sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Meu Bolso: Qual foi o melhor investimento para ganhar dinheiro neste ano até setembro?

 


O mês foi complicado para navegar pela renda variável, apesar do início de cortes de juros nos EUA 

O período acaba reforçando o sentimento que marca o ano: uma dose de risco sem abrir mão da segurança

Setembro foi um mês difícil para ganhar dinheiro com investimentos. As margens de retornos estiveram apertadas e nenhuma classe de ativo teve entregas consistentes ao longo deste mês. Mas era para ter sido diferente. Com o início do ansiado ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, os ativos mais voláteis deveriam, num modo geral, ter deslanchado. Só que a realidade tinha outros planos - em especial para o Brasil.

Num ambiente global ainda bastante contaminado por incertezas econômicas (o ritmo desencontrado dos maiores mercados) e pelo acirramento das tensões geopolíticas, os ativos que oferecem mais riscos e, por isso, tendem a ser mais rentáveis ficaram descompassados.

Assim, o bitcoin ficou com o título de campeão em rentabilidade em setembro, com retorno de cerca de 8% em dólar e em torno de 5,3% em real no acumulado deste mês.

Evolução das aplicações financeiras

Rentabilidade nominal no período - em %

Na segunda posição aparece o Índice Composto SSE, um índice com as ações mais negociados na bolsa de Xangai (China), que teve retorno de 17,4% em setembro.

O retrato sacramenta, assim, o MSCI Emergentes na terceira posição, com alta de 6,45%. O índice, que é acompanhado pelo principal fundo de mercados emergentes - o iShares MSCI Emergentes -, é composto por ações desses países.

Isso porque a China representa quase 20% da composição do índice MSCI Emergentes. E o estirão que a bolsa de Xangai deu no último dia deste mês - na sua maior alta desde 2008 - foi o que jogou esses ativos à frente das bolsas americanas, que vinham reagindo bem ao corte jumbo nos juros dos EUA e a perspectivas de novas quedas da mesma magnitude.

Os ativos chineses pegam impulso nos estímulos anunciados pelo governo central na última semana. O Partido Comunista da China reconheceu a necessidade de interferir no crescimento da economia, a fim de evitar a brusca desaceleração do mercado, especialmente o imobiliário, que concentra a poupança da sua população.

Essas novas medidas engatilharam o otimismo com a economia chinesa que, por sua vez, puxa o desempenho de outros ativos mundo afora.

Líderes de 2024 - até setembro

O bitcoin retomou o posto de ativo mais rentável no mês e aumentou a margem de liderança no ranking dos ativos com os maiores retornos no acumulado do ano. A criptomoeda mais negociada do mundo já entregou cerca de 65,6% de retorno em real entre janeiro e setembro.

A questão do bitcoin (e de qualquer criptomoeda) é que, assim como se ganha, também se perde. Por mais vistoso que esse retorno pareça no consolidado de 2024, o percurso foi bastante acidentado.

Em outras palavras: a volatilidade do bitcoin é alta. Para se ter dimensão, em agosto, o bitcoin fechou o mês com perdas da ordem de 8%. Em julho, valorizou 4%, o que já apontava a desaceleração do rali na criptomoeda, que chegou a anotar ganhos de 45% em fevereiro deste ano.

Já o ouro aparece na segunda posição entre os ativos mais rentáveis no ano, tendo entregado 43,5% entre janeiro e setembro após sucessivos recordes.

Ou seja, um ativo de uma das classes de maior risco no mercado global e um dos mais seguros do mercado de capitais dividem o pódio dos mais visados por investidores. É paradoxal, mas existe sentido neste cenário.

O alívio que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) promoveu nos juros americanos prepara prepara o mercado de capitais para uma injeção de liquidez. Assim, investidores ficam mais inclinados a tomar risco, na busca de mais retornos mundo afora.

Mas, ao mesmo tempo, com guerras na Europa e no Oriente Médio e as incertezas sobre as políticas monetárias (ritmo, magnitude dos cortes, risco de recessão nos EUA), existe uma corrida paralela por reservas de valores.

No primeiro cenário, de cortes nos juros americanos, sobe o potencial de valorização dos criptoativos no curto prazo. Neste contexto, os ETFs (fundos que acompanham índices) de bitcoin negociados no mercado americano voltaram a registrar fluxo positivo neste mês.

Já no segundo cenário, da insegurança global, tanto dólar quanto ouro surgem como opções de ativos para proteção das carteiras.

No entanto, a moeda americana vem perdendo força justamente por conta da queda dos juros, que torna a renda fixa dos EUA menos atrativa. Assim, a tendência é que o capital concentrado nesses ativos se espalhem mundo afora (seja renda fixa ou variável de outros países).

Resultado: tanto bitcoin como ouro se tornam ativos que atendem demandas dos investidores. Neste sentido, cabe considerar que os dois ativos são bastante líquidos e, por isso, permitem que as posições neles seja desfeitas com mais facilidade para se ter acesso

Os cuidados com o bitcoin

Desde o fim de 2023, o bitcoin figura vez e de novo entre os ativos que mais renderam no mês. Em 2024, tem entregado o maior retorno mensal de forma consistente. E isso pode levar o investidor a um erro crasso: o de que criptomoedas são sinônimo de ganhos garantidos.

Não são.

É do jogo desse mercado de risco elevado. Por isso, o investidor precisa saber que, na mesma que intensidade que se ganha também se perde. E rapidamente. São ativos considerados altamente arriscados e que são negociados 24 horas por dia, todos os dias da semana.

Para investidores de perfil agressivo, ou seja, aqueles com bastante apetite por risco, a recomendação de especialistas é que a exposição da carteira a criptomoedas alcance no máximo uma fatia de 5%. Isto no caso do bitcoin.

Para criptomoedas menos líquidas (que tendem a ser até mais voláteis), a recomendação é ter uma exposição menor que 5% da carteira.

Investidores de perfil moderado podem se expor à classe via fundos multimercados, que tendem a ter alguma proteção na carteira, e fundos que acompanham índices (os ETFs) de criptomoedas.

Já os investidores conservadores devem passar longe dessa classe. Independentemente de quanto esses ativos rendam no mês.

E o Brasil?

Aqui no Brasil, a deterioração do cenário fiscal, que desancorou as expectativas para a inflação, pressionou o Banco Central (BC) a subir juros pouco mais de um ano depois de ter iniciado os cortes da taxa. O movimento rebaixou o teto para crescimento dos ativos da renda variável local.

Assim, o Ibovespa encerrou o mês com perdas de 3%, e os outros índices da bolsa brasileira não performaram muito melhor. Mas o pior desempenho na B3 foi do Índice de Consumo (ICON3), que reúne papéis de empresas ligadas ao consumo e teve perdas de 4,7% no último mês.

Só que a última janela não é tão ruim assim para a bolsa brasileira.

No terceiro trimestre de 2024, o Índice de Dividendos (IDIV) da B3, indicador do desempenho médio das cotações dos ativos que se destacaram em termos de remuneração dos investidores, foi o melhor entre os ativos doméstico, com alta de 7,93% entre julho e setembro e ainda salva ganhos de 4,25% no acumulado do ano.

Já o Ibovespa valorizou 6,38% nos últimos três meses e chegou a zerar as perdas acumuladas no ano em agosto.

Quer dizer, a situação para o índice degringolou mesmo neste último mês. Pudera. Desde que a Selic voltou a subir, a bolsa brasileira ficou quase "indefensável" para os investidores, considerada a possibilidade de investir assumindo riscos baixos enquanto a taxa básica de juros ronda os 10,75% ao ano - e deve subir mais em breve.

Mas alguns especialistas garantem que é só por enquanto. Para eles, não deve tardar até que a bolsa brasileira retome sua trajetória de recuperação.

Fonte: Valor Investe (30/09/2024)

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