sexta-feira, 19 de março de 2021

Meu Bolso: Com alta da Selic, veja o que fazer com seus investimentos, caso tenha uma sobrinha do seu benefício

 


Com uma escada já demarcada para os juros subirem à frente, é natural que os investidores tenham dúvidas sobre suas carteiras. Se você é um dos quase 3,5 milhões de brasileiros que estão na bolsa, não precisa sair correndo. Mas talvez seja momento de avaliar se sua exposição está alinhada ao seu apetite ao risco

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), ontem (17), de elevar a taxa básica de juros marca uma nova era da política monetária. A elevação de 0,75 ponto percentual na Selic, para 2,75% ao ano, é a primeira desde julho de 2015 e uma resposta do Banco Central à escalada dos riscos fiscais, do câmbio e da inflação.

A piora do cenário fez com que o aumento dos juros fosse antecipado do segundo semestre deste ano, como era sinalizado pelo mercado em meados de 2020, para março e superou as expectativas para essa reunião. Mas não deve parar por aí, como o Copom já indicou no comunicado. A expectativa para a Selic subiu de 4% para 4,5% no fim de 2021 e está em 5,5% no fim de 2022, segundo o Boletim Focus de segunda-feira (15).

Com uma escada já demarcada para os juros subirem à frente, é natural que os investidores tenham dúvidas sobre como ajustar suas carteiras. A primeira coisa a se levar em consideração é que, por mais que a expectativa seja de juros mais altos, dificilmente o Brasil voltará a ter Selic de 10% ou mais no curto e médio prazos.

Assim, se você é um dos quase 3,5 milhões de brasileiros que estão na bolsa, não precisa sair correndo das aplicações em renda variável. Mas talvez seja um bom momento de avaliar se sua exposição está alinhada ao seu apetite ao risco.

"O investidor que foi mais agressivo, que foi todo para bolsa [com a queda do juros], é o primeiro a pular fora. Os que estão mais balanceados têm grandes chances de continuar na bolsa", diz Carlos Messa, gestor da Quasar.

Embora seja esperado um pouco mais de fluxo de investimentos para a renda fixa com o início do ciclo de alta de juros, seja em títulos públicos ou de crédito privado, não deve haver debandada da bolsa.

"A volta dos juros para um patamar entre 5% e 6% [como é o esperado] não vai parar o interesse dos investidores por ações. No curto prazo pode até ter desaceleração [no fluxo para a bolsa], mas acho difícil ter uma reversão. Esse caminho é um pouco sem volta", diz Alexandre Sabanai, gestor de portfólio da Perfin Asset.

Renda fixa

A mudança de patamar na taxa Selic, usada como referência para a rentabilidade na renda fixa com o CDI, é, por ora, pequena. Mas a expectativa de que vem mais aumentos por aí faz aumentar o brilho dos títulos, que vinham sendo renegados.

"A renda fixa volta a ser um competidor para a bolsa", diz Bernardo Zerbini, gestor responsável pela estratégia macroeconômica da AZ Quest, destacando a característica de oferecer maior previsibilidade de retornos nessas aplicações, o que agrada aos mais conservadores.

Dentre os títulos públicos, Zerbini avalia que o mais promissor no contexto atual é o Tesouro IPCA, que paga uma taxa de juros mais a inflação do período até o vencimento, o que é vantajoso em tempos de receio de aumento da inflação, especialmente se comparado com o Tesouro Prefixado, que paga uma taxa "combinada com o governo" no momento da compra. O risco é não saber quanto dessa alíquota será "comida" pela inflação até a data de vencimento.

Outro fator que tem aumentado a atratividade dos títulos atrelados à inflação é a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida eleitoral de 2022, segundo Messa, da Quasar, que notou o aumento do prêmio (juros) pagos pelos títulos com o receio do mercado financeiro com a mera possibilidade do retorno de Lula ao Palácio do Planalto.

Para Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos, os maiores riscos no momento estão nos títulos prefixados, o que aumenta seu potencial de retorno. Para quem quiser tomar mais risco na renda fixa com esses papéis a estratégia pode não sair como o planejado se a inflação continuar a subir, se o Banco Central tiver que elevar a taxa de juros mais que o esperado e se os riscos relacionados ao Brasil crescerem com a aproximação das eleições de 2022.

São muitos fatores que podem colocar o retorno potencial desses papéis em risco e é preciso ter cautela. "As pessoas que estiverem dispostas a ter um pouco de volatilidade e toparem surfar esse risco, as curvas longas de juros futuros chegam a precificar 10%", diz Zerbini.

Com os juros mais altos, o investidor também tende a se aventurar menos em títulos de crédito privado mais arriscados. Pierre Jadoul, gestor de crédito da ARX Investimentos, avalia que o retorno maior do CDI deve deixar os investidores mais satisfeitos com as taxas oferecidas por títulos bem avaliados por agências de classificação, que pagam menos por oferecerem risco mais baixo.

"Hoje tem mais vantagens aplicar em fundo de crédito privado porque existe um monitoramento constante. As empresas são seres vivos, elas mudam ao longo do tempo e o gestor desses fundos é ativo em reduzir ou aumentar o risco conforme percebe o desempenho das empresas", diz Jadoul.

Ele avalia que a chacoalhada desse mercado no ano passado ajudou a acelerar seu desenvolvimento. Assim, com maior liquidez e tesourarias de bancos mais preparadas para atuar no mercado secundário, as cotas tendem a sofrer menos em eventuais novos momentos críticos de incertezas.

Renda variável

Embora o nível mais alto dos juros não seja um chamariz de volta com força total para a renda fixa, o contexto geral já vem afastando novos aportes em ações. "Alguns investidores estão freando alocações adicionais em bolsa, mas tudo vai depender do cenário de crescimento do Brasil", diz Bernardo Zerbini.

Algumas ações listadas na bolsa tendem a ser "inflacionárias" e, no longo prazo, refletir nos seus preços a inflação do período, uma vez que as empresas repassam esses ajustes nos preços de seus produtos e serviços.

"São empresas que têm, por contrato ou motivos regulatórios, força relevante para repassar inflação ao consumidor", diz Alexandre Sabanai, que destaca as empresas do setor de energia, como Cesp e Alupar.

No varejo, Sabanai aponta Assaí e Pão de Açúcar, destacando a capacidade de supermercados repassarem aumento de preços para o consumidor com maior facilidade do que outros setores e o consumo de alimentos que sofre menos variação de demanda, já que todo mundo precisa comer.

Com a retomada da economia quando a vacinação da população avançar, Sabanai considera interessante também a ação da BR Distribuidora, que repassa os reajustes de combustíveis. "É um negócio com bastante resiliência e giro alto. A BR Distribuidora está com uma margem de segurança muito grande e está em um patamar barato olhando os múltiplos", diz.

Zerbini alerta que é preciso escolher bem as ações que poderão se beneficiar desse movimento de alta de juros e de inflação. Assim, a melhor opção, segundo ele, seria terceirizar a gestão de renda variável para gestores de fundos do tipo long biased - que têm a tendência de ficarem comprados nos ativos, mas que nem sempre fazem só isso - ou long short - que ficam em posição comprada e vendida de papéis -, que costumam ser menos agressivos e, por isso, menos arriscados, segundo o gestor.

O investimento em ações por meio de fundos colabora também para a pulverização maior da alocação com menos dinheiro. "Essa diversificação é importantíssima, é através dela que o investidor vai se sentir livre para tomar risco e não ficar travado em uma carteira que rende só o CDI. O ideal é sempre olhar no médio e longo prazo. Se olhar só 30 dias vai ficar louco", diz Zerbini.

É natural que os investidores estejam mais conservadores hoje diante das inúmeras incertezas que cercam o futuro da economia brasileira e isso acabe levando a uma aversão maior ao risco da bolsa. Para Carlos Messa, gestor da Quasar, o investidor que tem cerca de 30% do seu portfólio hoje em ações pode reduzir sua exposição e manter um caixa para as oportunidades que surgem em momentos de queda.

"A tendência é de que as pessoas, para ficarem compradas em ações, queiram um desconto maior nos ativos. Seja pelo custo de capital da empresa, que vai subir com a alta de juros, e também pela taxa livre de risco nos Estados Unidos", diz Messa, observando que o aumento de juros do Tesouro americano tende a levar para lá a enxurrada de dinheiro dos estímulos econômicos concedidos na pandemia.

Messa observa que o Ibovespa tende a se beneficiar do ciclo de alta de commodities, por ter um grande peso em sua composição de ações desse setor. Do outro lado, o impacto do aumento dos juros nos financiamento devem impactar negativamente os papéis do setor de construção civil no curto prazo.

"Em um primeiro momento o investidor sair dessas ações, mas quando ver que essas empresas continuam gerando caixa, voltam", diz Messa.

Reserva de emergência

O patamar dos juros básicos não deveria influenciar nas escolhas do investidor na hora de fazer a reserva de emergência, uma vez que ela é uma espécie de "boia salva-vidas" para momentos inesperados. Sua função é te salvar em emergências e não te deixar "rico" nem ampliar seu patrimônio.

As aplicações voltadas para a reserva de emergência devem ter baixa volatilidade, disponibilidade imediata de recurso e segurança e os investimentos que respeitam esse "tripé" são Tesouro Selic, fundos de renda fixa DI e CDBs de liquidez diária.

O Tesouro Selic permite que você resgate o seu dinheiro a qualquer momento e não sofra com oscilações do mercado, obviamente, nesse caso, se você levar o papel até o seu vencimento. Vale lembrar que desde março o Tesouro Selic não para de ser negociado, mesmo em dias de grandes oscilações que suspendem a compra e a venda de outros títulos públicos.

Os fundos indicados para a reserva de emergência são os fundos de renda fixa simples DI, que aplicam pelo menos 95% do seu patrimônio em títulos públicos.

Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) que pagam 100% de CDI (taxa que acompanha de perto a Selic) com liquidez diária também cumprem o tripé necessário para fazer parte da reserva de emergência.

A reserva de emergência deve ter o valor equivalente a seis meses de seu custo fixo mensal, mas há quem recomende até 12 meses, dependendo da sua situação de renda, se é trabalhador com registro em carteira (CLT) com um polpudo FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) ou profissional liberal sem renda fixa, por exemplo.

Fonte: Valor Investe (18/03/2021)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Este blog não se responsabiliza pelos comentários emitidos pelos leitores, mesmo anônimos, e DESTACAMOS que os IPs de origem dos possíveis comentários OFENSIVOS ficam disponíveis nos servidores do Google/ Blogger para eventuais demandas judiciais ou policiais".