A Amil transferiu sua carteira de planos individuais à APS, que seria vendida a uma terceira, não fosse a ANS
A operadora de planos de saúde Amil, fundada em 1978 pelo saudoso Edson de Godoy Bueno, foi adquirida em 2012 pelo UnitedHealth Group, dos Estados Unidos. A Amil permaneceu no comando de Edson Bueno até 2016. A compra da Amil pelo grupo americano por cerca de R$ 10 bilhões criou boas expectativas no mercado. Os beneficiários acreditaram que a operadora faria investimentos para ampliar e aperfeiçoar sua rede médica e o investidor apostava num crescimento em torno de 10% ao ano. O mercado de saúde suplementar também reagiu bem, afinal, o setor ainda não tinha participado de uma operação desse porte.
O diagnóstico positivo encontrava amparo no fato de o controle da empresa brasileira estar sob o comando de um gigante fundo de investimento americano, com forte governança, bem estruturado financeiramente, e, portanto, com enormes chances de colocar em prática seu plano de crescimento.
Ocorre que todo esse entusiasmo foi paulatinamente sendo transformado em frustração, na medida em que a receita da Amil, seja ela financeira ou estratégica operacional, era convertida em resultados insatisfatórios.
Recorrentes e equivocadas mudanças de gestão, somada à incapacidade de combater o alto sinistro das suas carteiras, além de estratégias mal sucedidas com a rede hospitalar, foram amostras de que a fórmula americana estava contaminada.
A carteira de beneficiários dos planos individuais ou familiares se manteve estagnada durante todo o período da gestão americana, numa clara demonstração de que ela nunca foi o foco de crescimento da operadora.
Mesmo diante desse cenário ruim, a Amil possui 2,9 milhões de beneficiários, considerada terceira maior operadora de saúde do Brasil.
Entretanto, uma década após ter sido vendida, a Amil está sendo novamente colocada na prateleira para o mercado com adoção de ações polêmicas.
Como primeira medida, provavelmente no afã de se livrar da sua carteira menos rentável ou deficitária, a Amil fez a alienação dos contratos de planos individuais ou familiares, com 337.459 beneficiários atendidos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, em janeiro deste ano para a operadora Assistência Personalizada em Saúde (APS).
Essa operação, que já havia sido autorizada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), está agora sendo revisada pela própria agência, depois de notícias que indicam o não cumprimento dos direitos dos beneficiários.
A operadora APS, que assumiu essa carteira, antes disso, administrava pouco mais de 10 mil beneficiários, o que claramente revela experiência bem limitada para assumir agora e de uma só vez um número 33 vezes maior.
Não apenas por isso, o órgão regulador deve ser mais rígido nesse tipo de operação envolvendo planos individuais ou familiares. Isto porque a ANS, neste tipo de contrato, advoga pelos direitos e interesses dos beneficiários, devendo impedir que haja um deslocamento de uma situação aparentemente estável, ao menos do ponto de vista das garantias do atendimento da rede médica e hospitalar, para uma nova gestão menos experiente e com capacidade financeira mais limitada.
É fundamental que os órgãos de controle estejam atentos a todo esse processo e à estratégia de venda da Amil, impedindo prejuízos de qualquer natureza ao beneficiário e que se mostre como exemplo para desestimular eventuais iniciativas semelhantes que podem ser reproduzidas adiante.
Fonte: Jota (28/02/2022)
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