A chefe de investimentos responsáveis do KLP, maior fundo de pensão da Noruega, disse à coluna que, embora seja positivo o novo discurso do governo sobre a Amazônia, os gestores não estão muito interessados em narrativas — querem resultados concretos sobre a redução do desmatamento e comprometimento do Brasil com o Acordo de Paris.
O KLP integra o grupo de 32 gestoras estrangeiras, com patrimônio de US$ 4,5 trilhões em carteira, que vem pressionando o governo Bolsonaro sobre sua política ambiental. Nesta quinta-feira, executivos de dez dessas instituições financeiras e membros do governo, incluindo o vice-presidente Hamilton Mourão, tiveram um encontro virtual formal para debater a pauta.
— Ficamos muito contentes com a rápida resposta do governo à nossa carta. Vemos como positivo o fato de o governo, no encontro de hoje, dizer que compartilha do objetivo de combater o desmatamento, proteger os direitos humanos na Amazônia e aderir ao Acordo de Paris — afirmou Jeanett Bergan por telefone da Noruega. — Mas precisamos ver resultados concretos. Quando avaliamos o risco de investimento, avaliamos fatos. Então, não interessa muito o que se fala, a não ser que o discurso seja seguido de atos concretos.
Jeanett ressaltou a importância de avanços concretos quando perguntada sobre a errância do discurso do governo Bolsonaro sobre o meio ambiente. O próprio presidente já deu declarações conflitantes sobre o comprometimento do Brasil com relação às metas do Acordo de Paris.
A executiva também descartou qualquer possibilidade de o KLP participar do financiamento de projetos de preservação da Amazônia, colocados na mesa por Mourão. Segundo interlocutores, aliás, essa proposta soou inteiramente deslocada da pauta, já que o vice-presidente conversava com investidores institucionais, não com ONGs.
Nos bastidores, a percepção entre os investidores foi de que o movimento de Mourão serviu apenas ao marketing do governo, não aos interesses concretos desses gestores.
— Os integrantes do governo mencionaram esses mecanismos no encontro de hoje, mas não tivemos muitos detalhes. Do nosso lado, não há qualquer chance de investirmos em veículos semelhantes, já que somos um fundo que aplica em ações e títulos de dívidas de empresas — afirmou Jeanett. — Do lado do governo norueguês, o país costumava investir na preservação da floresta (por meio do Fundo Amazônia), mas deixou de fazê-lo justamente por causa de falta de avanços concretos na política ambiental do país. Agora, todos esperamos esse avanço.
O KLP tem ações de 58 empresas brasileiras na carteira e já baniu companhias como JBS, Eletrobras e Vale do portfólio por questões reputacionais.
Fonte: O Globo (09/07/2020)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".