A inteligência artificial generativa, tecnologia que responde e escreve quase como um humano, já faz parte do dia a dia de boa parte dos profissionais brasileiros. Embora alguns ainda tenham dúvidas e até desconfiança sobre seu uso e sintam falta de receber mais orientações e treinamento em suas empresas, boa parte está aprendendo e avançando como autodidata.
Esses dados estão em uma pesquisa realizada com 335 profissionais, sendo 46% empregados em regime CLT, 54,69% homens, 43,75% da geração baby boomer, 38,28% da geração X, 52,34% pós-graduados, 24,22% ocupam cargos de liderança, 23,44% são especialistas, 23,44% são profissionais liberais e 70% moram no estado de São Paulo. O estudo, chamado “A caminho da supermind: Pessoas habilitadas em IA”, foi realizado pelo MIT Sloan Management Business Review, Talenses Group, Talent Academy e Crias.
“O que chama a atenção é que mais da metade dos entrevistados (62,69%) usam a IA generativa, e quem usa acaba usando muito”, diz Maurício Betti, CEO e cofundador da Talent Academy. Na pesquisa, 30,43% afirmaram utilizá-la entre duas e cinco horas diariamente. “Quanto mais a pessoa usa, mais ela vê valor, então vira um ciclo positivo, virtuoso”, acredita.
Douglas Souza, CEO do MIT Sloan Management Review Brasil, diz que os resultados da pesquisa exemplificam o conceito de “supermind” do professor Thomas Malone, do MIT, que dá nome ao estudo. O estudioso defende que à medida que incorporamos tecnologias inteligentes em processos tradicionalmente humanos, uma forma ainda mais poderosa de colaboração pode surgir. “São três pontos. O primeiro é o uso da inteligência coletiva, onde acessar um grupo maior de pessoas, dados ou informações, pode gerar melhores insights para o negócio. O segundo é a produtividade, a coordenação de habilidades humanas e das máquinas, e o terceiro ponto é a ampliação da capacidade humana a partir desse ganho de produtividade. Ao invés de fazer 10 no tempo ‘x’, eu faço 15”, explica.
Mas a pesquisa mostra também que ainda existe uma parcela de profissionais que desconfia e vê desafios na adoção desse tipo de IA. Para 60,29%, falta transparência nas fontes usadas pelos algoritmos, 39,70% apontam regulamentação e legislação inadequadas.
Uma preocupação que afasta alguns trabalhadores da IA generativa é a dificuldade no uso ou a falta de treinamento (35,82%). “Acho que existe um mito, que limita o uso, que é eu só vou usar se alguém me treinar e eu tiver um certificado”, diz Betti. “Mas a maioria pode usar o básico aprendendo sozinho no trabalho.”
A pesquisa cruzou o perfil dos usuários com seu perfil comportamental, e mostrou que os que usam a ferramenta com mais proficiência foram os primeiros a adotá-la (“early adopters”). Eram pessoas mais familiarizadas com tecnologia e que tinham um perfil mais explorador, de quem gosta de experimentar. “A curva de adoção foi mudando para outros perfis”, explica Luiz Valente, CEO do Talenses Group. Os profissionais mais práticos, organizados e responsáveis, chamados na pesquisa de “sentinelas”, segundo ele, demoraram mais para aderir ao uso, mas uma vez que começaram passaram a usar bastante.
Um treinamento específico na empresa, no entanto, pode fazer muita diferença e potencializar os resultados na aplicação da IA generativa para todo perfil de profissional. “É como alguém que dirige um carro manual, e pega um automático, sem nenhuma instrução”, diz Souza. “Precisamos de capacitação, se não a pessoa vai passando de ano sempre tirando um seis.”
A geração Z é a que mais comunica para a empresa que usa a IA generativa”— Douglas Souza
“As companhias que não perceberem a importância dessa capacitação vão acabar perdendo espaço para seus competidores”, afirma Valente. Betti diz que ainda falta uma estratégia de treinamento nas companhias, que hoje usam a IA apenas para resolver algumas soluções internas. “Não escuto as organizações dizerem que estão treinando os próprios funcionários.”
Enquanto não recebem capacitação formal dos empregadores, profissionais de todas as gerações, segundo a pesquisa, seguem desbravando a ferramenta como autodidatas. “A geração Z é a que mais comunica para a empresa que usa a IA generativa em seu trabalho”, diz Souza. “Isso porque eles não têm medo e se sentem mais à vontade para dizer.”
O estudo mostra que 62,67% dos usuários sentem que alcançaram um ganho de produtividade alto ou muito alto usando a IA generativa, no entanto, só os mais novos se sentem valorizados por esta razão no trabalho. Muitos profissionais se inibem de comunicar que estão usando a IA generativa no trabalho por conta de um viés negativo que ainda existe sobre o uso da ferramenta. “Eles acreditam que chefes podem achar a pessoa folgada, não comprometida, pouco autêntica e espontânea”, diz Betti. Além disso, há muitas dúvidas sobre privacidade e segurança (39,10%). “Mais uma vez isso mostra a falta de conscientização e treinamento. Se você não sabe como funciona a questão da segurança na sua empresa, não sabe até onde pode ir.”
Fonte: Valor (30/09/2024)
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