TIM (TIMP3), Vivo (VIVT4) e Claro unidas por um mesmo objetivo? Isso aconteceu com a proposta tão esperada pela unidade móvel da Oi (OIBR3;OIBR4), em recuperação judicial, feita pelas operadoras no último sábado através de oferta conjunta divulgada no último sábado (18).
O comunicado era bastante esperado pelo mercado, uma vez que já havia negociações para uma oferta para a área móvel da Oi. Mas, mesmo assim, não deixou de surpreender, já que também contou com a união da Claro, controlada pela América Móvil, com TIM e Vivo, o que não estava sendo considerado inicialmente.
A oferta conjunta está sujeita a algumas condições – uma delas é o reconhecimento de que as três empresas são as primeiras proponentes, o que permite que elas tenham o direito de cobrir outras propostas que eventualmente forem feitas.
A Oi estabeleceu um preço mínimo de R$ 15 bilhões pelos ativos móveis – a companhia quer usar os valores da venda para financiar o crescimento da sua banda larga de fibra ótica e infraestrutura e pagar dívidas, tentando escapar da proteção de insolvência. A empresa tem mais de 350 mil quilômetros de cabos de fibra no país, além de cerca de 43 mil quilômetros de dutos para cabos de telecomunicação.
A notícia foi bastante bem recebida pelo mercado, com as ações da Oi chegando a subir quase 20% na máxima do dia (contudo, vale ressaltar o baixo valor de face dos ativos; assim, uma variação de centavos leva a uma forte variação percentual), para depois amenizarem. Os papéis OIBR3 fecharam em alta de 9,09% (R$ 1,32), enquanto os OIBR4 subiram 8,84% (R$ 1,60). Os ativos da TIM e da Vivo também registraram uma disparada, com destaque para os papéis TIMP3, com salto de até 10,55%, para fecharem em alta de 6,13%, a R$ 16,80. Enquanto isso, VIVT4 subiu 5,99%, a R$ 53,41, após avançar até 8,10% na máxima do pregão. Com ganhos mais modestos, a América Móvil avançou 3,14% na bolsa mexicana.
Conforme destacam analistas que cobrem o setor, a concretização do interesse de Claro, TIM e Vivo é uma excelente notícia para a Oi à medida em que a venda de seus ativos móveis é um dos passos mais importantes para o sucesso de seu “turnaround” e uma possível saída do estado de recuperação judicial, segundo aponta análise da Levante Ideias de Investimento.
Os analistas apontam que havia um receio de que as três companhias se organizassem em uma espécie de cartel e obrigassem a Oi a aceitar uma oferta ruim e hostil, desfavorável diante da eventual ausência de outras propostas. No entanto, as declarações das companhias têm sido no sentido de respeito à recuperação judicial e celeridade, sem demonstrarem a intenção de pagarem abaixo do valor justo pelos ativos. Vale destacar que, segundo o jornal espanhol El Confidencial, a oferta seria de cerca de R$ 16 bilhões (ou cerca de 2,6 bilhões de euros), acima do preço mínimo estabelecido.
Além disso, a Oi afirmou que recebeu “mais de uma proposta vinculante” de interessados na aquisição da Oi Móvel. A respeito de outras propostas, a empresa afirma que não dará mais detalhes, por motivos de confidencialidade e interesse comercial, até o fim do processo competitivo.
Para os analistas do Bradesco BBI, a oferta em conjunto das três operadoras de telefonia é um ótimo sinal, reforçando a credibilidade da atual administração da Oi.
“Dada a oferta, agora existem poucas dúvidas sobre o valor estratégico das operações móveis da Oi ou sobre a capacidade da Oi levantar caixa por meio dessa venda, o que levará a uma redução da alavancagem da empresa”, disseram os analistas do banco, liderados por Fred Mendes.
O Bradesco BBI espera ainda que essa oferta facilite a aprovação do novo plano de recuperação judicial pelos credores.
TIM, Vivo ou Claro: qual se sairia melhor?
Como pode ser observado através da alta das ações no setor, a notícia é positiva para a Oi e também para as demais companhias. Contudo, caso a operação seja concluída, há quem possa ser ainda mais beneficiada, conforme avalia o Credit Suisse.
Segundo destacam Daniel Federle, Felipe Cheng e Juan Pablo Alba, analistas do banco suíço, a TIM deve ficar com maior parte da rede móvel caso vença o leilão com a Vivo e a Claro. Enquanto a TIM ficaria com 54% da operação, Vivo teria 24% e a Claro teria 22%. A expectativa é de um ganho de participação de mercado de 9 pontos percentuais para a TIM e 4 pontos para Claro e Vivo.
A subsidiária da companhia italiana Telecom Itália também teria a maior parte dos espectros – ou a divisão de frequências – da Oi, com cerca de 60%, enquanto Vivo e Claro teriam, respectivamente, 30% e 10%. “Esta composição deve levar a um melhor balanceamento de assinaturas no mercado”, avaliam os analistas.
Já para o Morgan Stanley, há quatro benefícios que podem ser observados para a Telefônica Brasil, dona da Vivo (alguns se aplicando para o setor como um todo), em um contexto de: i) consolidação da indústria, ii) melhora do fluxo de caixa apoiados pela demanda reprimida por conexão premium; iii) implantação da reforma do setor de telecomunicações, iv) melhoria operacional via acordos de compartilhamento de rede e v) o fato de ser um negócio defensivo com 7,5% de dividend yield (indicador calculado pelo dividendo pago por ação dividido pela cotação do papel).
Em relação ao setor como um todo, os analistas do banco americano, liderados por Cesar Medina, destacam que, com a oferta conjunta, ao invés de um único participante capturar a maioria dos benefícios de fusões e aquisições, a consolidação móvel deve levar a melhores ventos para o setor como um todo com uma concorrência mais racional e maior disponibilidade de 4G.
“Além disso, com a América Móvil se unindo à Vivo e TIM para a aquisição, vemos uma consolidação mais ordenada e coordenada, com menos obstáculos regulatórios”, avaliam.
Eles destacam ainda que a maioria dos clientes fora das três principais operadoras apresenta tais características: possui alta taxa de cancelamento (churn), baixa receita média por usuário (ARPU, na sigla em inglês) e planos pré-pagos.
Atualmente, a Claro possui uma participação de mercado de 26% no setor de telefonia móvel no Brasil, a Oi possui uma participação de 16% e a TIM e a Vivo possuem ações de 23% e 33%, respectivamente. Cerca de 66% da base de clientes da Oi é pré-paga.
Diferentes preferências no setor
Sem incorporar a negociação com a Oi, o Credit Suisse destaca a TIM como top pick do setor, com preço-alvo de R$ 20 em 12 meses, alta de 27% em relação ao pregão de sexta-feira, enquanto a Vivo também segue com recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 67, ou potencial de alta de 21% em relação ao mesmo fechamento.
O Bradesco BBI, por sua vez, possui recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a TIM, com preço-alvo de R$ 18,50 (upside de 17%) e neutra para os ativos VIVT4, com preço-alvo de R$ 60 (alta de 19%).
A preferência no setor, contudo, vai justamente para os ativos OIBR3, com preço-alvo de R$ 2,10 (ou um potencial de alta de 74%), destacando que a Assembleia Geral de Credores em 17 de agosto deve ser justamente um gatilho de curto prazo para os ativos.
“O fato de a administração ter em mãos uma oferta formal para a sua área móvel para apresentar à reunião deve ajudar na aprovação [do pedido de aditamento ao plano de recuperação judicial que foi aprovado pelos credores da companhia em dezembro de 2017]”, destacam os analistas do BBI. Além disso, apontam, como a Oi continua a entregar uma expansão no segmento de fibra ótica (124 mil residências conectadas em maio), eles apontam ver um caminho claro em direção à sustentabilidade da companhia.
Vale destacar ainda que, em paralelo, também no último fim de semana, a Highline do Brasil apresentou uma oferta pelos ativos de telecomunicação outdoor e indoor de transmissão de radiofrequência da Oi por R$ 1,076 bilhão.
Os analistas da Levante ainda apontam que, na semana passada, a Oi já havia anunciado duas notícias positivas. A primeira é que a companhia quer liquidar o saldo devedor das suas dívidas com os bancos e com as agências de crédito à exportação (ECAs) com descontos de 60% no valor de face. A segunda é que a empresa quer reduzir em 50% o valor da sua dívida com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), cujo montante devido é de aproximados R$ 12 bilhões.
“O processo de renegociação de dívidas e venda de ativos é essencial para a Oi recuperar a sua capacidade de investimento. A companhia busca se tornar a maior provedora de infraestrutura de telecomunicações do Brasil a partir de investimentos em fibra óptica, o que – em tese – daria à companhia um papel relevante na massificação do 5G no país”, ressaltam os analistas da Levante.
Cabe apontar que, de acordo com compilação feita pela Bloomberg com 6 casas de análise, 3 possuem recomendação de compra para os ativos ON da companhia, 2 recomendação manutenção e 1 recomenda venda. Para os ativos PN, a divisão também ocorre: 2 recomendam compra, 2 recomendam manutenção e 3 recomendam venda.
Assim, a oferta apresentada pelos seus ativos móveis na última semana parece um bom passo para isso, mas há ainda quem esteja cético com o papel, principalmente após os anos difíceis da companhia. Porém, os caminhos para a empresa aparecem como mais positivos depois de anos turbulentos – e com potencial para beneficiar o setor como um todo.
Fonte: InfoMoney (20/07/2020)
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