O número de reclamações de usuários dobrou de 540 para mais 1 mil queixas, entre janeiro e novembro
A situação financeira da Unimed-Rio vem se deteriorando em ritmo acelerado. O prejuízo da cooperativa médica, que era de R$ 716,6 milhões no primeiro semestre, saltou para R$ 1,3 bilhão no acumulado dos nove primeiros meses de 2022, ou seja, em apenas um trimestre, o passivo aumentou 80%. Já o número de reclamações de usuários dobrou de 540 para mais 1 mil queixas, entre janeiro e novembro. A Unimed-Rio lidera o ranking de reclamações entre as operadoras de mesmo porte, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
O balanço do terceiro trimestre deste ano, divulgado há duas semanas pela ANS, mostra que as contas da operadora fluminense não fecham. A receita total somou R$ 3,8 bilhões, enquanto as despesas atingiram R$ 5,1 bilhões. É certo que muitas operadoras estão enfrentando esse descasamento devido ao aumento do uso dos convênios médicos após a fase mais aguda da pandemia. No entanto, chama atenção a linha do patrimônio líquido da Unimed-Rio que está negativo em R$ 1,9 bilhão. Esse indicador mostra que a soma dos ativos da cooperativa não consegue cobrir os passivos - o que afasta o interesse de outras operadoras em assumir o negócio e a carteira de 734 mil pessoas.
A Seguros Unimed solicitou há cerca de um mês ao Ministério Público do Rio de Janeiro para ser excluída de um Termo de Compromisso (TC), assinado em 2016, em que se comprometia assumir em 2024 os usuários da cooperativa fluminense caso esta não solucionasse seus problemas financeiros.
Procurados pelo Valor, a ANS e o Ministério Público do Rio informaram que o pedido da Seguros Unimed para ser excluída do TC será analisado em uma próxima reunião, ainda sem data definida.
Segundo fontes, a Seguros Unimed está assustada com o ritmo acelerado das dívidas e se sente como se tivesse assinado um cheque em branco, uma vez que a Unimed-Rio não compartilha informações relevantes - como as negociações de venda do seu hospital na Barra para Oncoclínicas -, como foi acordado no termo de compromisso, e em 2024 corre o riso de herdar uma carteira deficitária.
Há informações de mercado de que a Unimed-Rio está vendendo planos de saúde com preço abaixo do praticado no setor, o que num primeiro momento gera aumento de receita, mas a longo prazos traz prejuízos. A cooperativa médica nega que esteja adotando essa política comercial e informou que “os preços dos seus planos estão dentro de padrões de mercado adotados por todas as operadoras”.
Questionada sobre os resultados negativos, a Unimed-Rio afirmou que “o mercado de saúde suplementar sofreu graves impactos ao longo de 2022, afetando todos os planos de saúde. Principalmente aqueles que ainda oferecem planos individuais no mercado, já que esses produtos tiveram reajuste negativo em 2021”.
Ainda segundo fontes, a cooperativa fluminense tem pelo menos R$ 500 milhões em aberto com hospitais, clínicas e laboratórios. Parte dessa dívida foi paga há cerca de uma semana após um acerto feito com a Rede D’Or, maior grupo hospitalar carioca, e há tratativas adiantadas para quitação de débitos com a Dasa.
A Unimed-Rio também tem atrasado pagamentos com outras cooperativas médicas. Quando seus usuários são atendidos em outras praças, a Unimed local arca com o custos e depois recebe o repasse da despesa. Só no Estado do Rio de Janeiro - onde há 18 cooperativas que atendem regiões específicas - a dívida estava na casa dos R$ 90 milhões. Recentemente, esse passivo foi parcelado.
Há ainda uma insatisfação generalizada no sistema Unimed. Além da seguradora, a Unimed Nacional, a Unimed Brasil e a Federação das Unimeds do Estado do Rio entraram como corresponsáveis no TC de 2016. Outras queixas vêm de médicos cooperados da Unimed-Rio, que terão que arcar com as perdas. Nas cooperativas, os resultados do fim do ano, sejam positivos ou negativos, são compartilhados entre os associados.
Há críticas no setor de que as ações dos ministérios públicos e ANS têm sido pouco efetivas, permitindo que a situação da Unimed-Rio atinja o nível atual. O MP do Rio informou que não vai se pronunciar até a próxima reunião sobre o tema. Já a ANS destacou que desde 2016 vem renovando os regimes de direção fiscal e técnica (acompanhamento financeiro e assistencial) e suspendendo a venda de planos com reclamações acima da média. Desde ontem, 13 convênios da operadora não podem ser comercializados.
A Unimed-Rio diz “que já tem iniciativas em andamento para normalizar os pontos que geraram as reclamações e que dos 13 produtos suspensos, 9 somam, juntos, apenas 16 notificações.” Destaca que “possui uma enorme gama de produtos” e a suspensão não traz impacto a suas vendas. Acrescenta que “nos últimos anos voltou a crescer e consolidou-se como uma das líderes do mercado carioca. Vem passando também por um profundo processo de ajuste em suas contas, que incluiu cortes de custos e a venda de ativos importantes, como a antiga sede”.
Fonte: Valor (23/12/2022)
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