Operadoras voltaram a apurar lucro e a inflação médica registrou queda neste ano
Após um prejuízo de R$ 17,5 bilhões no acumulado dos últimos três anos, as operadoras de planos de saúde voltaram a registrar lucro operacional, de R$ 2,5 bilhões, no primeiro semestre. Com isso, a expectativa é que os reajustes dos convênios médicos, que saltaram entre 2022 e 2024, arrefeçam em 2025.
A inflação médica, um dos indicadores que servem de parâmetro para cálculo dos reajustes, neste ano já está menor.
Na carteira de cerca de 4 milhões de usuários de planos corporativos, administrada pela consultoria Mercer Marsh, a taxa de sinistralidade caiu 8,5 pontos percentuais, para 78,4% nos seis primeiros meses, quando comparada ao mesmo período de 2023. Ou seja, da receita apurada pelas operadoras com as mensalidades dos convênios, esse percentual foi para pagamento de procedimentos médicos realizados pelos pacientes. Há, portanto, maior margem.
“Os reajustes devem ser menores em 2025. Neste ano, já tivemos queda nos indicadores e a tendência é ir melhorando. É esperado que as seguradoras estejam mais flexíveis nas negociações daqui em diante porque elas também querem ganhar mercado”, disse Marcelo Borges, diretor-executivo da Mercer Marsh Benefícios.
A inflação médica na carteira da Mercer Marsh, no terceiro trimestre, ficou em 11,6% contra 17,2% de igual período de 2023. Na Aon, outra consultoria que atua nesse mercado, o indicador deve ficar entre 10% e 14%, no Brasil. Os reajustes dos planos de saúde são baseados nos gastos médicos do ano anterior.
Nos planos de saúde PME (pequenas e médias empresas), modalidade com 8,7 milhões de clientes cujos índices de majoração são divulgados no primeiro semestre, também já houve redução. Nos contratos válidos entre maio de 2024 a abril de 2025, a queda no reajuste ficou na casa dos três pontos percentuais, mas houve casos de operadoras baixando de cinco a oito pontos percentuais. “Esses indicadores refletem parcialmente a melhora da inflação médica, esperamos uma melhora gradativa”, disse Luiz Feitoza, sócio da consultoria Arquitetos da Saúde.
A reversão no desempenho das operadoras é devido a uma combinação de fatores como reajuste elevado por três anos consecutivos e planos de saúde com uma rede de atendimento médico (hospitais, laboratórios e clínicas) e serviços, como reembolso, mais enxutos. “Não existe uma bala de prata, foi tudo isso, recomposição de preços, planos com rede menor e maior controle de fraudes com terapias e reembolso”, disse Thomaz Menezes, CEO da consultoria It’s Seg. “A reprecificação já está completa, as operadoras conseguiram recompor a alta dos custos médicos”, complementou Leonardo Coelho, vice-presidente da divisão de saúde da Aon.
Segundo especialistas do setor, o olhar das operadoras agora tende a ser de crescimento de base. Esse mercado conta, atualmente, com 51,4 milhões de usuários de planos de saúde. É um aumento de 4 milhões de pessoas desde a deflagração da pandemia, em 2020. Apesar do crescimento expressivo nos últimos quatro anos, o volume de beneficiários que temos hoje é bem semelhante ao de dez anos atrás, em 2014, quando o setor contava com 50,3 milhões de usuários. “Se olharmos o copo meio cheio, é positivo. Mas olhando o copo meio vazio, praticamente não houve crescimento em dez anos”, disse Feitoza.
Outro ponto é que, do ano passado para cá, a taxa de crescimento vem caindo. Esse arrefecimento tem relação direta com a taxa de emprego, queda nos casos de covid-19 e aumento expressivo no preço dos planos de saúde. Nesse cenário, as operadoras têm criado novos formatos de convênio com cobertura reduzida.
Um dos pleitos do setor, atualmente, para chegar a uma camada da população da base da pirâmide, é viabilizar plano de saúde ambulatorial, mas sem cobertura de internação de emergência de 24 horas. Atualmente, essa modalidade é pouco ofertada no mercado devido aos riscos de judicialização, uma vez que é um processo complicado transferir pacientes internados.
Fonte: Valor (28/10/2024)
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