quarta-feira, 1 de julho de 2020

TIC: Na disputa da fibra óptica, Oi acelera e ganha mercado, mas Telefônica continua líder



Líder absoluta no país, Telefônica cresce mais devagar e perde participação no segmento


Oi e Telefônica Brasil travam uma guerra no mercado brasileiro de banda larga por fibra óptica, com estratégias distintas. Os resultados mais favoráveis nos últimos meses foram da operadora em recuperação judicial. Líder absoluta no segmento de serviços de fibra óptica até a casa do cliente (FTTH, na sigla em inglês), a multinacional espanhola, dona da Vivo, detinha quase um quarto dos assinantes neste negócio ao fim de abril. Embora continue a crescer, vêm perdendo participação de mercado à medida que a Oi se expande a uma velocidade maior.  

A Oi tira proveito de uma estrutura de fibra mais descentralizada. Sua rede óptica chega a mais de 2,3 mil municípios brasileiros. Isso não significa que os serviços estejam disponíveis comercialmente em todas essas cidades. A oferta ainda está restrita a 112 municípios, contra 206 da Telefônica.    

“A base de clientes da Telefônica ainda está muito concentrada, principalmente em São Paulo”, diz Luís Mazzarella Martins, sócio da JK Capital, consultoria voltada para fusões e aquisições.  

No fim de abril, dos 2,81 milhões de clientes de fibra que a Telefônica tinha no país, mais de 70% estavam no Estado de São Paulo, conforme levantamento da JK Capital feito a pedido do Valor. E 1,23 milhão estavam na região metropolitana de São Paulo.   

O levantamento mostra que entre outubro do ano passado e abril deste ano a Oi ampliou sua fatia no mercado de FTTH em 3,2 pontos percentuais - passou de 8,7% para 11,9%. No mesmo período, a participação da Telefônica Brasil recuou de 25,8% para 24,6%.  

“Não temos perdido clientes para a Oi”, afirma o vice-presidente de marketing e vendas da Vivo, Márcio Fabbris. “O país é subpenetrado em termos de fibra”. Na visão do executivo, ainda existem no Brasil muitas áreas com potencial de mercado ainda não atendido - “greenfield”, no jargão em inglês. “Existe muito greenfield ainda. Talvez não em termos de cidades, mas de bairros”, afirma.  

Entre outubro de 2019 e abril deste ano, a Telefônica absorveu em média 51.975 novos assinantes por mês, pelos cálculos da JK Capital. A consultoria leva em consideração tanto o ganho quanto a perda de clientes no período. Nesse mesmo intervalo de tempo, a Oi avançou mais rapidamente. Em média, o crescimento líquido da sua base de clientes de fibra foi de 85.964 por mês, 65% a mais do que a concorrente.  

“Estamos tirando clientes dos pequenos provedores, das empresas regionais”, afirma o presidente da Oi, Rodrigo Abreu. “No período de quatro meses que terminou em abril, colocamos mais assinantes de fibra na nossa base do que Vivo, Claro e TIM juntas.”  

No fim de abril, o país tinha 32,9 milhões de conexões de banda larga, segundo a consultoria Teleco. Pouco mais de um terço (34,3%) era de fibra óptica até a casa do cliente. No fim de 2018, esse percentual estava em 18,2%.  

Como parte de sua estratégia de expansão, a Telefônica usa dados de telefonia pós-paga, mercado no qual possuiu 39% de participação no país, para identificar áreas mais promissoras para ofertar fibra. “O FTTH tem uma sinergia com a móvel”, diz Fabbris, da Vivo, lembrando que os clientes de planos pós tendem a apresentar renda maior.   

Maior provedora de banda larga do país, a Claro provia apenas 2,9% das conexões de FTTH em abril. O percentual representa um avanço em relação a outubro do ano passado, quando sua participação era de 2,3%. “A Claro tem muita participação em cabo [coaxial], muita herança de investimentos anteriores”, afirma Martins, da JK Capital. A maior parte das conexões de banda larga da operadora está ligada a redes híbridas que combinam cabos coaxiais e fibra.  

“Não vemos nenhuma necessidade de ir além do que já estamos indo”, diz Marcio Carvalho, diretor de marketing da Claro, referindo-se às cidades onde o grupo já atua com a chamada “fibra até o armário” (a caixa de distribuição geralmente instalada num poste de rua). “Quando começamos numa nova cidade, estamos indo com fibra. Não tiramos o pé do investimento mesmo com a pandemia.”  

Historicamente, as redes de TV a cabo foram precursoras da banda larga no país. Baseadas em cabos coaxiais, foram construídas com uma alta capacidade de tráfego já que o sinal de vídeo é distribuído através delas.  

No entanto, o sócio da JK Capital Luís Martins ressalta que a disputa global acirrada entre as empresas de streaming - capitaneada por Netflix, Amazon e Disney - tende a impulsionar a demanda por velocidades de conexão cada vez mais rápidas. “Nos Estados Unidos, jogos de basquete são transmitidos ao vivo por empresas de streaming com resolução 4K.”  

A Oi estima um potencial de 40 milhões de domicílios no país nos quais os serviços de FTTH podem estar disponíveis para contratação. A projeção exclui o Estado de São Paulo, onde a operadora não oferece banda larga fixa no varejo. “Estamos indo em cidades de maior demanda imediata”, diz Abreu. Em março, a companhia atingiu o total de 5,6 milhões de domicílios cobertos.  

A decisão inicial de não atacar o mercado paulista pode ser revertida, acrescenta Abreu. Ele lembra que a Oi optou por não vender a estrutura de fibra óptica que possui em São Paulo. “Existe a possibilidade de voltar a considerar São Paulo”, conclui.   

Em março, a empresa tinha em caixa R$ 6,31 bilhões. Como o negócio de fibra é intensivo em capital, a Oi depende no médio prazo do êxito de sua estratégia de venda de ativos para manter o nível de investimento atual. Este ano a Oi prevê investir entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões em fibra óptica.

Fonte: Valor (30/06/2020)

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