Governo havia anunciado o pagamento logo após a aprovação do Orçamento, mas travou a liberação de R$ 50 bilhões após os remanejamentos no Congresso. Beneficiários lamentam a demora em receber o dinheiro extra, muitas vezes, usado para pagar dívidas
O governo prometeu antecipar o 13º salário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) logo depois da aprovação do Orçamento, mas o abono só deve cair na conta dos aposentados e pensionistas no próximo mês. É que a antecipação só será oficializada na próxima semana, depois que o Executivo concluir os ajustes necessários à peça orçamentária.
Fontes do Ministério da Economia explicaram ao Correio que a antecipação do 13º salário ficou para a próxima semana porque, antes disso, é preciso fazer uma análise mais profunda do Orçamento aprovado pelo Congresso Nacional. Antes de liberar qualquer gasto, é necessário avaliar os remanejamentos e as manobras orçamentárias para aumentar o valor destinado às emendas, tirando dinheiro, inclusive, da Previdência. “A antecipação do 13º salário não representa um gasto novo, pois a verba já estava previsto no Orçamento, mas afeta o fluxo de recursos. Por isso, foi preciso parar para analisar o todo antes. Mas, na próxima semana, sai com certeza”, disse uma fonte da equipe econômica.
Com o adiamento da medida, o pagamento a aposentados e pensionistas só deve chegar no fim de abril. "Geralmente, o 13º é pago com a aposentadoria, nos últimos cinco dias úteis do mês. Os pagamentos deste mês já começaram. Então, se o governo não fizer um calendário novo, vai ficar para o fim de abril", explicou o presidente do Sindicato de Aposentados, Idosos e Pensionistas, João Inocentini.
Inocentini disse, no entanto, que a expectativa pelo 13º salário é grande. "Muitos aposentados estão sustentando a família, já que a pandemia deixou muita gente desempregada. Por isso, muitos estão endividados e querem usar esse dinheiro para colocar as contas em dia", explicou. A aposentada Vera Lúcia Borges, 64 anos, acrescentou que, neste momento de pandemia, ainda é preciso manter os gastos com a saúde em dia para evitar maiores problemas. "Eu até gostaria de investir, mas, no momento, não é possível. Eu ganho pouco e preciso comprar remédios e pagar alguns exames clínicos, além das despesas do dia a dia, como água e luz. Por isso, as contas nunca ficam em dia", lamentou.
Vendas no comércio
Por conta disso, o comércio não espera receber uma boa parte desse dinheiro. "A renda dos aposentados é cada vez mais importante na composição de renda familiar e o comprometimento de renda dos brasileiros está crescendo. Por isso, esse recurso vai ser mais direcionado para a quitação de dívidas do que para o comércio", comentou o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes.
Para Bentes, o benefício pode ajudar a "suavizar", com o auxílio emergencial, a desaceleração do consumo instalada pelo agravamento da pandemia de covid-19. Porém, não será suficiente para turbinar as vendas nos próximos meses e pode fazer falta no fim do ano. "No ano passado, a antecipação do 13º dos aposentados, de certa forma, ajudou a amenizar a queda da atividade no segundo trimestre do ano. Mas, no fim do ano, fez falta. O comércio caiu 6,1% em dezembro", lembrou o economista.
Fonte: Correio Braziliense (27/03/2021)
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