quinta-feira, 23 de abril de 2020

Fundos de Pensão: Maioria dos gestores de previdência complementar revisou sua política de investimentos na crise



É o que mostra levantamento da consultoria Mercer: redução riscos, aumento da diversificação, preocupação com a liquidez e manutenção de metas atuariais esse ano. 

Mais de 80% dos gestores de fundos de pensão e de previdência privada já adotaram ações em seus portfólios para minimizar os impactos da crie financeira gerada pelo novo coronavírus. Quase 60% deste movimento vai no sentido de iniciar uma revisão das políticas de investimentos dos planos, de acordo com um levantamento da consultoria Mercer em parceria com a Abrapp, associação que representa os fundos de pensão.  

O levantamento obtido pelo Valor ouviu 132 participantes, entre diretores, gerentes e analistas, que representam 61% do patrimônio total de previdência corporativa no Brasil. No primeiro momento, a reação é para reduzir o risco, em uma “fotografia defensiva”, na visão da Mercer.   

“Pode ser uma primeira reação em um momento de alta incerteza e volatilidade”, diz o líder de previdência e investimentos da consultoria no Brasil, João Morais. Mas, com a depreciação dos ativos, esse pode não ser o momento adequado. “Para o investidor de médio e longo prazo, os ativos de maior risco tendem a oferecer maiores retornos”, completa.  

Morais também defendeu uma maior diversificação dos portfólios, tema já antigo de debate entre os fundos de pensão. “O S&P 500, por exemplo teve perdas menores que o Ibovespa. O evento recente mostra o quão benéfica seria a diversificação internacional”, afirma.  

As crises financeiras não são novidade para o mercado brasileiro, mas a atual traz um componente que outras não tiveram - a taxa básica Selic em suas mínimas históricas, com expectativas de novas reduções -, lembra Morais. “Isso deve ser levado em consideração em plano de previdência de médio e longo prazos”, afirma o executivo.  

Apesar da reação inicial, há uma preocupação com a liquidez, e de maneira geral ainda não se percebe grandes alterações na composição dos portfólios. Segmentos como renda variável e multimercados, que sofreram desvalorização nas últimas semanas, acabam tendo um peso menor do que tinham anteriormente, em um desenquadramento passivo dos portfólios. “Com um pouco mais de convicção em relação ao futuro, poderão ser tomadas decisões mais fundamentadas”, afirma Morais.   
Além da revisão das políticas de investimentos, os gestores estão focados em olhar para avaliar novamente os cenários de juros e os estudos de ALM - o mecanismo de gestão de ativos e passivos - (53%), as estruturas dos custos de gestão (31%), a reavaliação da posição atuarial (29%) e a revisão das regras dos planos (25%), de acordo com a pesquisa.  

Não há muita diferença entre as reações dos gestores dos fundos de previdência aberta ou fechada, segundo o responsável por produtos na área de previdência e investimentos da Mercer, Guilherme Gazzoni. Mas os participantes da previdência aberta têm mais flexibilidade de resgate ou mudança de perfil de investimento. “O gestor de previdência privada tem uma preocupação especial de evitar que o indivíduo tome decisões precipitadas”, diz.  

Nas entidades fechadas, por outro lado, crescem as expectativas para a divulgação das taxas de Estrutura a Termo de Taxa de Juros (ETTJ) média pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), que regula os fundos de pensão. Esse indicador baliza a formação das metas atuariais e pode pressionar os passivos. “Há uma discussão se faz sentido ou não para as fundações terem meta atuarial este ano”, afirma Gazzoni.

Fonte: Valor (23/04/2020)

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