De tumba de rainha a mesquita medieval, país africano libera visitas digitais durante a quarentena
Aos pés da pirâmide de Quéops, a maior do complexo de Gizé, o túmulo da rainha egípcia Meresankh III esteve oculto por muitos séculos, até ser encontrado em 1927. Hoje, bastam alguns cliques para explorar seu interior. O sítio arqueológico de mais de quatro mil anos é um dos 12 patrimônios históricos do Egito que atualmente podem ser visitados de forma virtual. Entre tumbas, templos e museus, não falta o que explorar durante o período de distanciamento social.
Estas portas digitais estão sendo abertas desde o começo de abril pelo Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito. Em parceria com instituições de pesquisa internacionais e uma empresa especializada em realidade aumentada, vem disponibilizando roteiros virtuais em 360 graus de importantes atrações. Também têm sidos publicados vídeos com visitas a museus.
A tecnologia usada permite que o visitante tenha a sensação de caminhar pelos corredores e salões, recriados a partir de fotografias de alta definição. Há um roteiro pré-definido dentro de cada espaço, mas é o usuário quem escolhe a direção a seguir. Em algumas atrações, é possível clicar em marcações na tela para saber mais informações. Os links são publicados nas contas do ministério no Twitter, no Instagram, no Facebook e em seu site oficial.
Para os apaixonados por Egito Antigo, até agora já estão no ar os tours virtuais por seis tumbas. A mais impressionante delas é a do faraó Ramsés VI, que governou de 1143 a 1136 a.C. Considerada uma das mais bonitas do famoso Vale dos Reis, na cidade de Luxor, às margens do Rio Nilo, ela tem as paredes cobertas por imagens e hieróglifos de textos sagrados da época. Tudo isso pode ser visto no longo corredor que leva o visitante até a câmara funerária, cujo teto é ricamente decorado com cenas que mostram o mundo pós-morte da mitologia egípcia.
Outro tesouro arqueológico aberto à visitação digital é a tumba da rainha Meresankh III, que foi neta de Quéops e esposa de Quéfren, dois dos mais marcantes faraós egípcios, que encomendaram as duas maiores pirâmides de Gizé. Entre os destaques estão as dez estátuas de mulheres enfileiradas, algo incomum na sociedade patriarcal egípcia, que mostram a rainha junto a algumas parentes.
Mais um clique e chegamos à tumba de Menna, um funcionário de altíssimo escalão da administração real. Rica em imagens e hieróglifos, que retratam a vida de um membro da elite do Egito Antigo, sua tumba , no complexo da Necrópole de Tebas, é considerada uma das melhor preservadas.
Do complexo arqueológico de Saqqara, necrópole da antiga capital Mênfis, estão disponíveis tours virtuais pelas tumbas do sacerdote Wahti, aberta apenas em 2018; dos irmãos Niankhkhnum e Khnumhotep, altos oficiais reais; e do vizir (chefe administrativo) Mehu — todas com cenas da vida cotidiana do antigo império Egípcio. Também é possível visitar a tumba de Kheti, outro burocrata de alto escalão, da sexta dinastia (entre 2345 a.C. e 2181 a.C.), na cidade de Beni Hasan.
A visita digital mais recente é a da Pirâmide de Djoser, justamente a mais antiga do Egito (e também do mundo), com 4.700. O tour virtual foi publicado na última quarta-feira (22/4) e mostra três etapas do monumento: a entrada, num corredor formado por colunas arredondadas; um corredor subterrâneo, que parece ter sido escavado na própria pedra; e a crípta, a 28 metros de profundidade, onde está o túmulo do rei Netjerykhet (ou Djoser).
Patrimônio da Humanidade pela Unesco, a pirâmide também fica na Necrópole de Saqqara, e foi reaberta à visitação no começo de março, após 14 anos fechada para reformas. Uma pena que, por causa da pandemia do novo coronavírus, o monumento precisou ser fechado poucas semanas depois.
Os tours virtuais ensinam também que o Egito tem belezas de outros períodos históricos que merecem ser conhecidas. Como as Catacumbas de Kom al-Shuqafa, em Alexandria, construídas durante o período de domínio romano (30 a.C a 395).
Templos das três grandes religiões monoteístas também estão incluídos neste pacote turístico digital. O Monastério Vermelho é um deles. Fundado por cristãos coptas em Sohag, na região central do país, às margens do Rio Nilo, o monastério ganhou esse nome por causa da cor dos tijolos usados em sua construção, no século IV.
Já a sinagoga de Ben Ezra, na parte antiga da cidade do Cairo, marca o suposto local onde o bebê Moisés teria sido encontrado e adotado pela família real. Seu prédio foi construído originalmente para servir como uma igreja cristã copta, mas desde 882 abriga serviços religiosos da comunidade judaica.
Também no setor histórico da atual capital egípcia fica a mesquita e madrassa do Sultão Barquq (ou Az-Zaher Barquq). Inaugurado em 1384, esse complexo religioso foi concebido também para servir de escola para sacerdotes aprendizes. Quando a pandemia passar, quem visitar o Cairo não deve deixar de passar na Rua al-Mu'izz, onde o prédio está localizado, ao lado de outros importantes monumentos arquitetônicos dos séculos XII e XIII.
Fonte: O Globo (23/04/2020)
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