terça-feira, 21 de abril de 2020
Comportamento: Pandemia faz petróleo fechar abaixo de zero nos EUA pela primeira vez
Parada da atividade econômica e excesso de óleo estocado explicam movimentação atípica do mercado
A pandemia de coronavírus gerou um impacto sem precedentes no mercado de petróleo nesta segunda-feira. Diante da fraca atividade econômica nos Estados Unidos e do excesso de estoques no país, o contrato do óleo da maior região produtora americana - o Oeste do estado do Texas - encerrou o dia abaixo de zero pela primeira vez na história.
O contrato do barril de petróleo do tipo WTI (West Texas Intermediate) chegou ao fim desta segunda-feira valendo menos US$ 37,63, segundo a agência de notícias Reuters. Isso signfica que o vendedor do papel estava pagando para que outro investidor assumisse o contrato.
Isso acontece porque como a economia americana reduziu drasticamente seu ritmo de atividade, para achatar a curva de contágio do novo coronavírus, o consumo de petróleo despencou e as empresas de energia ficaram com seus estoques cheios.
Como os contratos do petróelo WTI exigem entrega física, quem estava com papéis com essa obrigação para maio simplesmente tentou de tudo para se livrar do problema.
"As consequências da queda da demanda colocaram uma aversão permanente a qualquer um que possua petróleo no curto prazo", explicou, em relatório, o analista de mercado financeiro da corretora Oanda, Edward Moya, baseado em Nova York.
Estocagem no limite
Moya afirma que como a capacidade de armazenamento está chegando ao fim nos EUA, ninguém quer receber a entrega.
Para se ter uma ideia do problema de armazenamento de curto prazo nos Estados Unidos, basta ver como se comportaram os contratos negociados neste início de semana com entregas previstas para junho ou julho.
O contrato do WTI de junho, que vence em 19 de maio, foi negociado a US$ 20 por barril, enquanto o contrato de julho chegou a ser vendido por US$ 26 por barril.
"Essa questão do vencimento do contratos no campo negativo pode ocorrer novamente no próximo mês se virmos estoques e oleodutos perto da capacidade", afirmou Moya.
“A maior parte da queda ocorre porque o contrato futuro de maio vence nesta terça-feira, e o colapso reflete um excesso de petróleo em rápido crescimento e a rápida expansão dos estoques em Cushing, Oklahoma, o centro de preços americanos", escreveu William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securitie, baseado em Miami.
O petróleo do tipo Brent, negociado na bolsa de Londres, também caiu, mas nem de longe teve desempenho parecido com o WTI, que é negociado na bolsa de Chicago.
- Via de regra, são produtos semelhantes, mas produzidos em locais diferentes, entregues para diferentes consumidores, com diferentes custos - explicou Thiago Salomão, da Rico Investimentos.
A armazenagem no núcleo de Oklahoma saltou para 55 milhões de barris, ante uma capacidade de estocagem de 76 milhões de barris.
Compradores diferentes
– De forma simples, o WTI tem entrega física. Quando os contratos vencem, a entrega ocorre em Cushing, Oklahoma, que é a região onde ficam concentrados tanques de armazenagem. O escoamento do Brent é via mar. A logística deles é diferente. O WTI está em terra, o escoamento fica mais difícil em tempos de lockdown – destacou Ricardo Kazan, sócio e gestor da Novus Capital.
A diferença entre os compradores do Brent e do WTI também ajuda a entender as razões por trás do movimento registrado em cada contrato neste início de semana.
– O Brent é uma referência das regiões do Mar do Norte e do Golfo Pérsico. Naquela área, além de o escoamento ser pelo mar, os países próximos como Índia e China, embora com lockdown, tiveram restrições menos intensas. Aqui no Ocidente, as restrições ainda estão mais fortes, principalmente nos EUA, que se tornaram o novo epicentro da covid-19 – explicou Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
O barril do petróleo tipo Brent (referência internacional) encerrou o dia cotado a US$ 25,57, queda de 9% na Bolsa de Londres.
Sukrit Vijayakar, analista da Trifecta Consultants, destaca que as refinarias americanas não conseguem transformar o petróleo cru de maneira suficientemente rápida, o que explica por que há menos compradores e, ainda assim, as reservas continuam aumentando.
Excesso de oferta
A crise na cotação foi intensificada depois que a Arábia Saudita, membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), iniciou uma guerra de preços com a Rússia, que não integra o cartel, mas é aliada.
Os dois países encerraram a disputa no início do mês, quando aceitaram, ao lado de outros parceiros, reduzir a produção em 9,7 milhões de barris diários para estimular os mercados afetados pelo vírus.
Ainda assim, os preços continuam em queda. Analistas consideram que os cortes não são suficientes para compensar a forte redução da demanda.
"Os preços do petróleo continuarão sob pressão", destaca o banco australiano ANZ, em comunicado. "Embora a Opep tenha aceitado uma redução sem precedentes na produção, o mercado está inundado de petróleo"
Royalties menores para estados e municípios
Para Ermínio Lucci, presidente da corretora BCG Liquidez no Brasil, subsidiária da americana BGC Partners, será difícil ver o preço do barril de petróleo entre US$ 90 e US$ 100 no curto e médio prazos. A melhora no preço no curto prazo vai depender de quanto tempo durar o lockout da economia e quanto os estímulos fiscais que estão sendo dados por governos conseguirem reativar a atividade econômica, incluindo o consumo de gasolina ou a retomada de viagens.
- Hoje não há visibilidade de quanto isso vai acontecer. E mesmo quando as pessoas começarem a viajar de avião, vão se deslocar menos enquanto de fato não houver uma vacina contra o coronavírus. O mesmo raciocínio vale para o consumo de gasolina. Vamo ter uma mudança comportamental - afirmou.
Para o país, o petróleo em queda tem dois impactos negativos. Estados e municípios vão receber menos royalties, num momento difícil do ponto de vista fiscal. E novos investimentos no pré-sal ficam adiados.
- Isso terá impacto na cadeia de máquinas, na criação de empregos. E as ações da Petrobras tendem a seguir esse movimento de recuperação da economia. É difícil prever onde o petróleo vai estar daqui a dez anos. Mas isso não significa que quando o petróleo voltar para o patanar de US$ 40 os investimentos no pré-sal não sejam retomados - afirma Lucci.
Fonte: O Globo (20/04/2020)
Postado por
Joseph Haim
às
13:21:00
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