São fundos norte-americanos, canadenses, indianos, de Cingapura, de Dubai, e mesmo brasileiros que querem injetar dinheiro em uma corrida contra o tempo para alcançar as milhares de residências brasileiras ainda sem acesso à fibra.
O mercado de telecomunicações brasileiro está em grande movimentação, e não é só por conta do anúncio da venda dos ativos da Oi. Os comunicados da Vivo e da TIM, de que também vão partir para a opção da construção de rede neutra para chegar com fibra óptica na casa dos brasileiros, acontecem na mesma época em que aportam no Brasil fundos globais de investimentos de infraestrutura.
Se há três anos, os fundos de private equity começaram a injetar dinheiro nos provedores regionais de internet – e já criaram empresas bem mais consolidadas – agora, chegam os fundos de infraestrutura. E todos estão analisando não só a InfraCo da Oi, como também a proposta da Vivo e da TIM, que tem o banco UBS como adviser.
Já analisam os projetos da InfraCo, da Oi, da TIM e da Vivo, informam fontes do mercado, fundos como os norte-americanos KKR e Blackstone, Pátria, MacCgrowie; o canadense CP&B, o australiano Macquarie, ou o ainda o Archy, de Cingapura; ou o Sterlite, da Índia além dos brasileiros, como o BTG. No caso da Oi, que vai vender toda a sua rede de fibra óptica residencial já existente, há ainda outros perfis de investidores interessados, como a italiana Ufinet, controlada pela concessionária de energia, Enel; ou a Etisalat, operadora de telecom de Dubai, que, comentam, tem recursos quase que infindos.
Mas por que as tradicionais operadoras de telecom fazem um movimento no sentido de perder o controle sobre essa infraestrutura, pela qual sempre valorizaram, quando defendiam até “feriado regulatório” para adiar o seu compartilhamento?
Para Rodrigo Leite, diretor da consultoria Advisia, especializado em fusões e aquisições, a resposta está vinculada a ainda grande demanda do mercado brasileiro por fibra óptica e, obviamente, também, aos juros negativos de todo o globo, que estimulam investimentos de longo prazo.
As operadoras vão ter que se endividar com a 5G. O Brasil tem 65 milhões de casas, mas com fibra chegando, não soma mais do que 20 milhões. A Vivo, que tem a maior rede de FTTH, não tem mais do que 6 milhões. A Oi, que está fibrando 400 mil casas por mês, levaria 13 anos para chegar em todo os lares
Advisia
Em síntese, “é uma corrida contra o tempo”, para ver quem chega primeiro nos melhores lugares, e depois em todos os lugares, completa outro analista de um fundo de investimento. Ele observa, porém, que a estratégia entre as empresas é diferente. Enquanto a Oi decidiu vender toda a empresa (a UPI InfraCo), a Vivo propõe construir rede neutra fora do Estado de São Paulo e das regiões onde a GVT já tinha investido na nova rede, ou seja, onde ainda não fez investimentos próprios.
“Para ser rede neutra, duas condições são necessárias: as teles não podem ter o controle daquela infraestrutura e não poderá haver “três redes neutras competindo”. A corrida de todos é para chegar primeiro”, afirma o analista. E Leite completa “se há muitas cidades do interior já cabeadas pelos ISPs, o bairro de Copacabana, no Rio, não tem uma fibra sequer”, reforçando que, quem chegar primeiro, ganha mais vantagem competitiva.
Rede neutra de FTTH é uma iniciativa bastante recente ainda no mundo. Conforme alguns levantamentos, haveria apenas cerca de 20 operações na Europa com essa experiência. No país, já existe o caso da American Tower, que adquiriu ativos da Cemig Telecom em 2018 e está expandindo sua rede óptica neutra em Minas Gerais, embora não seja uma incumbente. Mas o interesse no Brasil cresce porque os fundos de infraestrutura também pressionam para que a rede atenda ao maior número de clientes possível, para minimizar os riscos do negócio.
“Os fundos de infraestrutura pagam até mais caro pelo acesso, porque têm menor percentual de desconto de fluxo de caixa, mas precisam da garantia de que essa infraestrutura vai ser usada por todos”, assinala Leite.
Alguns desses fundos que já se apresentaram aos vendedores são inexperientes no mercado brasileiro, mas outros têm outros investimentos aqui, como torres e as operações dos ISPs.
A Claro continua em silêncio sobre esse tema. Mas fontes da empresa informaram que estudam o assunto. O grupo América Móvil ainda é dono de milhares de torres em toda a América Latina. Nunca venderam um único poste. Mas pode estar mudando de ideia. Na conferência de resultados dos segundo semestre deste ano, seus dirigentes afirmaram que estavam pensando em alternativas para monetizar esses ativos em toda a região.
Chinese Wall
Será que as operadoras, que sempre atuaram verticalizadas, conseguirão ser “locatárias” dessas redes? Para a Anatel, se essa modelagem realmente se concretizar, talvez seja necessária uma intervenção regulatória, de maneira a se criar uma “chinese wall” entre essas empresas e os clientes das operadoras para assegurar, de fato, a não discriminação.
Fonte: Tele.Síntese (13/08/2020)
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