A alocação no exterior dos fundos de pensão deve crescer este ano, ainda que na média continue longe de ultrapassar o limite legal de 10% dos ativos. Segundo dados revelados pela pesquisa sobre tendências de investimento 2021, feita pela consultoria Mercer junto a 53 Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) brasileiras, que somam 219 planos e R$ 275 bilhões em ativos, a mudança no patamar dos juros segue produzindo ajustes importante nas estratégias. Esse movimento foi acentuado pela pandemia. A pesquisa aponta a intenção de diversificar ainda mais as carteiras de investimento, com destaque para investimentos no exterior, cuja presença nas carteiras das fundações deverá ser mantida, ampliada ou, em alguns casos, inaugurada em 2021.
Ao todo, 64% das EFPCs pesquisadas já investem no exterior, representando um total de R$ 3,5 bilhões. Nas grandes fundações, com patrimônio acima de R$ 2 bilhões, a exposição fora do país deve crescer e 88% delas anunciam planos para incrementar em 73% sua alocação nessa classe em 2021. Esse salto acontece em parte porque algumas dessas entidades estavam ainda com percentuais pequenos de investimento internacional e uma delas vai começar agora a investir lá fora, o que puxa a média para cima, informa o líder de Investimentos da Mercer Brasil, Maurício Martinelli. “Mas a dinâmica da diversificação tem sido essa nos últimos anos, desde que a Selic começou a ser reduzida. As entidades passaram a buscar uma renda variável mais ativa, depois os fundos estruturados e a alocação no exterior seguiu a mesma lógica gradual atéganhar mais espaço agora”, diz o consultor.
O problema é que as fundações levaram tempo além do necessário para tomar esse caminho. “De 2016 para cá muitas delas demoraram tentando adivinhar qual seria o melhor momento para entrar em carteiras globais, tentando descobrir o que aconteceria com as bolsas internacionais e com o câmbio, o que atrasou um pouco o processo”, analisa Martinelli. Ao mesmo tempo, porém, os gestores ganharam mais conhecimento sobre esse tipo de alocação e amadureceram a percepção dos benefícios de diversificar globalmente quando se olha para os retornos de longo prazo, independentemente do momento de entrada nesse mercado.
Mais do que os ganhos cambiais de 2020, as estratégias de alocação no deverão ser o principal vetor de rentabilidade para as carteiras de exterior este ano e provavelmente em 2022, estima Martinelli. Nem mesmo o aperto mais forte na Selic, que subiu 0,75% na última reunião do Copom e promete encerrar o ano em 4,5%, altera a relevância de buscar retornos diferenciados para os ativos no exterior. “Ainda teremos juro real negativo este ano e, para 2022, considerando que a Selic vá a 6,5%, o juro real será de 3% frente a uma inflação de 3,5%, o que é um retorno baixo para que as fundações cumpram suas metas e benchmarks”.
A pesquisa mostrou a tendência de reforçar a diversificação também via exposições em ações, renda fixa, hedge funds, private equity e imóveis. A captura de retornos adicionais fica mais complexa este ano, quando será ainda mais difícil bater as metas atuariais do que foi em 2020, projeta Martinelli. “O câmbio não está arrefecendo como se esperava e a pressão sobre a inflação no atacado é maior; por outro lado, o juro ainda é baixo e a economia está diante de um forte desafio fiscal, sem contar que os ruídos dos últimos meses tornaram tudo mais incerto”, diz o consultor. O que significa que a bolsa e os papéis públicos mais longos vão refletir a dinâmica política e fiscal do País.
Complexidade
Entre os fatores apontados na pesquisa como os mais relevantes para ir às compras lá fora estão a queda dos retornos no mercado doméstico, juros reais baixos ou negativos e a oferta de mais fundos e produtos de investimentos internacionais. Outros motivos indicados pelos gestores das entidades são as mudanças e melhorias na legislação local; melhor conhecimento da equipe em relação ao tema; menores custos de administração dos investimentos no exterior, redução da volatilidade do mercado global e maior conhecimento dos consultores sobre o assunto.
Do lado das preocupações, as fundações destacam que, embora haja interesse em aumentar a exposição a ativos fora do Brasil, não são poucos os desafios. Entre as de grande porte, 58% apontam como maior desafio a complexidade dessa modalidade de investimento. Para 60% dos médios e pequenos fundos de pensão, a questão está no risco envolvido. Outros 15% dizem que há falta de bons produtos e ausência de apoio dos participantes, dos patrocinadores e dos conselhos. A pesquisa mostrou ainda que 71% dos consultados precisaram de suporte para desenhar suas estratégias, ou seja, para escolher os melhores gestores de fundos.
“Além disso, o levantamento revelou que, para 41% das grandes fundações, delegar o processo de gestão de investimentos no exterior já é uma necessidade concreta”, lembra Martinelli. Percentual similar de respostas sinalizou a necessidade de contar com suporte qualificado para fazer esse tipo de alocação.
“As respostas mostram que os gestores estão conscientes das vantagens de aplicar em diferentes estratégias e setores, além da proteção à carteira que é garantida pela exposição a moeda forte e aos ativos mais resilientes nas bolsas”, avalia Martinelli. Na média, ele estima que o total alocado pelo sistema em exterior não deverá chegar a ameaçar o teto regulatório de 10% este ano. Entre as fundações com patrimônio maior, entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, porém, o percentual médio já está perto de 6% dos ativos.
Fonte: Invest. Institucional (19/03/2021)
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