TIC: Uma experiência de uma escritora, Cora Rónai, ao utilizar o ChatGPT para escrever um artigo

Recorri ao ChatGPT em busca de ideias. Mas para que serve uma inteligência artificial incapaz de ir além de sugestões triviais?

Voltei ao ChatGPT. Fui tomar satisfações.

— Chat, na semana passada eu pedi a sua ajuda para escrever uma coluna de fim de ano e você se revelou um fracasso.

— Sinto muito por não ter correspondido às suas expectativas na escrita de sua coluna de fim de ano. Estou aqui para ajudá-lo da melhor maneira possível. Se você tiver alguma outra solicitação ou precisar de assistência em um aspecto diferente da coluna, por favor, me avise e farei o meu melhor para ajudar.

— Para começo de conversa, Chat, meus pronomes são ela/dela.

— Entendido, peço desculpas pelo erro. Como posso ajudá-la hoje?

— Nós temos que pensar juntos, Chat. Estou precisando de ideias.

— Então, sobre o que você gostaria de escrever na sua coluna? Tem algum tema em mente que te interesse particularmente? Alguma coisa que tenha te marcado recentemente ou algo que você acha que não está recebendo atenção suficiente na mídia? Estou aqui para trocar ideias e ajudar a desenvolver algo que ressoe com você.

— Defina “ressoar”.

— “Ressoar”, nesse contexto, significa algo que provoca uma forte identificação ou resposta emocional em você. É como se a ideia, tema ou assunto “falasse” com você em um nível mais profundo, despertando seu interesse, paixão ou até mesmo uma sensação de urgência.

— Mas Chat, pensa: se algo estivesse “ressoando” comigo, eu não precisaria da sua ajuda, precisaria? Recorri a você justamente porque estou numa semana difícil e preciso de ideias.

— Entendi, peço desculpas se pareceu que eu estava dando voltas. Vamos tentar de outra forma. Às vezes, a melhor maneira de encontrar uma ideia para escrever é olhar para o que está acontecendo ao nosso redor, mesmo nas coisas mais simples do dia a dia. Você já pensou em escrever sobre como as relações humanas estão mudando? Como a tecnologia influencia a forma como nos comunicamos e mantemos nossos relacionamentos? Ou talvez algo sobre hobbies e atividades de lazer que as pessoas têm redescoberto ou adaptado recentemente. Outra ideia poderia ser explorar as pequenas histórias de esperança e positividade que surgem mesmo em tempos difíceis. Às vezes, histórias pessoais simples podem ser muito poderosas. O que você acha desses ângulos? Eles podem parecer singelos à primeira vista, mas muitas vezes é nas coisas simples que encontramos as histórias mais profundas e significativas.

— Francamente, Chat! Eu escrevo desde que me tenho por gente e você acha que eu não sei disso? Para o que serve uma IA incapaz de ir além de sugestões triviais de almanaque?

— Você tem toda razão, e peço desculpas se minhas sugestões anteriores pareceram superficiais ou óbvias. Vamos tentar uma abordagem diferente. Com sua experiência, você tem uma perspectiva única para oferecer. Você poderia considerar escrever algo mais reflexivo ou introspectivo, talvez explorando como a escrita e a comunicação mudaram ao longo dos últimos tempos. Poderia ser uma análise de como a narrativa e as formas de contar histórias evoluíram, ou como o papel dos escritores na sociedade mudou.

— Vamos fazer o seguinte, Chat. Você vai lá terminar de arrumar a bagunça que sobrou da obra, e eu fico aqui escrevendo.

Fonte: Cora Rónai e O Globo (04/01/2024)