Será um pouco mais fácil para investidores ganhar dinheiro nas aplicações de renda fixa, de menor risco, a partir desta quarta-feira (4). Consultores e gestores afirmam que títulos públicos atrelados à inflação e papéis de bancos de menor porte ou de crédito corporativo que pagam uma remuneração adicional à Selic ganham apelo
Será um pouco mais fácil para investidores ganhar dinheiro nas aplicações de renda fixa, de menor risco, a partir desta quarta-feira (4). O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve subir a Selic, taxa básica de juro da economia, pela quarta vez consecutiva. O aumento deve ser de, no mínimo, 0,75 ponto percentual, de 4,25% ao ano para 5% ao ano, como a autoridade monetária indicou no comunicado da última reunião, em junho, mas pode ser ainda maior.
Consultores e gestores afirmam que títulos públicos atrelados à inflação e papéis de bancos de menor porte ou de crédito corporativo que pagam uma remuneração adicional à Selic também ganham apelo. Além disso, colocar um pé ou mais na água da renda variável também continua aconselhável para diversificar a carteira, já que a taxa ainda está distante de dois dígitos como antigamente.
As indicações valem para a parcela dos investimentos que não é a que pode ser resgatada rapidamente em situações de emergência. Essa deve ser equivalente a seis vezes os gastos mensais e ser aplicada em títulos públicos atrelados à taxa básica de juro ou outras aplicações conservadoras. Elas também passam a ser mais rentáveis, mas são menos atrativas do que outras alternativas para objetivos de médio e longo prazo.
“Reserva de emergência é 100% da Selic ou do CDI, não tem jeito. O investidor tem que abrir mão de rentabilidade para ter liquidez e segurança”, afirma Sandra Blanco, consultora de investimentos da corretora Órama. “Mas pensando nas oportunidades que nascem com o ciclo de alta, é necessário ser cirúrgico com a reserva. O que passar dela deve ser aplicado em outro investimento, sempre alinhado com o perfil e os objetivos”, diz.
O susto com a inflação revelada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) de julho chacoalhou as expectativas para os juros na semana passada. As apostas em uma alta ainda maior da Selic ganharam fôlego. A projeção média dos economistas na última semana era de elevação de 1 ponto percentual na taxa nesta quarta, para 5,25% ao ano, e de juro em 7% ao ano no final de 2021.
Assim, a surpresa com o comportamento da inflação fez com que o mercado passasse a estimar aceleração no ritmo de subida da Selic não apenas nesta quarta, mas também até o fim deste ano. Quando o Banco Central eleva a taxa, o crédito encarece, a demanda de consumo cai e os preços são contidos.
“Independentemente da magnitude da alta nesta quarta, os grandes questionamentos agora são o quão rápida deve ser a alta e até onde o BC vai. Vamos observar as indicações na comunicação”, afirma Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco Modalmais. Apesar do cenário de bastante incerteza, é praticamente certo que o ciclo de subida de juro não acaba nesta quarta.
Títulos atrelados à inflação mais atraentes
Em meio a esse cenário, os títulos públicos atrelados à inflação ficam ainda mais atraentes, conforme especialistas. A previsão média dos economistas na semana passada era que a inflação acelerasse para 6,5% ao ano em 2021, acima da meta oficial, de 3,75% neste ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima. Esses papéis funcionam como proteção: quem tiver títulos atrelados à inflação conseguirá proteger da alta pelo menos parte do seu patrimônio.
Além disso, o rendimento oferecido, de 3,9% a 4,5% ao ano, além da variação da inflação, dependendo do prazo de vencimento, é considerado bom. Para receber a rentabilidade combinada na hora da compra, é preciso manter os títulos até o vencimento, que varia de 2026 a 2055.
“Estar posicionado em ativos que pagam retorno acima da inflação me parece atrativo mesmo no contexto de alta de juros. É possível capturar taxas próximas ao ápice desde o ano passado. Não são taxas baixas, são interessantes”, diz Rudolf Gschliffner, superintendente de produtos da gestora de fundos do banco Santander. A data de vencimento dos papéis deve estar de acordo com o objetivo do investidor, mas, se der para escolher, ele recomenda títulos com vencimento em 2026, de menor risco.
Para quem está disposto a correr mais riscos e abrir mão de liquidez, é possível conseguir retornos maiores do que os dos títulos públicos investindo em papéis emitidos por bancos de menor porte. Dá para conseguir Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) com retorno de até 145% do CDI (atrelados ao CDI, uma taxa bem perto da Selic), até 5,2% ao ano além da inflação (os papéis indexados à inflação) ou até 12% ao ano (os prefixados).
Entretanto, nem sempre dá para vender os títulos antes do vencimento. Além disso, existe o risco do banco passar por dificuldades financeiras. Por isso, a sugestão é aplicar até R$ 250 mil por CPF por instituição. Até esse limite, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) devolve o dinheiro do investidor se houver problemas com o banco.
“Já tivemos casos de quebras em anos passados e isso não está no cenário atualmente. O setor financeiro está muito sólido, mesmo as instituições menores. Mas risco e retorno andam de mãos dadas e o investidor tem que estar atento”, afirma Aquiles Mosca, responsável pela área comercial da gestora de fundos do banco BNP Paribas. Ele aconselha deixar o dinheiro em CDBs de bancos diferentes, para diluir os riscos.
Crédito corporativo mais interessante
Títulos de crédito corporativo e fundos que investem nesses papéis também estão mais interessantes, de acordo com consultores e gestores. Com o aquecimento da economia, mais companhias devem emitir títulos de dívida, como debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis Agrícolas (CRAs). Os rendimentos também estão entre os maiores da renda fixa e as debêntures ligadas a projetos de infraestrutura, CRIs e CRAs ainda são isentos de Imposto de Renda.
O retorno é mais alto porque o risco de calote é maior e os papéis não contam com a proteção do FGC. Ao investidor que topar correr o risco, a recomendação é escolher títulos de empresas sólidas e diversificar. Uma alternativa de risco mais baixo são os fundos de crédito privado, administrados por gestores especializados, que fazem uma seleção profissional dos papéis e diversificam as carteiras.
“No ano passado teve muito calote. Os fundos dos gestores mais criteriosos, que foram em empresas com boa geração de caixa mesmo no cenário de pandemia, não sofreram”, diz Mosca. É bom analisar o passado dos gestores, não apenas dos fundos.
Além da renda fixa, outra boa sugestão, segundo especialistas, são os fundos multimercados, veículo de entrada para quem ainda não tem mais risco na carteira e deseja ter, atrás de retorno maior. Eles também são administrados por gestores especializados, que podem investir em títulos de renda fixa, ações, moedas e outras aplicações. Atualmente, os gestores conseguem aproveitar os papéis de renda fixa que pagam taxas mais atrativas para ganhar dinheiro.
“Boa parte dos fundos multimercados têm tirado retorno do mercado de juros e apareceu muita taxa para ser aproveitada. Os principais ativos nos quais os brasileiros já eram bons voltaram a ficar mais suculentos”, afirma o executivo do BNP Paribas.
Apesar do costume de checar os investimentos em momentos de alta da Selic, Valter Police, planejador fiduciário da gestora Fiduc, adverte que não é preciso pular de galho em galho a cada decisão do Copom. Pode estar tudo certo onde o investidor está. “A pessoa deve buscar a carteira que tenha a cara dela e esperar”, diz. “A carteira pode ter um componente tático que se adequa ao cenário, mas também tem que ter estratégia de longo prazo”, afirma.
Na visão de Police, as checagens ao longo do tempo são ainda mais importantes para avaliar se as aplicações estão alinhadas aos objetivos de vida do investidor, que mudam assim como a Selic.
Fonte: Valor Investe (02/08/2021)
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