quarta-feira, 5 de julho de 2023

TIC: Com ações em queda, Oi tem o menor valor de mercado desde 2017 e sai do radar de investidores



Volume financeiro de papéis da Oi negociados por dia na B3 caiu mais de 5 vezes; analistas também desistem da empresa 


Às voltas com sua segunda recuperação judicial, a Oi sai do radar dos investidores. Nos últimos três anos, o volume financeiro de papéis ordinários e preferenciais da companhia negociados a cada dia na B3 caiu mais de cinco vezes e segue numa trajetória descendente. A cobertura regular de analistas de mercado também encolhe, à medida que a tele perde relevância financeira e se desfaz de ativos para reduzir seu endividamento.

Segunda maior empresa de banda larga via fibra óptica no país, com 4,2 milhões de clientes neste segmento específico, a Oi valia R$ 708 milhões ao término do pregão desta segunda-feira da B3.  

A Oi pediu recuperação judicial pela primeira vez em junho de 2016, com R$ 65,38 bilhões em dívidas. Quase cinco anos depois, em 14 de janeiro de 2021, ainda sob efeito de notícias positivas relacionadas à venda de alguns dos seus principais ativos, o valor de mercado da empresa atingiu R$ 14,9 bilhões, o mais alto desde a aprovação do plano de recuperação judicial (PRJ) da Oi por credores em dezembro de 2017, segundo mostra levantamento do Valor Data.   

A partir daí, a companhia iniciou uma trajetória descendente em termos de valor de mercado. Paralelamente, a média diária de papéis ordinários e preferenciais da Oi negociados na B3 caiu. Passou de R$ 266,9 milhões, em 2020, para R$ 157,3 milhões no ano seguinte e para R$ 50,2 milhões em 2022.  

O novo plano prevê diluição de 80% aos atuais acionistas da companhia” — Bernardo Guttmann 

Em dezembro do ano passado, a Justiça encerrou a primeira recuperação judicial da Oi. Mesmo assim, no período de 2 de janeiro a 22 de junho, o volume médio de transações com ações da Oi foi de R$ 32,2 milhões por dia.  

Na página de relações com investidores da operadora, a lista de analistas de renda variável que regularmente elaboram relatórios sobre a Oi inclui 12 nomes, mas parte dos bancos citados já não cobre mais a empresa. Procurados por meio de suas assessorias de imprensa, Goldman Sachs, Itaú e JP Morgan informaram que deixaram de cobrir a Oi.  

Em sua segunda recuperação judicial, cujo pedido foi apresentado em março deste ano, a tele busca restruturar seus débitos com credores financeiros. O valor bruto da dívida incluída nessa segunda recuperação perfaz R$ 44,3 bilhões.  

Apresentado em 19 de maio, o mais recente plano de recuperação judicial da operadora inclui a venda de uma das “joias da coroa” da Oi: sua participação na empresa de redes neutras V.tal. Criada a partir da cisão da infraestrutura de fibra óptica da Oi, a V.tal teve seu controle vendido a fundos do BTG Pactual e à Globenet Cabos Submarinos. A transação foi concluída em junho de 2022 por R$ 12,9 bilhões. Restou à Oi uma fatia de 34,1% do capital.   

O plano de recuperação apresentado prevê a alienação de uma fatia de 14,6% do capital da V.tal em duas etapas, em 2025 e 2026. A expectativa da Oi é que a alienação gere R$ 14,4 bilhões. O montante projetado pressupõe um valor aproximado de mercado R$ 100 bilhões no futuro para a V.tal, premissa que é vista com reservas por analistas de mercado. Em relatório divulgado em 23 de maio pelo BTG Pactual, os analistas Carlos Sequeira, Osni Carfi e Guilherme Guttilla consideraram o valor “excessivo.”  

Ex-acionista da Oi, o gestor de recursos Fernando Primo de Rivera lembra que em 2021, quando os fundos do BTG Pactual arremataram o controle da V.tal, o valor estimado da empresa de redes neutras estava em torno de R$ 21 bilhões. Na visão de Rivera, crítico contumaz da maneira como a recuperação judicial vem sendo conduzida, é improvável no contexto atual, em que a taxa básica de juros é muito superior à da época, que o valor da companhia cresça cinco vezes em poucos anos.  

Garantir uma trajetória sustentável para a dívida da Oi, pondera o investidor, é crucial para alavancar o valor de mercado da companhia. Relatório da empresa de classificação de risco Fitch Ratings, publicado em 24 de maio, destacava a situação de “liquidez fraca” da operadora, que no fim de 2022 tinha em caixa R$ 3,2 bilhões, enquanto o valor de face de sua dívida somava R$ 35 bilhões.  

“O novo plano prevê uma diluição de 80% para os atuais acionistas da companhia e visa reduzir a dívida financeira em 50%”, destaca Bernardo Guttmann, analista responsável pela área de tecnologia, mídia e telecomunicações da XP.  

Para reduzir o endividamento a este nível, a Oi pretende se desfazer também da Oi Soluções (braço de negócios voltado para o segmento corporativo), da Serede (prestadora de serviços de implantação e manutenção de redes), da Tahto (contact center) e de parte da ClientCo, nome provisório da unidade que compreende as operações de varejo no mercado de banda larga via fibra.   

“A empresa pretende levantar R$ 4,8 bilhões com a venda de uma participação de 40% [na ClientCo], pressupondo uma avaliação de R$ 12 bilhões para o ativo, também exagerada, a nosso ver”, opinaram os analistas do BTG Pactual no relatório do fim de maio.  

Sob condição de anonimato, fonte do mercado de telecomunicações frisa que a média diária de negociação da Oi no ano passado, em torno de R$ 50 milhões, é compatível com a de outras operadoras de telecomunicações listadas na B3. Além disso, as análises de mercado para uma empresa em recuperação judicial são mais voltadas à questão da dívida e menos ao resultado, o que leva a uma cobertura mais financeira dos papéis, argumenta o especialista. A saída de investidores estrangeiros da B3 e a queda do volume geral negociado também ajudariam a explicar o mau momento pelo qual passam os papéis da Oi, sustenta ele.  

Sobre a redução na cobertura da Oi por analistas de bancos, a fonte argumenta que o capital da operadora se encontra pulverizado. O perfil do acionista da Oi é - portanto - mais o de investidor pessoa física (“são mais de 500 mil”) e menos do tipo institucional.  

Procurada para se manifestar sobre os temas tratados na reportagem, a Oi não quis comentar.

Fonte: Valor (04/07/2023)

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