segunda-feira, 10 de agosto de 2020

TIC: Mercado de telefonia atrai mais investidores, principalmente os ativos de fibra ótica e torres da Oi

Operadoras, empresas de energia e fundos negociam ativos de telecomunicações, com foco em torres e fibra óptica 

A disputa pelo negócio de fibra óptica da Oi faz parte do plano de recuperação judicial da companhia, mas também é reflexo de um movimento de aquisições no setor de telecomunicações, iniciado há alguns anos e que segue atraindo diferentes tipos de investidores como fundos de private equity, empresas de energia elétrica e concessionárias de telecomunicações.  

Nos últimos anos, por exemplo, a TIM comprou a rede de fibra da Eletropaulo Telecom; a Cemig Telecom foi dividida em dois blocos de ativos de fibra, vendidos à American Tower e Algar Telecom. Agora, a Copel Telecom está à venda.   

Grandes provedores de internet passaram a comprar os menores. Eduardo Neger, presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet), diz que há 12 mil provedores ativos, alguns muito pequenos, que não se sustentam. Em Minas Gerais, lembrou, uma empresa com investimento da Vinci Partners comprou oito provedores recentemente, formando a Vero Internet, e segue fazendo aquisições.  

Nem todos os investidores que cobiçam os ativos da Oi deverão fazer uma oferta direta. Conversas já ocorrem nos bastidores em busca de aliados para uma participação indireta no negócio, fazendo uma composição com o grupo que sair vencedor. Fontes ouvidas pelo Valor dizem que por ser um ativo gigantesco e atrelado à recuperação judicial da Oi, o “cheque” é muito alto. Assim, mesmo quem entrar sozinho no leilão não quer dizer que vai pagar a conta sozinho. 

A Phoenix Tower, que faz parte do portfólio de empresas do fundo de investimento Blackstone, não tem interesse nos ativos da Oi, conforme apurou o Valor. Mas está de olho na Copel Telecom. Uma audiência pública será aberta no dia 19 para detalhar o processo de venda de 100% da empresa, que tem mais de 30 mil km de fibra em 399 municípios do Paraná.  

A Oi tem 388 mil km de fibra. Uma fonte observa que a fibra da Oi é complexa por envolver questões regulatórias importantes, como dutos usados tanto para serviços de concessão de telefonia fixa quanto outros serviços fora dessa regulamentação. A Copel é uma operação mais simples.  

As unidades produtivas isoladas (UPI) de torres e de fibra da Oi já contam com propostas. Já fizeram ofertas pela InfraCo (fibra) o BTG Pactual, a Highline e a Ufinet (da Enel e da empresa de private equity Cinven). A Highline também apresentou oferta pela UPI Torres e UPI Área Móvel. Nesta última, a Oi concedeu exclusividade de negociação até amanhã, com renovação automática, ao consórcio formado por Telefônica, TIM e Claro.  

A Algar também negocia ativos da Oi, segundo fontes. A companhia, que tem como sócio o GIC Special Investments (fundo soberano de Cingapura), está conversando com fundos sobre a InfraCo, para compor participação indireta, e com a Highline que, em caso de vitória no leilão da área móvel venderia a carteira de clientes da Oi ao grupo mineiro, que passaria de operadora regional a nacional. Algar não quis comentar.  

Os ativos da Oi têm atraído grandes fundos internacionais. É o caso do CPP Investments (Canadian Pension Fund), cujo braço de infraestrutura busca ativos reais. O Fundo CPP registrou US$ 409,6 bilhões em ativos líquidos em março. Em sua página, o CPP diz que procura oportunidades e que está disposto a comprometer muitos bilhões de dólares no investimento certo, mas com parceiros.   

O Brookfield Infrastructure Partners, segundo fontes, pode se interessar pela fibra da Oi. Na semana passada, Sam Pollock, CEO do Brookfield, foi questionado por analistas sobre o assunto. Argumentou que o grupo não comenta transações, mas afirmou que a infraestrutura de dados é uma área de foco contínuo para o Brookfield. Explicou que a troca das velhas redes de cobre por fibra e a atualização das redes móveis para 5G criam oportunidades importantes. “As operadoras de telecomunicações estão procurando parceiros de financiamento para reduzir a tensão em seu balanço. [...] Teremos como objetivo promover essas oportunidades nos próximos meses”, disse.  

Também questionado por analistas, na semana passada, Luigi Gubitosi, presidente da Telecom Italia, dona da TIM, disse que a compra da área móvel da Oi envolve um longo processo judicial e que um fechamento de negócio deve ocorrer só no último trimestre de 2021.  

A Digital Colony Management, plataforma de infraestrutura digital da americana Colony Capital, comprou a Highline do grupo Pátria Investimentos (controlado pelo fundo II de Infraestrutura) em dezembro de 2019. O Pátria informou na época que continuaria ativo na implantação de infraestrutura na América Latina e consolidação do 4G e implantação de 5G.  

Mesmo que Telefônica, TIM e Claro tenham focado sua proposta na área móvel da Oi, fontes não descartam que isoladamente possa haver interesse de um desses parceiros por torres ou fibra da rival. A Telxius, por exemplo, é a empresa de infraestrutura do grupo espanhol Telefónica. A dona da Vivo vendeu parte de suas torres à Telxius. O grupo de investimento KKR, que comprou da Telefónica 40% da Telxius, poderia entrar no processo da Oi, diz uma fonte. Outra fonte menciona eventual interesse do fundo Macquarie.  

TIM e Telefônica informaram planos de lançar suas redes neutras de fibra (para vender serviços a outras operadoras) e buscam sócios. A Telxius já concorre com gestores de infraestrutura como American Tower, SBA e Highline. Fonte do setor diz que essas empresas têm fundos como sócios, que fazem investimentos para alugar a infraestrutura às operadoras e receber desses clientes ao longo de 20 anos. Por essa perspectiva, teles e gestoras são parceiras, com negócios complementares.   

Para uma fonte da área de infraestrutura, a melhor opção é o compartilhamento de rede. As teles, diz, convivem com margem de lucro apertada e investimentos altos e um modelo de rede compartilhada em fibra e radiofrequência impulsionaria as empresas. Procurada, a Oi não quis comentar. 

Fonte: Valor (10/08/2020)

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