Sabendo que vamos viver além de um século, será cada vez mais urgente cuidar das questões mais amplas de bem-estar do bolso. Por ser algo tão novo, abre-se uma enorme oportunidade para as instituições - e para os profissionais financeiros - que sejam rápidas e não esperem 100 anos para começar a explorar o assunto.
Mas porque cargas d’água alguém deveria procurar um gerontólogo para cuidar do bolso? Eu ouvi o termo Financial Gerontology (em português, gerontologia financeira) pela primeira vez em 2018, em uma conferência que participei em Tóquio, no Japão. Era uma conferência de educação financeira que reunia associações, reguladores e autorreguladores de diversos países. Já era um final de tarde quando a palestra começou, e como o evento já acontecia há alguns dias, confesso que estava meio dispersa em meio a tanto conteúdo. Mas ao ouvir o termo imediatamente foquei toda a minha atenção no palestrante: Akiko Nomura, do Nomura Institute of Capital Markets Research, que alguns anos mais tarde, a convidei para palestrar sobre esse assunto aqui no Brasil.
Mas antes de aprofundar na temática de hoje, vale entender primeiro a diferença entre a gerontologia e a geriatria para entender como esses dois conceitos podem ser importados para a nossa vida financeira.
A geriatria trata do envelhecimento humano. É uma ‘especialidade’ médica que tem como objetivo prevenir doenças e promover uma boa qualidade de vida ao longo do envelhecimento. Já a gerontologia é o estudo do envelhecimento sob alguns aspectos como os biológicos, psicológicos, sociais entre outros. Esses profissionais têm formação diversificada, que interagem entre si e com os geriatras. Em resumo, a geriatria foca nos aspectos físicos e na promoção e cuidado de saúde ao indivíduo idoso, enquanto a gerontologia visa a promoção de bem-estar de uma forma bem mais ampla ao longo do envelhecimento.
A gerontologia financeira, portanto, apesar de parecer novidade para a maioria das pessoas com quem interajo, é uma disciplina estabelecida em 1988, que foi definida pelo American Institute of Financial Gerontology como uma “Disciplina multidisciplinar com base em ensinamentos relevantes de biologia, psicologia, sociologia e demografia para compreender as questões de abrangência de riqueza ao longo da vida e as aspirações de indivíduos idosos e suas famílias.”
Entendida a diferença entra uma coisa e outra, e sabendo como isso é abordado no mundo financeiro, fica um pouco mais fácil compreender a necessidade de se ter primeiro um gerontólogo para depois pensar na escolha de um geriatra financeiro.
Algumas poucas instituições financeiras internacionais mais atentas as questões de envelhecimento de seus clientes, incluíram em seus organogramas equipes dedicadas a tal função, além de institutos criados ao redor do mundo com o objetivo de entender melhor as questões da longevidade financeira e promover a troca de conhecimento sobre o assunto. Em terras brasileiras quase nada se vê.
Sabendo que vamos viver além de um século, será cada vez mais urgente cuidar das questões mais amplas de bem-estar do bolso. Ou seja, ter primeiro um generalista que identifique as necessidades individuais e de contexto, para, em paralelo, ter um especialista capaz de encontrar soluções para cada uma delas.
Portanto, por ser algo tão novo e pouco conhecido, abre-se uma enorme oportunidade para as instituições - e para os profissionais financeiros - que sejam rápidas e não esperem 100 anos para começar a explorar o assunto.
Fonte: Valor Investe / Ana Leoni (26/03/2021)
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