Aportes chegam a R$ 130 bilhões. Envelhecimento da população e crescimento econômico estimulam setor, apontam especialistas
Os aportes (recursos aplicados pelos participantes) nos fundos de previdência privada aberta foram de R$ 130,8 bilhões no acumulado dos oito primeiros meses do ano, 17,9% maiores do que no mesmo período em 2023. Já os resgates subiram bem menos, 2,4%, totalizando R$ 88,5 bilhões.
Assim, os planos tiveram saldo líquido de R$ 42,3 bilhões de janeiro a agosto, um aumento de 72,3% sobre o mesmo período no ano passado, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).
Especialistas avaliam que o crescimento econômico, a geração de empregos e o interesse maior de investidores por causa do envelhecimento da população explicam os bons números do setor.
Marcelo Malanga, diretor-estatutário da Fenaprevi, explica que um dos principais fatores para o aumento foi a melhora da economia e a percepção da importância de uma reserva financeira para momentos de crise como a da Covid.
A expansão do setor
(em R$ bilhões)
Fonte: Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi)
— Durante a pandemia, tivemos um período de muito resgate, e os investidores viram que o produto foi de grande ajuda.
Dados da Fenaprevi mostram que o total de resgates acumulados de janeiro a agosto de 2019 ao mesmo período em 2024 aumentaram 85,92%. Já os aportes — acumulados de janeiro a agosto — subiram 64,12% nos últimos cinco anos, passando de R$ 79,7 bilhões em 2019 para o valor atual de R$ 130,8 bilhões.
Em relação à captação líquida anual, os dados mostram uma queda de quase 40% entre 2019 e 2022, devido aos efeitos da pandemia sobre os resgates (que aumentaram 73,2% no mesmo período). No entanto, entre 2022 e 2023, a captação líquida voltou a subir 28,4%.
A captação líquida nos oito primeiros meses deste ano, de R$ 42,3 bilhões, já é praticamente a mesma da acumulada em todo o ano de 2023, de R$ 42,9 bilhões.
Para Rafael Barroso, superintendente sênior da Bradesco Vida e Previdência, o tempo relativamente pequeno entre as duas reformas da Previdência realizadas no país — a de 2003, com foco maior em servidores públicos, e a de 2019, de abrangência mais ampla — evidenciam os desafios que o Brasil e outros países estão enfrentando com o envelhecimento da população:
— O cenário certamente pesa na decisão de contratar plano de previdência privada.
Teto do INSS na berlinda
O advogado Bruno Luna, de 47 anos, passou a investir em um plano de previdência complementar há 12 anos. Ele afirma que suas preocupações começaram a se intensificar após a aprovação da Reforma da Previdência, em 2019, que tornou mais rígidas as regras para se aposentar.
Ele diz que o teto da aposentadoria paga pelo INSS — o valor máximo do benefício para aposentados é hoje de R$ 7.786,02 — é um dos motivos para ter buscado os planos de previdência privada, pois considera o valor pago pelo sistema oficial incompatível com seu custo de vida atual ou com o que planeja receber quando idoso.
— Muitas coisas sobem absurdamente, como os planos de saúde de idosos — afirma Bruno Luna.
Malanga, da Fenaprevi, diz que a perspectiva de que o sistema de aposentadoria público ficará cada vez mais estrangulado no futuro aumenta o interesse por investimentos em planos de previdência privada. O Censo 2022, divulgado este ano, mostrou que o número de idosos — pessoas com 60 anos ou mais — no Brasil é de 32,1 milhões, um aumento de 56% em relação ao Censo 2010.
A busca por previdência privada tem se intensificado sobretudo entre o público mais jovem, e a tecnologia tem sido um motivador da tendência.
— O perfil tem nos impressionado, os jovens estão investindo eles mesmos pelos nossos canais eletrônicos. São clientes colocando valores menores, mas investindo. Acho que está sendo criada uma geração de investidores precoces — afirma Rogério Calabria, superintendente de Produtos de Investimento do Itaú.
Daniela Pederneiras, CEO da Double Check — empresa especializada em gestão financeira —, avalia que a previdência privada se tornou uma opção “mais interessante” para o público, especialmente diante das incertezas quanto à sustentabilidade do regime público.
Pederneiras pondera que o investimento em plano de previdência não é a única opção a ser considerada:
— Diversificar entre previdência privada e outros investimentos pode ser uma estratégia mais eficaz.
R$ 120 bi no VGBL
A pesquisa da Fenaprevi mostrou que os planos Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) foram responsáveis por 92% da captação bruta do setor de previdência privada nos oito primeiros meses de 2024, com um total de R$ 120 bilhões, valor muito acima do de outros planos. Luna, por exemplo, optou pelo plano VGBL.
Já o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) somou R$ 8 bilhões, totalizando 6%. Por fim, os planos tradicionais — planos antigos, que eram comercializados no passado por seguradoras (antes de VGBL e PGBL), mas que continuam vigentes, pois há participantes usufruindo dos benefícios — totalizaram R$ 2 bilhões do volume captado, com uma fatia de 2%.
A principal diferença entre os planos VGBL e PGBL é a questão tributária. Em ambos, o Imposto de Renda (IR) incide apenas na hora do resgate. No VGBL, o tributo é aplicado apenas sobre os rendimentos.
No PGBL, o imposto incide sobre o valor total resgatado ou recebido como renda, mas o investidor tem um incentivo fiscal no momento em que faz os depósitos.
É possível deduzir o dinheiro aplicado no fundo na declaração de ajuste anual do IR, até o limite de 12% da renda bruta anual.
Henrique Diniz, da Icatu Seguros, avalia que o modelo PGBL acaba sendo mais atraente para quem faz a declaração completa no IR:
— As pessoas usufruem menos dos benefícios do PGBL do que poderiam. Muita gente desconhece o benefício de poder abater do Imposto de Renda — alerta Diniz.
Fonte: O Globo (18/10/2024)
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