurais e remotas".
Fonte: Convergência Digital (20/05/2022)
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