segunda-feira, 19 de junho de 2023

Comportamento: Viveremos muito mais! E o mercado previdenciário precisará evoluir

 


Cada vez mais nossa expectativa de vida aumenta, mas isso traz novos desafios

Como financiaremos nossa longevidade? 

Certamente haverá forte demanda por novos produtos previdenciários.

No final do mês passado, tive o privilégio de palestrar em um Workshop promovido pela CNSeg - Confederação Nacional das Seguradoras com a presença de muita gente boa demais! A plenária da qual participei foi sobre longevidade e, além de mim, palestraram a Angela Assis (Presidente da Brasilprev), Estevão Scripilliti (Diretor da Bradesco Vida e Previdência) e um ícone do mercado de previdência e seguros: Nilton Molina, atualmente presidente do Instituto de Longevidade MAG.

O artigo de hoje foi inteiramente influenciado pelo que ouvi nas falas dos meus três colegas. Dada a importância do tema, achei de ótimo tom trazer para cá. Todos chamaram a atenção para um efeito demográfico que vem se acentuando especialmente no nosso país: estamos vivendo cada vez mais. Se aliarmos esse efeito ao fato de as famílias terem cada vez menos filhos, chegaremos à conclusão de que a população de idosos não apenas tende a crescer em números absolutos, mas tende a quase explodir em termos relativos à população jovem e adulta.

Viver mais é ótimo, não é verdade? Mas isso nos traz um ponto e uma reflexão: a sociedade laboral não terá como arcar com os custos de vida da parcela cada vez mais crescente de idosos na sociedade (através, por exemplo, do INSS e do SUS). Aliás, já podemos contar com uma nova reforma da previdência em breve e, em um futuro não tão distante, estimo que o INSS terá condições de arcar apenas com o custo básico de cada aposentado, o que representará, na maioria das situações, algo bastante aquém da qualidade de vida que todos almejamos na aposentadoria.

Por esta razão, é crucial que a sociedade avance em sua educação financeira e, em especial, enraíze a cultura do planejamento previdenciário. Viver mais é ótimo, mas a notícia traz consigo a necessidade de financiar essa vida mais longeva. Claro que uma solução parcial é nos mantermos na ativa por mais tempo, gerando renda laboral por mais tempo. Mas, como disse, essa solução é, no máximo, parcial. Precisamos nos planejar hoje e construir nossa longevidade financeira desde já. Deixar para mais tarde pode se mostrar muito mais perigoso do que parece.

Sobre esse tema, escrevi um livro chamado: “Guia para sua jornada previdenciária”, que explica tudo que você precisa saber sobre planos de previdência privada, instrumentos especialmente constituídos para o nosso planejamento previdenciário que conta com benefícios (inclusive fiscais) sem comparação no mercado. O livro em versão digital é gratuito graças ao apoio que recebi do Valor Investe (e você o encontra neste link). No início deste ano, o Tesouro Nacional lançou os títulos Tesouro RendA+, igualmente destinados ao planejamento previdenciário. Explico tudo a respeito do RendA+ nesses dois artigos aqui da minha coluna: Novidade: Conheça o mais novo título do Tesouro Direto, o RendA+ e Como o novo título do Tesouro Direto será precificado?

Além da evolução em nossa educação financeira, precisaremos avançar com novos produtos que protejam a população. Neste ponto, compartilho com vocês sugestão do Nilton Molina a respeito da necessidade de, no mínimo, cinco novos produtos financeiros que teriam certamente altíssima demanda. Confesso que já havia pensado em dois deles, já havia visto outros dois deles lá fora e um deles na hora vi que fazia (e faz!) total sentido. Todos eles tratam de resolver problemas na longevidade e se configuram em soluções de proteção social. Naturalmente, um arcabouço legal precisaria acompanhar a regulação desses produtos. Vamos a eles! Usarei a terminologia apresentada pelo Molina.

  • Long-Term Care: garantiria uma renda mensal até determinada idade (ou até de forma vitalícia) por perda (parcial ou total) da autonomia física ou intelectual. Note que se trata de algo diferente do seguro invalidez por conta do nível de especificidade. Por exemplo: se um cantor passa a ter problema severo com sua voz, ele não se torna um inválido, mas perde a chance de gerar renda com o talento de cantar. O produto serviria exatamente para recompor a sua renda devido à essa perda inesperada.
  • Hipoteca Reversa: imóvel próprio vendido antecipadamente a instituição financeira (ou seguradora). Imagine que o único bem que você possua seja a sua casa própria e que você não gostaria de vender para morar de aluguel. Esse produto garantiria uma renda mensal vitalícia em troca da instituição financeira receber a posse do seu imóvel após a sua morte. Enquanto você viver, o imóvel é seu!
  • Compra Atuarial: de moradia, alimentação, saúde etc. Produto que garantiria, como diz Nilton Molina, o custeio “da última milha da vida”. Ao longo de sua vida ativa, você pagaria por este produto e, caso venha a chegar à sua última milha (definida por você, tal como, por exemplo, 90 anos de vida), teria direito a usufruir, por exemplo, de um hotel para idosos pelo resto da vida. Esse hotel proveria as condições (moradia, alimentação e saúde) para um final de vida adequado. Alternativamente, esse produto poderia prover essas condições na residência do idoso.
  • Capital Segurado de Saúde: auxílio financeiro pontual decorrente de algum evento de saúde, como por exemplo o aparecimento de um câncer ou de outra doença grave. Se, por um lado, um plano de saúde custeia (de forma parcial ou total) os gastos médicos e hospitalares, por outro, é muito usual que a pessoa perca renda por não ter como trabalhar pelo período de tratamento. Este produto serviria de apoio financeiro neste tipo de situação.
  • Capital Segurado de Sobrevivência: auxílio financeiro pontual ou vitalício que você receberia caso atingisse determinada idade avançada. Note que seria um produto atuarial e, portanto, mais barato porque você só receberia caso atingisse aquela idade. Quanto maior a idade escolhida, mais barato esse capital sairia hoje porque a probabilidade de chegar até lá se reduz. Isso permitiria que as pessoas se aposentassem por planos previdenciários com uma renda temporária (que é maior que a renda vitalícia), tendo em vista que sua longevidade estaria financeiramente protegida por este produto.
Fonte: Valor Investe e Carlos Heitor Campani (16/06/2023)

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